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A chamada Guerra dos Mascates ocorreu em Pernambuco, entre 1710 e 1711, e enquadra-se nas rebeliões do século XVIII do Brasil colonial, ao lado de outras, como a Revolta de Felipe dos Santos, em 1720, a Inconfidência Mineira e a Conjuração Baiana. Para entender de forma satisfatória o que ocasionou esse conflito em Pernambuco, é necessário lembrar o contexto do Nordeste brasileiro na segunda metade do século XVII.
Sabe-se que os holandeses montaram na região de Pernambuco, no século XVII, um dos mais sofisticados centros de produção de açúcar da época, que contava com uma impressionante infraestrutura e um profícuo trânsito comercial entre os centros urbanos e o meio rural. Mas, em 1645, um levante nacionalista culminou na expulsão dos holandeses da Capitania de Pernambuco. As companhias holandesas, por sua vez, instalaram-se nas ilhas Antilhas, no Caribe, promovendo uma grande concorrência com o açúcar produzido no Brasil. Esse fato culminou na decadência de nossa economia açucareira.
Como forma de resolver a crise econômica gerada pela concorrência holandesa nas Antilhas, os senhores de engenho procuraram articular-se financeiramente com os mercadores dos centros urbanos, sobretudo os residentes em Recife, conhecidos pejorativamente como mascates. Entretanto, essa articulação era feita de forma arbitrária e em conluio com os representantes do poder político de Pernambuco, cuja sede, à época, ficava em Olinda.
O centro do poder político de Olinda representava, portanto, os anseios da aristocracia decadente dos senhores de engenho. Uma das medidas tomadas para remediar a situação da economia açucareira foi o aumento dos impostos sobre a população urbana. Os comerciantes (mascates) recifenses prontamente se insurgiram contra a medida. O historiador Capistrano de Abreu deixou registrada essa situação em sua obra “Capítulos da história colonial”:
“A nobreza antiga reedificou a casaria destruída, que ocupava só por ocasião das festas, pois a maior parte do ano passava nos engenhos. O Recife, graças à superioridade do porto, continuou a prosperar e adquiriu população numerosa e permanente; preferiam-no para morada os negociantes, gente que em geral procurava enriquecer depressa, para ir desfrutar a fortuna no além-mar. Os olindenses olhavam para eles com toda a soberania, de sua prosápia e de seus postos, desdenhosamente chamavam-nos mascates, e andavam sempre em rusgas por causa de contas queixando-se uns de usura e extorsão, outros de mau pagamento e má-fé.” [1]
A insurgência dos recifenses chegou ao ápice quando, em 1709, eles elevaram Recife à condição de vila, não se subordinando mais, assim, à autoridade de Olinda. Esse foi o ponto fulcral para a deflagração da guerra, haja vista que Olinda encarou a decisão dos mascates recifenses como um ultraje.
A guerra tornou-se cruenta e estendeu-se até o ano de 1711, quando a coroa portuguesa nomeou o novo governador de Pernambuco, Félix de Souza Mendonça.
NOTA
[1] ABREU, C. Capítulos da história colonial. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisa Social, 2009. p 140.
Por Me. Cláudio Fernandes