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Hoje em dia, vemos que o cinema e a televisão possuem o incrível poder de criar um forte elo de identidade com seus espectadores. Alguns personagens de novelas e filmes acabam fixados na memória do público pelo uso de expressões que são rapidamente incorporadas ao cotidiano. Por mais que isso pareça e seja trivial, vemos que as manifestações artísticas ocupam um espaço significativo no comentário e, principalmente, na fala cotidiana.
Longe de ser uma experiência moderna, a incorporação de expressões calcadas por personagens ficcionais é bem anterior ao “boom” do cinema e da teledramaturgia. No século XIX, Luís Carlos Martins Pena, teatrólogo e fundador da comédia de costumes brasileira, foi responsável pela invenção da expressão “rasgar seda”. Como todos sabem, o termo é geralmente utilizado para dizer que alguém se derramou em elogios para outrem.
Em uma peça sem título, o autor cria uma história em que um vendedor de tecidos vai até a casa de uma senhorita para lhe oferecer suas mercadorias. Na verdade, a sessão de venda nada mais era que uma desculpa esfarrapada para que ele pudesse admirar e cortejar a dama de seus sonhos. No encontro, o vendedor não se cansa em proferir os mais extensos adjetivos em tributo à beleza de sua amada. Percebendo a situação, a jovem alerta: “Não rasgue a seda, que se esfiapa.”.
No simples aviso, a jovem queria dizer que o excesso de elogios a ela dedicados, poderiam justamente fazer com que perdesse o interesse no vendedor. De fato, se bem vasculharmos o nosso passado, podemos ver que a “rasgação de seda” começa bem na chegada dos portugueses. Ao descrever as terras descobertas, Pero Vaz de Caminha não economizou nos elogios e outros predicados que valorizassem o feito patrocinado pelo rei de Portugal. Será que pegamos essa mania dos nossos patrícios?
Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola