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A EJA e sua participação no crescimento da produtividade brasileira

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Resumo

O presente artigo tem como objetivo relacionar o aumento de produtividade sustentável com o aumento dos índices de educação. Ele deixa claro que somente o aumento de produtividade de forma sustentável pode salvar a sociedade e nossa espécie. Comenta também os desafios futuros e o papel da educação neles, principalmente através da redução do analfabetismo e analfabetismo funcional. Esclarece que a metodologia da EJA pode ser essa ferramenta de concretização, ao reduzir os ruídos sócio-culturais no processo de aprendizagem e que pode inclusive, ser aplicada para outros níveis de educação.

A OIT – Organização Internacional do Trabalho, através da quinta edição de seu KILM (Key
Indicators of the Labour Market) publicou alguns índices preocupantes para o Brasil nos quesitos produtividade da mão-de-obra. A OIT afirma que a produtividade do trabalhador brasileiro caiu em 25 anos. Enquanto ela era de US$ 15.100/ano em 1980, em 2005 ela foi para US$ 14.700/ano.

Ademais, a fonte cita ainda, que a produtividade brasileira por trabalhador é uma das mais baixas da América Latina. Por exemplo, no caso da Argentina ela foi de US$ 24.700/ano e a do Chile, de US$ 30.700/ano por trabalhador. E quando comparada aos Estados Unidos, a OIT afirma que em 1980 a produtividade industrial brasileira equivalia a 19% da americana, enquanto que 20 anos depois, ela passou a meros 5% .

Mas afinal, o que é produtividade?

Produtividade, segundo Paulo Sandroni, é o “resultado da divisão da produção física
obtida numa unidade de tempo (hora, dia, ano) por um dos fatores empregados na produção (trabalho, terra, capital) (1996, p. 341).” Ou seja, quanto mais produza num determinado tempo, mais produtivo é um trabalhador, um equipamento, um processo qualquer, quando comparado a outro. A produtividade, a grosso modo, significa mais. Sandroni também menciona que “é importante notar que a produtividade tende a ser maior nas empresas de capital intensivo e menor nas de trabalho intensivo (1996, p. 342).” O que significa, uma maior produtividade obtida através da mecanização em relação à atividade manual, e que “muitas vezes a intensificação da produtividade pela adoção de melhorias tecnológicas tem repercussões sociais negativas, uma vez que pode causar desemprego (SANDRONI,1996, p. 342)”.

A mecanização no passado, era vista como uma forma de reduzir a carga de trabalho que cada um deveria executar a fim de atender suas necessidades. A conclusão óbvia é que deveríamos trabalhar cada vez menos na sociedade moderna. Infelizmente a coisa não foi bem assim.

Ao invés de redução de trabalho, o que hoje vemos é “uma divisão entre desempregados e sobrecarregados (2000, p. 113)”, nas palavras de David Cohen. O autor afirma que “o que impede a distribuição do trabalho é que as nossas necessidades aumentam à medida que são satisfeitas (2000, p. 116)”. O autor cita Michael Dertouzos, chefe do Laboratório de Ciência da Computação do MIT que afirma: “se a natureza humana for deixada solta, a tentação de ter mais coisas e usar mais serviços vai prevalecer, e adeus à sociedade sem trabalho (COHEN, 2000, p. 116)”. Isso quer dizer que é nossa culpa estarmos sobrecarregados e outros desempregados, na miséria? Essencialmente sim. Cabe deixar claro, que funcionários e patrões, apesar do antagonismo milenar existente, são inter-relacionados sendo que um depende do outro. Sem capital não há empresa e sem funcionários, também. E sem empresa, não há empregados nem patrões. Pelo fato dos personagens desta história serem pessoas e, como tal passíveis de ambição humana, é natural que o cenário empresarial seja bastante concorrido e conturbado, havendo atitudes disparatadas de ambos os lados, que em geral não fazem outra coisa, senão prejudicar o desempenho da organização e os resultados que eles mesmos procuram alcançar.

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Não podemos esquecer também, que conforme aumenta a produtividade na sociedade humana, o desequilíbrio ecológico se torna cada vez maior, decorrente da busca por matérias primas e pelo lixo resultante do processo e do consumo. Então, de que adianta aumentar a produtividade, se ela não traz benefícios visíveis às pessoas nem à natureza?

