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Devido às características naturais do território brasileiro, o assalto à sua natureza sempre permeou sua história, seja ela pré ou pós-colombiana. Nos cinco séculos de povoamento do Brasil, a história pôde vislumbrar a exploração e o quase aniquilamento de uma das mais, ou senão a mais, imponente e diversa floresta do mundo, a Mata Atlântica.
Chegado o século XX, especialmente depois da década de 1970, com o surgimento de preocupações ambientais e do movimento ambientalista em diversos lugares do mundo, de pesquisas cada vez mais abundantes que relacionam a depredação do meio ambiente pelo homem, e suas conseqüências catastróficas no presente, e quem sabe, para o futuro, nem por isso deixou-se de fazer uma exploração sistemática e depredativa da natureza, especialmente no Brasil.
Chega às casas literárias neste mês, o livro de Pedro Martinelli sobre a Amazônia, Gente x Mato, que é um amargo retrato fotografado desta região, e também um recado para o futuro de nossa sociedade.
Martinelli vive na região amazônica desde que tinha 20 anos de idade (hoje têm 58), viajou o mundo fotografando desde mulheres exuberantes a Copas do mundo de futebol, mas sempre volta à Amazônia. Sua fotografia exibe uma Amazônia sem filtros e desnuda a realidade que está em seu foco, desde o índio com pinturas simbolizando a camisa do Vasco da Gama, clube de futebol fluminense, até o desmatamento desenfreado. Seu relato à revista Veja (12 de novembro de 2008) nos remete aos relatos e crônicas dos viajantes europeus do século XVIII e XIX que cruzaram os sertões das Províncias (agora Estados) de São Paulo, Goiás, Rio de Janeiro, Minas Gerais, e tantos outros, só que com a diferença da tecnologia moderna.
Nos seus relatos, diz esse autor, que antigamente o madeireiro ia à procura de árvores exóticas e valorizadas no mercado, meio que amadoramente, quando ouvia ou avistava uma área que tinha muita madeira nobre, colocava 20 ou 30 caboclos dentro da floresta a fazer uma espécie de inventário, de onde se extraia a localização meio imprecisa da quantidade de árvores e se essa região seria economicamente explorável. Hoje, o processo é muito mais rápido e eficiente (o que também atrapalha os planos de fiscalização), o madeireiro espera a florada de “suas” árvores em potencial, por exemplo, o mogno, sobrevoa a região e, guiado sempre por essa florada, vai demarcando em seu GPS a localização destas árvores. Então segue a colocar tratores no barco rumo aos lugares demarcados, onde em seguida o trator adentra na floresta e “arranca tudo numa noite”, segundo ele.
Em outro relato, diz que na região amazônica existem televisores movidos quase que literalmente a tartaruga. Para mover seus geradores, os moradores da região trocam tartarugas (bem como outras caças) por óleo diesel, ao custo de uma tartaruga por litro de óleo, onde duras horas a assistir um programa dominical consomem um litro de óleo, ou seja, uma tartaruga.
Sua constatação é realista e choca pelo grau dessa realidade, pois, na cidade, no “mundo civilizado” é muito bonito, e até está na moda, ficar exclamando discursos prol meio ambiente, falar em sustentabilidade. Mas onde estão os reflexos disso tudo na realidade amazônica? Essa é uma grande questão a se pensar. Vamos “esquentar” a cabeça?
Por Amilson Barbosa Henriques
Colunista Brasil Escola