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Saudades do Sertão
Eu nasci detrás daquela serra,
Na virada do estradão;
Inda trago o cheiro da terra
guardado no coração.
“É tarde, eu já vou indo,
preciso i’mbora, té manhã.
Mãe disse quando eu saí
“Filhinha, não demore”. (*)
Inda ouço o cantar da morena formosa,
toda faceira, cheia de prosa,
lá pras bandas do ribeirão.
“Piu-piu, passarinho,
chô-chô sabiá,
não deixa meu bem penar”. (**)
Também gente indo pra roça,
passando pela estrada;
às vezes, alta madrugada,
já começava a escutar.
Hoje vivo aqui sozinho,
não vem nem um passarinho
trazer notícia de lá.
Então me bate a lembrança
e eu choro aqui sentado;
pra manter viva a esperança
o dia todinho eu sonho acordado.
Durante o dia meu sertão é tão bonito.
O tempo passa calado pra não quebrar
a harmonia que a Natureza enfeixa;
sem fazer queixa, à tarde o Sol vai se deitar.
Durante a noite as estrelas mui brilhantes
vão novamente a Natureza emoldurar;
com fascinantes pinceladas de candura
a alva pura também vai colaborar.
Quando terminam se reúnem no horizonte,
ao Sol levante ela vão anunciar:
Pronto, Mestre Radiante,
recompomos a feição
do seu dia deslumbrante
com a nossa inspiração.
Do seu trono fulgurante
mande que o galo cante
pra despertar o sertão.
Então desponta a manhã tão sonolenta.
Qual princesinha graciosa aberta em flor,
inda boceja,
desnudando a beleza,
do seu perfume espargindo todo o ardor.
Essas imagens desde há muito me fascinam,
me recriminam, me convidam a voltar,
soltar as asas, libertar o pensamento,
(Que sofrimento, como é triste recordar!).
Choro quando a Estrela D’Alva
faz surgir o seu clarão;
sua luz aponta a estrada
indicando a direção.
Ela inda me diz baixinho:
Anda, segue o teu caminho
que eu clareio o estradão.
(*) trecho de domínio público;
(**) trecho de autor ignorado.
João Cândido da Silva Neto
Colunista Brasil Escola.com
candidojooneto@yahoo.com.br