Por que aumentar a produtividade?

Apesar disso, não devemos esquecer que, o aumento da produtividade é a única maneira de proporcionar alimento, vestuário, condições de vida enfim, a um mundo cada vez mais populoso e caótico. Infelizmente seu efeito colateral é a degradação da natureza que isso acarreta
e a possibilidade real de nossa extinção.

Imaginemos uma sociedade industrial, semelhante à existente em 1920, que tivesse de alimentar e cuidar de nossos 6,4 bilhões de habitantes, sem poder contar com maquinário avançado, fertilizantes químicos, pesticidas industrializados e principalmente, medicamentos sofisticados e em abundância. Malthus, já afirmava em 1798, que “...a população, quando não controlada, cresce numa progressão geométrica. Os meios de   ubsistência numa progressão aritmética (1996, p. 246).”

Isso quer dizer basicamente, que enquanto a população tende a crescer multiplicando-se
(ou seja, um homem e uma mulher dão origem a um ou mais novos seres e assim por diante), os meios de subsistência (alimentos, roupas, moradia) crescem somando-se apenas (posso confeccionar mais x peças de roupa ou produzir mais y quilos de feijão). Malthus via que a procriação em muito superaria a produção. Felizmente, o crescimento vegetativo humano não foi tão acelerado quanto ele imaginava e as novas conquistas tecnológicas supriram o aumento da demanda.

Mas, pouco mais de dois séculos depois, o drama volta à baila, com o agravante do desequilíbrio ecológico e da falta d’água potável, das doenças emergentes e da superpopulação, muitas delas ocasionadas pelas próprias conquistas tecnológicas que fizemos. Segundo o físico e escritor austríaco, Fritjof Capra, um dos ícones da chamada Nova Era, “a visão do mundo e o sistema de valores que estão na base de nossa cultura, e que têm de ser cuidadosamente reexaminados, foram formulados em suas linhas essenciais nos séculos XVI e XVII (1995, p. 49)”.

O autor crê, muito acertadamente em minha opinião, que as atitudes humanas devem alterar-se sob risco de desaparecimento iminente de nossa sociedade e quiçá, da própria espécie. Essa alteração abrange novas formas de pensar e de agir, tratando o planeta de maneira melhor e auto-sustentável, fazendo mais com menos recursos. Isso parece ir contra o aumento de produtividade.

Nada mais errado. O aumento de produtividade não precisa passar pela destruição ambiental, nem pelo desaparecimento da espécie. Basta que novos valores sejam levados em conta quando o risco de prejuízo ambiental e social, visando apenas o lucro imediato, vem à tona. Hoje ainda imagina-se que quaisquer meios devam ser utilizados para aumentar os lucros. Se o problema for de falhas administrativas, cortemos pessoal para compensar. Se custa muito dar destino correto aos dejetos industriais, vamos jogá-los fora, num terreno baldio, quando ninguém estiver olhando, pouco importa o mal que causem desde que haja vantagem financeira.

Felizmente, essa visão está mudando globalmente, apesar que muito lentamente para evitar os estragos, mas, já é um começo. A criação da norma ISO 14000, visando o “manejo ambiental”, que significa “o que a organização faz para minimizar os efeitos nocivos ao ambiente causados pelas suas atividades (ISO, 2000)” . É uma prova dessa mudança de visão. Se for tarde demais para a mudança, só o tempo dirá.

Não é só o meio ambiente que é agredido no processo. O ser humano também. Muito se
fala da necessidade de maior produtividade da mão-de-obra para atender a globalização da economia. Mas o que isso realmente significa? O que isso faz pelo cidadão comum? Pranab Bardhan, professor de economia da Universidade de Berkeley, cita que “estados
fracos, regimes não confiáveis, concentração de renda, políticos ineptos ou corruptos e burocratas se combinam para minar as oportunidades dos pobres. A abertura dos mercados sem solucionar esses problemas domésticos força as pessoas a competir de mãos atadas. O resultado pode ser ainda mais pobreza (2006, p. 88).”

Tomemos por exemplo o Brasil. Nossos governos jamais tiveram a visão da amplitude do
processo de aprimoramento da mão-de-obra. No passado, quanto mais ignorante uma pessoa, mais facilmente era controlada e dominada. Isso incentivava que governos inescrupulosos e autoritários permanecessem no poder. Hoje, diante das demandas globais, o que vemos é uma profusão de mão-de-obra desqualificada, que não consegue competir com a mão-de-obra estrangeira em inúmeros setores. Um funcionário brasileiro é, em geral, menos produtivo que um chinês ou hindu. Isso nos faz estagnar.

A manchete “Brasil busca receita de crescimento”, veiculada no Estado de São Paulo de
21 de maio de 2006, ilustra o que digo, quando afirma que “em 25 anos, PIB do País cresceu 85%, enquanto o da China multiplicou-se por 10 e o da Índia quadruplicou.”  O artigo cita que “completar o ajuste fiscal, com redução das despesas, melhorar a qualidade do Estado, investir em educação e pôr em prática uma política industrial voltada para a inovação...são algumas das principais recomendações – detalhadas durante o 18º Fórum Nacional, organizado pelo ex-ministro do Planejamento João Paulo dos Reis Velloso, no Rio – para desvendar o que é considerado um enigma por muitos economistas: por que o Brasil interrompeu a trajetória de crescimento acelerado na década de 80 e nunca mais retomou um ritmo aceitável na comparação com outras economias emergentes? (DANTAS, 2006)”

Em que nosso país difere do deles? Na educação de seus cidadãos. Inclusive até na distribuição de renda. E indiscutivelmente, eles tem problemas bem maiores que os nossos nos quesitos superpopulação, disponibilidade de área cultivável e abundância de recursos naturais!

***
Um dos homens de maior visão que o século XX teve foi, sem dúvida, Henry Ford. Ele
revolucionou as formas de produção inventando a linha de montagem -- onde cada funcionário era responsável por apenas algumas tarefas específicas (não há como esquecer a imagem de Carlitos apertando parafusos numa fábrica no filme Tempos Modernos de 1936) -- o que permitiu o desenvolvimento fantástico que a indústria automobilística experimentou (e outras que aderiram à sua invenção), além de abrir inúmeros postos de trabalho e contribuir para a melhoria do bem-estar de legiões de operários. Ele estabeleceu um valor para seus carros, baixíssimo para os padrões da época, quando comparado aos concorrentes - US$ 750 por unidade para o modelo T (DRUCKER, 1999, p. 23) - reduziu custos na cadeia produtiva de forma a conseguir obter lucro mesmo vendendo a esse valor -- um achado em matéria de administração de negócios -- e o principal, ele via seus próprios funcionários como clientes em potencial para seu produto.

Se Ford já havia descoberto então a forma de aumentar seus ganhos e sua produtividade
através do uso da mão-de-obra, inclusive tornando seus funcionários os compradores potenciais de seus produtos, ou seja incluindo-os no círculo virtuoso do negócio, por que isso foi esquecido com o passar do tempo? Por que o Brasil não seguiu a idéia e fortificou seu mercado interno? Por que não investiu adequadamente em sua gente?

A produtividade e o futuro da sociedade

Fica bastante claro então, que somente o aumento da produtividade, de forma ecologicamente e socialmente responsável, pode fazer com que haja um futuro para nós. As guerras no passado eliminavam grande parte da população, o que permitia um reequilíbrio dos recursos existentes, além de propiciar avanços tecnológicos incríveis, pois não se pensava no quanto ia custar o esforço de guerra. Esta já não é mais a forma adequada de se agir. Guerras hoje, são apenas sorvedores de recursos humanos e naturais, nada maisacrescentando à humanidade.
Entretanto, a idéia de se fazer cada vez mais com menos, propicia uma visão equilibrada e moderna de nossas possibilidades. O futuro não poderá mais absorver fortunas individuais imensas, à custa da pobreza de milhões, nem a manutenção da miséria em que se encontram esses potenciais consumidores e novos empreendedores.

O futuro, tão pouco poderá permitir que a raça humana continue a explorar o planeta da
maneira predatória com que temos feito. Sabemos hoje que os recursos naturais são limitados e que em breve, nossas reservas mundiais de água potável, recursos minerais e energéticos, como o petróleo por exemplo, terminarão. Mesmo hoje em dia, com a incrível demanda, torna-se cada vez mais caro explorar novos lençóis de petróleo e novas jazidas naturais, uma vez que a dificuldade de exploração tem aumentado exponencialmente: novas jazidas estão cada vez mais profundas e afastadas, o que demanda mais trabalho, maquinário e transporte, encarecendo o produto final. Deveremos dar atenção cada vez maior à reciclagem dos dejetos industriais e
humanos, a fim de evitarmos o colapso, pouco importando o caro que isso venha a ser.
Em conjunto, cada m2 de área cultivável terá de alimentar cada vez mais bocas e não
poderemos nos dar ao luxo de depender do clima e da sorte para isso. Teremos de escolher: transformar nossas pastagens em campos agrícolas e deixarmos de consumir carne, ou aprimorar o cultivo de tecidos animais para alimentação em fábricas e produtos agrícolas em fazendas hidropônicas.

O mar também não poderá nos ajudar. Além de poluído, as reservas de pescado estão cada vez menores e não há, a curto ou médio prazo, esperança de que isso mude.
Portanto, apesar do quadro ser sombrio, caberá ao engenho humano e ao aumento de
produtividade decorrente, a sobrevivência de nossa espécie e a possibilidade de haver algum futuro para nós e nossa sociedade.

O analfabetismo funcional

Em 17/11/05, numa quinta-feira, no programa Atenção Brasil transmitido pela Cultura
FM, ouvi uma entrevista com o Dr. José Aristodemo Pinotti, à época Secretário da Educação de São Paulo, que dizia que “há várias crianças não alfabetizadas na 3ª série”.
O que aparenta ser um horror, é na realidade, bem mais comum do que deveria:
Domingo, 17 de setembro de 2006, no Caderno Nacional de O Estado de São Paulo, uma
manchete saltou aos olhos: “Taxa de analfabetismo reduz ritmo de queda no governo Lula”. O autor Fernando Dantas conseguiu deixar clara a crueza dessa realidade através de índices reais, obtidos de fontes tais como o PNAD/IBGE:

Segundo a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios de 2005), o
analfabetismo vem registrando queda, de 1992 até 2002, de 0,5 % ao ano. Nos últimos anos essa queda ficou em 0,3 % ao ano, ou “em termos absolutos, havia 14,8 milhões de analfabetos em 2002 e, em 2005 esse número tinha caído apenas para 14,6 milhões”. Os números são explicados apenas por variações demográficas, o que implica que esses 0,3% de redução ao ano se devem principalmente pela morte de idosos analfabetos.
Segundo Dantas, “esses resultados...estão deixando perplexo o governo, que gastou, entre 2003 e meados de 2005, um total de R$ 330 milhões para alfabetizar 3,4 milhões de adultos, por meio do programa Brasil Alfabetizado”. Uma das possibilidades para explicar tal contra-senso segundo a matéria, seria, nas palavras do Secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do Ministério da Educação, Ricardo Henriques, “que o programa está atraindo muitos analfabetos funcionais, mas que não são absolutos.”

O Instituto Paulo Montenegro (IPM), braço social do Ibope, define, segundo a matéria de
Dantas, um alfabetizado funcional como sendo a pessoa “capaz de utilizar a leitura e a escrita para fazer frente às demandas de seu contexto social e usar essas habilidades para continuar aprendendo e se desenvolvendo ao longo da vida”. A matéria menciona ainda, que além de não haverem estatísticas precisas do número de analfabetos funcionais no Brasil, dependendo do “rigor do conceito” pode estimar-se um percentual de 25% a 75% dos brasileiros. Ou seja, dependendo do critério adotado, o analfabetismo funcional brasileiro pode atingir de ¼ a ¾ da população do País!



Mais recentemente, o jornal Destak publicou uma entrevista com o cientista político
brasileiro Alberto Carlos Almeida, autor do livro A Cabeça do Brasileiro. Nessa entrevista, o cientista político afirma que “a sociedade brasileira tem os governantes que merece” e diz categoricamente que, “como o brasileiro tolera a corrupção, há muitos escândalos.” Um dos principais motivos citados por ele para essa tolerância, está basicamente na baixa escolaridade, ou seja, “menos instrução, menos democracia”. É natural que a queda observada pela OIT na produtividade brasileira, seja um reflexo direto desse panorama triste em que se encontra a população brasileira.

O próprio meio em que vive o brasileiro não incentiva a educação. Seja pelas dificuldades
de sobrevivência, que enviam um contingente cada vez maior de jovens ao subemprego em detrimento da educação, seja pelo imediatismo em obter resultados, e que infelizmente, só podem ser obtidos a longo prazo, através de carreiras sólidas e estruturadas, a idéia que se passa aos jovens, é que a educação não faz diferença para o sucesso de um indivíduo, ou seja, que a chamada “escola da vida” é o que realmente funciona. E não são incomuns “exemplos de sucesso” bem pouco edificantes... Aliam-se a preguiça em aprender formalmente, comum na juventude, ao descaso da sociedade em geral em relação à educação, para tratar algo que é fundamental e inerente ao ser humano – o aprendizado – como algo supérfluo, aborrecido, que “não terá uso prático” na vida das pessoas.

Muitos pais querem que seus filhos estudem, a fim unicamente, de obter um pedaço de
papel após alguns poucos anos de estudo formal e “exigido” pela sociedade. Esperam com isso, que seus filhos tenham “uma vida melhor que a deles”. Não estão muito interessados nas portas que a base do saber formal pode lhes abrir, nem nas pessoas que seus filhos podem vir a se tornar após adquirirem a capacidade de gostar de aprender coisas novas e a pensar por si mesmos, fundamental para a sobrevivência dos seres humanos. Através do incentivo a essas atitudes, o Brasil continua perdendo a chance de fazer a diferença num mundo globalizado. Fica à mercê de políticos e empresários desonestos, que utilizam a ignorância das massas em proveito próprio, como estamos cansados de ler, ouvir e ver nos noticiários.

O papel da Educação de Jovens e Adultos (EJA) no processo de reversão desse quadro
Felizmente, esse quadro negativo pode e vem sendo revertido aos poucos.
Diante de campanhas lançadas por entidades internacionais como a V Conferência
Internacional sobre Educação de Adultos - Confintea de 1997 e outras, os países estão ficando conscientes da necessidade da erradicação do analfabetismo no mundo para que o tão almejado aumento de produtividade e a sonhada competitividade internacional em um mundo cada vez mais globalizado realmente ocorra.

Na Confintea, a Declaração de Hamburgo sobre Educação de Adultos, preconiza
essencialmente:
“...A efetiva participação de homens e mulheres em cada esfera da vida é requisito fundamental para a humanidade sobreviver e enfrentar os desafios do futuro.
2. A educação de adultos, dentro desse contexto, torna-se mais que um direito: é a chave
para o século XXI; é tanto conseqüência do exercício da cidadania como condição para
uma plena participação na sociedade. Além do mais, é um poderoso argumento em favor
do desenvolvimento ecológico sustentável, da democracia, da justiça, da igualdade entre
os sexos, do desenvolvimento socioeconômico e científico, além de ser um requisito
fundamental para a construção de um mundo onde a violência cede lugar ao diálogo e à
cultura de paz baseada na justiça... (1999, p. 19)”

Os esforços brasileiros atuais, em especial o Programa Brasil Alfabetizado, de 2003, são
os maiores que o Brasil já fez para erradicação do analfabetismo. Esses esforços entretanto, seriam apenas letra morta, caso não houvesse a participação da sociedade civil. É graças a entidades como a Associação Alfabetização Solidária – ALFASOL, que esse e  outros programas de interesse para nossa sociedade conseguem ser implementados. Fundada há 11 anos, a ALFASOL tem se destacado como um modelo nacional em Educação de Jovens e Adultos.

Essa modalidade de ensino pode e deve ser estendida, do ponto de vista metodológico, a
outras modalidades existentes. No que diz respeito principalmente ao aproveitamento da “história de vida” de seus participantes e, em seu uso no processo de aprendizagem, a EJA demonstra sucessos semelhantes aos obtidos nos processos de etnoaprendizagem. É notório que o conhecimento humano é uma escada construída sobre os degraus colocados por nossos antepassados étnicos e/ou culturais. O homem não precisa reinventar a roda a cada geração. Mas pode melhorá-la.

Um dos maiores problemas enfrentados pelos estudantes, e eu me coloco nesse meio
quando recordo as dificuldades iniciais com números e outros conceitos um tanto quanto
abstratos, é que a capacidade de exemplificação de cada professor era o que nos fazia aprender ou não os conceitos dados. Foi a partir de meus estudos sobre a história grega, que conceitos como o dos teoremas clássicos ficaram mais claros. O fato de saber como viviam e como pensavam, me proporcionou um maior entendimento sobre seus cálculos, que eram uma incógnita à época em que os aprendi, pois não lhes conhecia a utilidade. Da mesma forma, um professor que não domina os conceitos culturais de seus alunos, não consegue, na maior parte das vezes, fazer-se entender a contento. Não porque os alunos sejam ignorantes, longe disso, mas simplesmente porque sua realidade cultural é tão diferente da do professor, que os dois não conseguem falar a mesma língua, mesmo ela sendo o português. São os assim chamados ruídos da comunicação.

Nas palavras de Ubiratan D’Ambrosio, professor dos programas de Pós-Graduação em História da Ciência e em Educação Matemática da PUC de São Paulo:  “o Brasil destacou-se juntamente com os Estados Unidos, pelo potencial da etnomatemática na educação. Em sintonia com o pensamento de Paulo Freire, ela demonstrou que, além da importante pesquisa sobre o saber e o fazer matemático de várias culturas, abordado nas dimensões etnográfica, histórica e epistemológica da etnomatemática, dá-se igual importância à dimensão pedagógica, uma vez que ela propõe uma alternativa à educação tradicional(2005, pág. 9). ” A idéia, portanto, não é de desprezar o saber acadêmico tradicional, mas sim de, complementá-lo quando necessário, com uma abordagem etnológica, a fim de aproveitar  os conhecimentos dos alunos como feedback para a reestruturação do conceito pedagógico utilizado.

Dessa forma, a EJA, além de ser um modelo pedagógico indispensável para vencer o
desafio do analfabetismo brasileiro de uma vez por todas, também pode ser considerada uma metodologia base para a formação de alunos e professores para os níveis elementar e médio. Dessa forma, esses docentes poderão entender melhor e vencer as barreiras de aprendizagem de seus alunos. Afinal, o que se deseja é que as pessoas aprendam a aprender. Só assim o conhecimento poderá ser multiplicado e plenamente utilizado. Isso vem diretamente ao encontro do interesse nacional em aumentar a produtividade e a
competitividade do país ao nível internacional.

Referências Bibliográficas

Bardhan, Pranab. A Globalização é Boa ou Ruim para os Pobres? Scientific American Brasil nº 48. São Paulo: Duetto Editorial. Maio de 2006.
Capra, Fritjof. O Ponto de Mutação. São Paulo: Cultrix, 1995.
Cohen, David. Equilíbrio Distante - Exame / A Empresa do Novo Milênio. São Paulo: Abril,
2000.
Confintea. Declaração de Hamburgo – Agenda para o Futuro. Brasília: SESI/UNESCO, 1999.
D’Ambrosio, Ubiratan. Volta ao Mundo em 80 Matemáticas. Scientific American Brasil
Edição Especial nº 11. São Paulo: Duetto Editorial. 2005.
Dantas, Fernando. Brasil Busca Receita de Crescimento. O Estado de São Paulo. 21 de maio de 2006.
_____. Taxa de analfabetismo reduz ritmo de queda no governo Lula. O Estado de São
Paulo. 17 de setembro de 2006.
Drucker, Peter. Sociedade Pós-Capitalista, São Paulo: Pioneira, 1999.
Malthus, Thomas Robert. Ensaio Sobre a População - Os Economistas. São Paulo: Nova
Cultural, 1996.
Sandroni, Paulo. Dicionário de Economia e Administração. São Paulo: Nova Cultural, 1996.
Santos, Fábio. Entrevista com o cientista político Alberto Carlos Almeida. Destak. 10 de
setembro de 2007.

Fontes na Internet
OIT / KILM - http://www.ilo.org/public/english/employment/strat/kilm/index.htm. OIT, 2005.
ISO 14000 – Gestão Ambiental. www.cnpma.embrapa.br. ISO, 2000.

Por Henrique Montserrat Fernandez
Colunista Brasil Escola

Escritor do artigo
Escrito por: Tiago Dantas Escritor oficial Brasil Escola

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

DANTAS, Tiago. "A EJA e sua participação no crescimento da produtividade brasileira"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/economia/a-eja-sua-participacao-no-crescimento-produtividade-.htm. Acesso em 21 de novembro de 2024.

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