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A Revolta Urabi ocorrida no Egito, entre 1881 e 1882, foi uma manifestação nacionalista anticolonialista de parte da população egípcia contra a dominação estrangeira no país. Tendo como liderança principal o coronel Ahmad 'Urabi, que deu o nome à revolta, sua derrota resultou na intervenção britânica no país e no Canal de Suez, situação que seria superada apenas em 1956, quando o controle do canal passou aos egípcios.
Inserida no contexto de ascensão do imperialismo europeu na África no século XIX, a revolta era uma consequência da tentativa de modernizar a sociedade egípcia, iniciada durante o exercício do poder por Muhammad ‘Alī. Era também uma forma de superar a influência de países estrangeiros no Egito. Turcos-circassianos, sírios, franceses e ingleses controlavam os altos postos militares do exército e também cargos civis e de controle financeiro do país.
Nesse sentido, como um movimento político-social, a Revolta Urabi foi a eclosão de um sentimento nacionalista entre as classes egípcias mais bem educadas e os oficiais do exército, mas também entre o campesinato. Esse último estava sofrendo no século XIX um processo de expulsão de suas terras para o trabalho em obras estatais e também para a produção de algodão para a exportação para as indústrias capitalistas.
O Egito havia declarado uma bancarrota financeira em 1876, em decorrência da dívida pela construção do Canal de Suez. Em 1879, o quediva (vice-rei) do Egito, Isma'il, repudiou a dívida, o que levou França e Inglaterra a se colocarem contra seu governo, substituindo-o por seu filho, o quediva Tawfiq.
A escolha ocorreu em razão da aceitação de Tawfiq do controle dual das finanças egípcias por parte da França e Inglaterra. Entre uma das medidas de Tawfiq, estava a colocação de egípcios em postos estratégicos do exército. Entre os nomes dos colocados, estava o de Ahmad Urabi, como Ministro da Guerra.
Urabi passou a utilizar sua posição no intuito de limitar os poderes do quediva Tawfiq. Em setembro de 1880, Urabi, com um grupo de oficiais egípcios e com apoio da população urbana, dirigiu-se ao palácio de Tawfiq em uma manifestação. No encontro com os funcionários ingleses, franceses e o quediva, Urabi possivelmente afirmou que os egípcios não eram escravos, apontando o desejo de constituir um governo controlado pelos próprios egípcios. Sua frase “Egito para os egípcios!” inspirou o movimento subsequente, demonstrando o caráter nacionalista dos objetivos.
A pressão do exército contra Tawfiq levou-o a criar uma espécie de representatividade no governo, dando poderes legislativos à Câmara dos Deputados, um conselho consultivo que existia desde os tempos do quediva Isma'il. Nesse sentido, o movimento liderado por Urabi era um movimento nacionalista e constitucionalista, que pretendia colocar no poder alguns setores da sociedade egípcia. Mesmo com o apoio popular à participação no governo, as potências imperialistas opuseram-se à medida, colocando-se contra Urabi.
Um levante na cidade de Alexandria em junho de 1882 elevou a tensão. Europeus dirigiram-se aos navios britânicos ancorados no porto da cidade. O quediva Tawfiq percebeu o momento como oportuno para atacar Urabi, acusando-o de rebeldia, assim como a Câmara dos Deputados. Tawfiq também fugiu para os navios britânicos, sendo acusado de traição por diversas autoridades e lideranças civis e militares egípcias.
Os britânicos, sustentados pela Câmara dos Comuns, inciaram os ataques à Alexandria com o objetivo de levar novamente ao poder Tawfiq. A vitória britânica veio na Batalha de Tel al-Kabir, quando Urabi foi preso com seus apoiadores. Era o fim da revolta. Urabi foi deportado para o Ceilão, uma colônia inglesa à época, hoje conhecida como Sri Lanka. De 1882 a 1914, Tawfiq governou o Egito como uma província do Império Otomano, cuja administração ficou a cargo de oficiais turcos, mas sob profunda influência de comissários ingleses.
Por Me. Tales Pinto