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O “drop-knee” (pronuncia-se algo como dróp-ní), que pode ser traduzido para o português como “cair de joelho” (um só joelho), de forma que o sujeito fica com um pé plantado e a outra perna com um joelho no chão, é uma forma de posicionamento do corpo que possui muitos usos. É utilizado no jiu-jitsu na luta de solo, para abaixar o centro de gravidade e fortalecer a base do lutador sem perder mobilidade. Também é utilizado por policiais para melhorar a pontaria e oferecer um alvo mais baixo e menor na hora da verdade . Na fotografia é usado para favorecer a estabilidade do fotógrafo e garantir a nitidez da foto.
Porém o uso que iremos tratar aqui é o uso “surfístico”, por assim dizer, do drop-knee. O uso mais antigo desta postura no surf que sem tem referências até hoje é nos pranchões. Quem é da galera do longboard deve conhecer o cutback ou cavada de drop-knee, onde se deita a canela da perna de trás na rabeta, mantendo o pé no mesmo lugar, na hora que for realizar a manobra. Deu pra visualizar? É um lance de estilo, coisa de tradição, porque o drop-knee surgiu na verdade de uma necessidade prática.
Antigamente, as pranchas não tinham quilha! As quilhas são uma invenção moderna, do século passado, antes se utilizava a própria forma boleada do fundo das pranchas e o próprio pé para segurar a rabeta na onda, sustentando as derrapadas. Tinha hora que o pé não dava conta da situação, então mete a perna mesmo, até onde dava, que era... o joelho. Taí, inventaram o drop-knee no surf. O longboard moderno, com suas quilhas hi-tech, não tem mais necessidade de meter o pé na água pra segurar as rabetadas furiosas dos pranchões, mas o estilo permanece para lembrar as raízes, que são a essência deste tipo de surf.
Aliás, dos que me lêem, deve haver poucos surfistas de pranchinha que nunca botaram um pé e um joelho antes de conseguir ficar em pé totalmente. Normalíssimo, natural da evolução de um surfista.
Ainda assim não esgotamos o tema. O uso contemporâneo que realmente mais me impressiona do drop-knee é o do bodyboarding . O nosso conhecido “esponja” é mal-mal tolerado por nossos amigos da pranchinha, funboard e pranchão, muito cheios de si, mas venho aqui advogar em favor do desprezado “bob esponja” não apenas porque também curto e pratico este tipo de surf, como acredito que existe um valor nesta modalidade que é negado por causa do preconceito que existe no Brasil contra os “borrachinhas”.
Disse acima que fico impressionado com o drop-knee no bodyboard, agora vou explicar . As pranchas deste tipo não possuem quilhas, então toda a tração que uma prancha utiliza para não desgarrar está nas bordas da própria prancha e nas pernas e nadadeiras do surfista. Quando o cara tá deitado, não se pode negar, é moleza, dá pra pegar as monstras que você, surfista médio de fim-de-semana, jamais pegaria, basta ter preparo pra agüentar a pancada do mar e não ter medo de ser engolido. Até que é um treino para quem quer se aventurar em ondas grandes com prancha. Veja o caso de Kainoa McGee, que é um mega-bodyboarder da geração inicial de profissionais, começou a surfar de prancha há uns dois anos e recentemente ganhou de ninguém menos que Shane Beschen num campeonato em Pipeline . Mas a questão é que a evolução não se processa apenas num único sentido, o da esponja para o surf, como se o único surf que valesse e fosse admirável fosse o de pranchinha, como se o cara só surfa de longboard porque não se garante ainda de pranchinha, assim como o funboard e o bodyboard. Não é bem assim, tá certo que é irado, tem muito valor e é muito plástico e bonito de se ver, mas vamos com calma, todos evoluem em caminhos próprios e com o bodyboard também é assim .
O que me admira no drop-knee da esponja é que neste modo retoma-se a tradição de segurar a prancha com o pé na água, o modo mais irado de se surfar de bodyboard, o mais desafiador, sem quilhas, sem o arrasto das pernas (quando deitado), só as bordas da prancha e a ponta da nadadeira para te segurar , veja na imagem número 3, a beleza do momento, o tubo perfeito, tem cara que nem sonha fazer uma coisa dessas de pranchinha e fica metendo o pau por preconceito e mau hábito. Na verdade tem cara que está detonando de drop-knee de um jeito que você nem acreditaria vai tirar um aéreo ou dropar um ondão mesmo deitado pra você ver qual é.
A moral da história é que todo o surf é válido, quando praticado em paz e harmonia com a natureza, em comunhão com a água e não lutando contra ela por vaidade ou orgulho. Temos cada vez mais surfistas de moda e menos surfistas de alma, portanto vamos dar o devido crédito aos bons bodyboarders , assim como aos bons longboarders e aos body-surfers aos canoeiros e a todos que botam alguma coisa pra andar com a energia das ondas, pois essa é a essência da coisa.
Fonte: AquaMundo
Aprendendo a Surfar - 05 de Agosto de 2.002