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Certamente, o caráter negativo da exclusão e da desigualdade pertinente ao capitalismo não pode ser negado ou desconsiderado, porém, ainda que sua lógica tenha aspectos de perversidade, também é inegável que, contraditoriamente, a ascensão social seja possível, embora nem sempre para todos. A desigualdade social, fruto da má distribuição de renda, é a prova de que o capitalismo trouxe novos problemas sociais outrora inexistentes (basta pensarmos nos problemas do meio urbano e industrializado, como a violência e o desemprego). Contudo, diferentemente da lógica estamental, numa sociedade de classes, a ascensão social por meio da escolaridade e do trabalho torna-se algo possível. Assim, a ascensão está ligada à ideia de crescimento numa escala social, de passagem para uma classe na qual as condições e a qualidade de vida são melhores que a anterior.
Porém, a ascensão não é apenas mérito de quem alcança. Enquanto fenômeno social depende de uma série de fatores e circunstâncias externas ao próprio indivíduo, ligadas ao contexto histórico, ao âmbito da economia, da política, dos governos, da capacidade técnico-científica. Ou seja, o processo de ascensão social torna-se depende de uma gama de elementos que, ao estabelecerem entre si uma relação bastante complexa, poderão favorecer ou não a constituição de condições à mobilidade social. Dessa forma, isso explicaria a preocupação dos governos em relação às questões voltadas à renda, ao crédito bancário para os trabalhadores, ao emprego, ao nível de escolaridade, de acesso a serviços, a capacidade de compra das pessoas dos chamados bens duráveis, dentre outros aspectos que indiquem ou possibilitem a melhora da qualidade de vida.
Logo, a ascensão social é um fenômeno social que se dá na sociedade e é almejado sempre pelas classes trabalhadoras, que, embora não sejam plebeus como outrora existiam naquela Europa da Idade Média, estão também entre os que mais sofrem, pagam impostos e levam uma vida de privações e limitações. Embora existam discussões acerca disso, a sociedade brasileira neste início da década de 10 do século XXI passa por uma transformação considerável, pois o aumento do poder de compra (assim como o aumento do acesso a serviços e produtos, ao ensino superior, e outros aspectos), é um bom indicador dessa ascensão.
Segundo dados da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE), pode-se afirmar que, na última década, mais de 39 milhões de pessoas entraram na classe média, o que significa que, com essa ascensão, o Brasil tem mais da metade da população inserida agora nessa classe.
Por outro lado, infelizmente o Brasil ainda não perdeu uma de suas peculiaridades mais negativas existentes ao longo de sua história: a pecha de país das contradições e das desigualdades. Basta considerarmos a existência de mais de 16 milhões de brasileiros que ainda estão na miséria, tendo de sobreviver com uma renda per capita mensal de R$ 70, 00 reais.
Isso significa que ainda existem pessoas sonhando com o que aqui se tentou definir brevemente como ascensão social, mas que ainda não foram contempladas mesmo com todos os programas e políticas sociais existentes nas últimas décadas. Logo, espera-se que em nosso futuro a pobreza e a miséria sejam coisas do passado e que a ascensão social seja consumada na vida dos que hoje passam fome.
Paulo Silvino Ribeiro
Colaborador Brasil Escola
Bacharel em Ciências Sociais pela UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas
Mestre em Sociologia pela UNESP - Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho"
Doutorando em Sociologia pela UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas