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Mês de férias, de entressafra de nossas ocupações temporais, é mês de dedicar-se a si mesmo. Entenda “dedicar-se si mesmo” como se dedicar ao que gostamos. Em meu particular caso, dediquei-me ao cinema.
Não por que entenda de cinema, mas por que gosto. Percebi que gostar de cinema e entender de cinema são coisas que nem sempre caminham juntas. Classificar um filme é diferente de julgar a destreza de alguém falando um outro idioma. Por exemplo, seria impossível dizer se uma pessoa fala bem o javanês, sendo que não conheço nada da língua. Mas é perfeitamente aceitável considerar um filme bom, mesmo sem dominar a arte, sem identificar a escola ou estilo, sem conhecer o autor em especial ou as habilidades do diretor. É claro que essa regra não vale para os aficionados do troféu careca.
Aqueles que entendem de cinema, geralmente possuem um ar erudito com estranhos óculos. Discutem enquadramento, fotografia, decupagem e sei lá mais o que.
Para mim, a graça está no produto, e não em sua fabricação.
Quem não se lembra do “E. T. telefone, minha casa”, onde em 1982 aquele simpático bichinho estranho com o longo dedo torto virava febre nas escolas de todo o mundo. Ou ao se despedir, nunca disse “Hasta la vista, Baby”, onde essa ultima fala do Schwarzenegger em “O Exterminador do Futuro 2” configurava-se um fenômeno linguístico global, pois se misturava o espanhol e o inglês, nos mais diferentes sotaques.
E por falar em Baby, foi do cinema que herdamos essa expressão. No Brasil, ao fim da década de 30, a expressão febre era “alô, alô!”. Essa interjeição ficou famosa e eternizada nos clássicos Alô, Alô, Brasil de 1935 e Alô, Alô, Carnaval de 1936, ambos protagonizados pela pequena notável, Carmem Miranda. E há quem não saiba ainda “o que é que a baiana tem”. E quem não lembra da canção de Noel Rosa de 1933, que dizia: “... o cinema falado é o grande culpado da transformação”.
Agora você deve estar me questionando, sobre o por que de só citar filmes “antigos”. A resposta é simples, está na essência. Pense nas propagandas de TV, nos craques de futebol, nas obras de arte. Os exemplos possuem o limite tendendo ao infinito. Antes se tinha a ideia, e para mostrar, desenvolviamos as ferramentas. Hoje temos as ferramentas, mas quando esprememos todos esses trabalhos, tirando toda essa capa tecnológica, não encontramos nem resquícios de grandes ideias. Aprender a tocar um instrumento hoje, é ridiculamente mais fácil, desenhar no computador e imprimir com boa qualidade também. Criar efeitos especiais é mais questão de investimento do que de genialidade. Antes a ideia era protagonista do filme, hoje divide as cenas com tantos personagens que mais parece um figurante. Sorte isso ainda não ser a regra geral.
Do inesquecível Star Wars, de 1977, “Que a força esteja com você!” ficou a recomendação que venceu o prazo dos seis meses, que comumente possuem essas expressões e avançou alem da “galáxia muito distante”. Como “I am your father” (eu sou seu pai), de Darth Vader no Episodio V – O Império Contra-Ataca.
Quem não lembra quando Rhett Buffer diz a Scarlett O´Hara: “Frankly, my dear, I don´t give a damn”. Dizem que essa frase não estava planejada, e nem deveria ter sido dita, pois o termo “damn” era considerado vulgar (praticamente pesado) demais para época, algo como em bom português: “Francamente, querida, estou pouco me lixando”. Lembre-se que estamos falando de 1939.
Quantas vezes você já usou a frase “Eu vou fazer uma oferta que ele não poderá recusar”, de O Poderoso Chefão? Ou ao estar perdido em uma viajem, não disse: “Toto, eu tenho o pressentimento que não estamos mais no Kansas” ( O Mágico de Oz).?
Você já definiu o amor como em Love Story (“Amar é nunca ter que pedir perdão”)? Ou disse que essa é “a substância de que são feitos os sonhos.” (O Falcão Maltês). Ao encontrar um novo amigo, enfim “Loius, eu acho que este é o começo de uma bela amizade”. (Casablanca).
Também não é difícil encaixar a famosa frase de O Silencio dos Inocentes: “um pesquisador de censo tentou uma vez me testar. Eu comi o fígado dele com feijão preto e um bom chianti”, em um de nossos diálogos corriqueiros.
Ou, ao fim de uma exaustiva jornada de trabalho, sentar no sofá e dizer: “não há lugar como a nossa casa” (O Mágico de Oz). Ou ao cobrar a dívida de alguém, gritar como Tom Cruise em Jerry Maguire: “Me mostre a grana!”. E por falar em Tom Cruise, lembram do “Você quer a verdade, você não aguentaria a verdade!”, que o Jack Nicholson lhe disse em Questão de Honra?
Que tal frases que nos fazem pensar, como em Forest Gump: “Mamãe sempre disse que a vida é como uma caixa de chocolates. Você nunca sabe o que vai pegar” ou . “O melhor amigo de um garoto é a sua mãe” (Psicose). “Carpe diem. Aproveitem o dia, meninos. Façam de suas vidas uma coisa extraordinária.” (Sociedade dos Poetas Mortos).
E por falar em mortos, que tal “Eu vejo gente morta” de O Sexto Sentido. Para quem não viu o filme ainda, saibam: O Bruce Willis é que está morto.
Poderíamos ficar um bom tempo nisso, nosso acervo cinematográfico é gigantesco, e nem temos tanto tempo assim de cinema. Frases clássicas como: “Houston, nós temos um problema.”, de Apolo 13, vão ficar para sempre na memória. E ainda temos: “Tire suas patas fedidas de cima de mim, seu maldito macaco nojento!” (Planeta dos Macacos). “Yo, Adrian” (Rock – Um Lutador). “Mantenha seus amigos por perto, mas seus inimigos mais perto ainda.” (O Poderoso Chefão II). “Eles estão aqui!” (Poltergeist). . “Deus é minha testemunha, jamais passarei fome novamente!” (... E o Vento Levou). “Elementar meu caro Watson” (As aventuras de Sherlock Holmes).
O fato é que o cinema tem esse poder de nos transportar para a Matrix, de recriar a história e o mundo, destruir tabus, mudar paradigmas e quem sabe, até o mundo. Foi John (O Beatle, não o apostolo) quem disse: “Uma música é só uma música, mas se cantada muitas vezes e por muitas pessoas, tem o poder de mudar o mundo”.
Que seu 2008 seja cheio de comédias românticas, suspense, ação, aventura e terror, afinal um pouquinho não faz mal a ninguém.
PS.: Não podia acabar sem citar James bond.
Por Antunes Weide Vieira Machado
Colunista Brasil Escola