O que é dança?

Dança é uma prática de expressão e movimento corporal. A dança relaciona aspectos culturais e sociais e é constituída de elementos como espaço, som, corpo e movimento.

Dança é uma manifestação de expressão e movimentação corporal que relaciona elementos como o espaço, tempo e som. A prática surgiu da necessidade do ser humano expressar suas emoções, como também do caráter religioso e folclórico. Os praticantes de dança realizam a modalidade com diferentes objetivos, como recreação, melhoria da saúde, tradição cultural, e, ainda, como trabalho profissional.

Danças urbanas, balé, dança contemporânea, samba, frevo, catira, jazz, sapateado, funk, carimbó e forró são alguns dos diversos tipos de danças existentes. Cada um eles apresenta suas especificidades e tem relações com diferentes culturas.

Leia também: Como a música surgiu?

Resumo sobre a dança

Origem e história da dança

→ A dança na Pré-História

A dança é uma prática que surgiu da expressão corporal dos seres humanos, constituindo-se como uma das primeiras formas de manifestação das emoções da humanidade. É milenar e teve origem na Pré-História, como indica os registros arqueológicos.

No livro Pequena história da dança, o autor Antonio José Faro enfatiza que, assim como as demais artes, “a dança é fruto da necessidade de expressão do homem” e seu nascimento está intimamente relacionado à religião, uma vez que essa manifestação começou com a demanda de exprimir algo bom que era concedido pelas divindades.|1|

Desenhos rupestres gravados nas paredes de cavernas mostram pelos traços como eram as danças primitivas de humanos que viveram há milhares de anos. A dança nesse tempo tinha uma relação com a sobrevivência, uma vez que era praticada em forma de ritual para impedir que eventos naturais prejudicassem atividades como a caça e pesca.

As ilustrações mostram pessoas dançando em círculo ao redor de animais e vestidas com suas peles. Com a criação da agricultura, a dança se tornou um modo de celebrar a terra e a colheita.

Desenho rupestre de cinco pessoas em círculo fazendo uma dança primitiva.
Registros rupestres evidenciam as danças primitivas realizadas em círculo.

→ A dança na Antiguidade

No Egito, as danças da Antiguidade eram realizadas como forma de homenagem aos deuses, sendo Hathor (deusa da dança e da música) e Bés (inventor da dança), as divindades mais homenageadas pelos egípcios. Em funerais, a dança estava presente por meio dos mouou, personagens que dançavam em dupla durante o enterro, prática que tinha o objetivo de garantir à pessoa morta a ascensão a uma nova vida.

Na Índia, as danças tiveram relação com Shiva (deusa da dança) e começaram a ser praticadas pelos hindus em um processo de busca pela união com a natureza. O aspecto cósmico norteia o objetivo do dançar dos indianos, e os gestos carregam um significado afetivo, místico e espiritual.|2|

Os gregos integravam a dança em rituais religiosos. Dionísio, deus da fertilidade e do vinho, era homenageado em um rito formado pela dança em roda. Os dançantes cantavam e enquanto dançavam pisavam na uva para produzir o vinho. A cerimônia se estendia por dias.

Em diversas sociedades, a história da dança se desenvolveu por uma perspectiva religiosa. As práticas eram realizadas em locais específicos, tais como templos, por determinados sujeitos, como os sacerdotes, bem como eram incluídas em cerimônias específicas. A modalidade também era vista em outros cenários.

Os soldados romanos realizavam, a cada batalha, danças guerreiras que solicitavam o apoio de Marte, deus da guerra. Durante vários séculos, os homens eram os únicos corpos a terem permissão para dançar, uma vez que a inclusão das mulheres na dança de forma oficial ocorreu tardiamente em algumas culturas.|3|

→ A dança nas Idades Média e Moderna

Pintura representando uma dança em pares na corte italiana, no início do século XVIII.
Baile da corte italiana no início do século XVIII.

Durante a Idade Média, a dança era considerada uma prática proibida pela Igreja, uma vez que a instituição via a manifestação corporal como pecado. Mesmo assim, era comum entre os camponeses que resistiram a realização, mesmo que de forma clandestina, de suas manifestações populares de dança. Com o passar do tempo, a prática deixou de ser vista como proibida na perspectiva religiosa cristã. O aspecto popular ganhou força e as danças folclóricas se fortaleceram em diferentes regiões.

O renascimento provocou um processo de transformação e mudanças em aspectos da vida social e cultural. Na região de Florença, na Itália, a dança se tornou peça importante para os espetáculos conhecidos como trionfi (triunfos), que simbolizam a riqueza e o poder. Entre os artistas convidados para participar do processo de construção desses espetáculos estava Leonardo Da Vinci.

Em 1581 foi realizado o primeiro balé da corte, chamado Le Ballet Comique de la Reine (O Balé Cômico da Rainha), que contou com carros alegóricos, efeitos cênicos e uma duração de seis horas. Com esse evento, começaram a ser formados os primeiros grupos de bailarinos. Para além dos salões palacianos, a dança começou a ser inserida, mesmo que de forma tímida, nos palcos dos teatros ao longo da segunda metade do século XVII.

Gravura de 1582, com uma representação do Le Ballet Comique de la Reine, o primeiro balé da corte.
Gravura de 1582, com uma representação do Le Ballet Comique de la Reine, o primeiro balé da corte.

A dança ainda não era reconhecida como arte autônoma e fazia parte do teatro. Seu desenvolvimento enquanto arte foi impulsionado por espetáculos teatrais apresentados por ciganos, dançarinos e acrobatas. Nesse contexto, Pierre Beauchamp, músico e coreógrafo da Academie Royale de la Musique et de Danse, desenvolveu as posições básicas dos pés para o balé diante de uma exigência de técnica refinada para essa modalidade de dança.

O balé surgiu como um modelo clássico de dança constituído por diversas especificidades conforme as origens de suas técnicas. Os novos modos de dançar que surgiram nas diferentes regiões do mundo inauguraram a chamada dança moderna, que se diferencia da clássica. Apesar de alguns estilos manterem alguns padrões da dança tradicional, uma característica do formato moderno é a construção de uma dança mais livre, isso quer dizer que não segue determinadas técnicas.

→ A dança na Contemporaneidade

O coreógrafo e bailarino Merce Cunningham foi considerado um dos pioneiros da dança contemporânea. Desde então, ocorreram significativas mudanças no campo da dança, entre elas na linguagem coreográfica, no que se refere à independência entre as artes de um espetáculo de dança, em que coreografia, música e cenografia são elaboradas independente uma da outra.

Entre as evoluções da dança contemporânea, estão a relação das coreografias construídas para vídeos e filmes como também o uso das tecnologias para a elaboração de processos coreográficos.

Veja também: Quais são as danças folclóricas brasileiras?

Características da dança

A dança é uma prática baseada na expressão corporal, por movimentos do corpo. Ela possibilita diversos benefícios, como autoconhecimento, relaxamento e recreação, bem como a melhora da condição de saúde por se tratar de um tipo de exercício físico. Para além de uma prática realizada de forma recreacional ou profissional, a dança é uma área de conhecimento que apresenta um conjunto de saberes, temáticas e questões pensadas ao longo do tempo por pessoas que se propuseram a pesquisar o fazer dança e suas dimensões.

A prática está relacionada com a capacidade de criação, permitindo o desenvolvimento da habilidade de criatividade. Ao dançar, o corpo se relaciona com elementos como o tempo, o espaço e o som. A produção da dança se dá justamente na integração desses fatores com o movimento corporal.

Objetivos da dança

A dança é uma manifestação que pode ter diferentes objetivos:

Tipos de dança

Leia, a seguir, as principais características sobre alguns tipos de dança:

Homem e mulher dançando balé, atrás deles, outras bailarinas.
O balé exige movimentos precisos em sua execução.[1]
Dançarinos agrupados realizando movimentos da dança contemporânea.
A experimentação e a troca, pelo contato com corpo do outro, são características fundamentais da dança contemporânea.
Pessoas assistindo a um dançarino fazendo movimentos de hip hop em uma rua.
O espaço público das cidades costuma ser cenário das práticas e apresentações das danças urbanas.[2]

Elementos da dança

Fique por dentro de quais são os elementos da dança:

→ Movimento

Caracteriza-se por quaisquer gestos e ações que o corpo pode fazer, como correr, saltar, estender e flexionar membros, mexer o quadril, deitar, levantar, rebolar, entre tantos outros. Rudolf Laban, considerado o mais importante teórico da dança do século XX, categorizou quatro fatores que compõem o movimento:

A fluência pode ser livre e/ou controlada, o espaço pode ser focado e/ou multifocado, o peso pode ser leve e/ou firme, e o tempo, rápido e/ou lento. O tempo dita o ritmo na dança e se refere à cadência da movimentação. A candência consiste na velocidade de execução dos gestos do corpo ao dançar.

A coreografia é o processo de composição de passos e movimentações que formam a dança. Por meio dela, apresenta-se uma performance em dança que foi previamente construída e elaborada por alguém, e, nesse sentido, permite-se sua reprodução.

→Espaço

Toda dança é realizada em algum espaço. Ao se movimentar, o corpo se locomove por um espaço. Este elemento traz um significado ao dançar, já que o espaço da dança diz sobre a intenção da prática, seja em uma academia de ginástica em aula coletiva, seja durante uma apresentação artística profissional de dança em um teatro.

→ Som

Esse elemento relaciona todos os tipos sonoros encontrados ao fazer dança, tais como: as músicas (ao vivo ou gravadas), a respiração, o bater dos pés no chão, os sons da voz, entre outros. Lenira Rangel, Carmen Schaffner e Eduardo Oliveira afirmam, em uma obra didática sobre dança, que é possível dizer que “há dança sem música, mas jamais dança sem som”, uma vez que os corpos permitem a produção de som ao se relacionar com o espaço e fazer movimentos.

Homem em apresentação pública da dança sapateado.
Movimentos executados com sapatos específicos produzem os sons e ritmos característicos do sapateado.[3]

→ Corpo

É materializado pela pessoa que dança, sendo ela constituída de qualquer tipo de corpo, uma vez que todos os corpos são dançantes. Esse elemento levanta a discussão sobre a diversidade étnica, corporal, social e cultural possível na dança.

Mulher branca de vestido vermelho, realizando movimentos de dança em uma cadeira de rodas.
Todos os corpos são dançantes.

Importância da dança

A dança é uma prática importante para o desenvolvimento do conhecimento do próprio corpo e da capacidade expressiva por meio de movimentos corporais. Dançar se torna uma forma de externalizar as emoções, as vivências e os elementos que atravessam a vida do corpo dançante.

Nas aulas e nos eventos de dança, os praticantes têm a oportunidade de socializar e construir trocas com outras pessoas que compartilham a mesma prática. Observar e aprender com o movimento do outro é uma forma de sensibilizar o olhar para a vivência do outro e compreender que cada um tem seu modo próprio de dançar.

A modalidade também apresenta uma importância social ao expressar, de forma artística e com movimentos corporais, diversas características e aspectos que dizem sobre coletividades e suas formas de vida. Além disso, a dança é um componente fundamental em diversas tradições e manifestações culturais. Nesse sentido, a dança se consolida como um instrumento essencial no desenvolvimento das sociedades e na diversidade de seus costumes.

Dança no Brasil

A diversidade étnico-racial brasileira permitiu o desenvolvimento de diferentes manifestações de dança, tais como:

Dançarinas de frevo em apresentação pública.
O frevo é uma dança típica brasileira do estado de Pernambuco.[4]

A primeira escola de dança do país foi inaugurada em 1927. A Escola de Danças Clássicas do Theatro Municipal do Rio de Janeiro foi criada pela bailarina e coreógrafa russa Maria Olenewa e o crítico de teatro Mário Nunes. Nessa mesma instituição, aos 14 anos, Eros Volúsia começou suas aulas e se tornaria, anos mais tarde, uma referência nacional da dança por conta da união do balé clássico com os ritmos brasileiros.

A alemã Felícitas Barreto, que chegou ao Brasil após o fim da Primeira Guerra Mundial, foi uma figura importante na pesquisa sobre as danças da cultura indígena e negra. Ela foi responsável por criar, em 1946, o Ballet Folclórico Nacional, um dos pioneiros no país. Suas coreografias se baseiam nas danças afrodescendentes.

Mulheres dançando samba de roda, vestidas com trajes típicos.
O samba de roda é um exemplo de dança com raízes na cultura africana e na cultura portuguesa.[5]

Apesar da importância dos trabalhos de Felícitas Barreto e Maria Olenewa, a responsável por criar a identidade negra para dança conhecida como afro-brasileira foi Mercedes Baptista, conforme aponta Marilza Oliveira da Silva, pesquisadora da Universidade Federal da Bahia (UFBA). A dança garantiu um papel importante durante o período da Ditadura Militar, uma vez que passou a ser utilizada como linguagem e manifestação para contornar a censura que a população vivenciava na época.

São Paulo se tornou um importante lugar de produção em dança brasileira. Por lá foram criadas companhias profissionais, como o Cisne Negro Companhia de Dança, Balé da Cidade de São Paulo e Companhia Ballet Stagium. Enquanto, na Bahia, uma importante referência histórica é o Balé Teatro Castro Alves, criado em 1981.

O Stagium foi a primeira companhia de dança a se apresentar em diferentes regiões brasileiras. Apesar de manter os gestos técnicos tradicionais do balé, o espetáculo do grupo buscou apresentar uma dança que se relacionasse e se aproximasse da realidade brasileira. Um exemplo de trabalho da companhia é Diadorim, coreografia construída com base no romance de Grande serão: veredas, de Guimarães Rosa.

Dança no mundo

A dança se desenvolveu de diferentes formas ao redor do mundo. Em cada região, a prática corporal se relaciona de modo específico com as tradições culturais, apresentando significado e representações diversas. Na América Latina, as danças remontam às sociedades ancestrais com influências indígenas, africanas e europeias.

A salsa foi criada em Cuba e é caracterizada por um ritmo envolvente com movimentos sensuais. Já na Colômbia, um exemplo de dança que faz parte da realidade social, e foi criada durante o período da colonização espanhola, é a cumbia, resultado dos tambores africanos, melodias indígenas e vestimenta europeia. Da Argentina, destaca-se o tango, dança realizada em par, composta por movimentos pausados e passos rápidos.

Pessoas dançando salsa em centro público de Havana, capital da Cuba.
Pessoas dançando salsa em centro público de Havana, capital da Cuba.[6]

No continente africano, a pluralidade cultural reflete na diversidade das danças. Cada grupo étnico e região tem suas danças próprias, ensinadas ao longo das gerações. Entre os exemplos de tipos de dança, estão o raqs sharqi (espécie de dança do ventre do Egito), a umushayayo (conhecida como dança das mulheres, de Ruanda), e o gumboot, dança sul-africana que utiliza botas de borracha para emitir sons ao bater os pés.

A Europa produziu danças clássicas como balé e a valsa. Os gestos técnicos do balé influenciaram a evolução de diferentes estilos de dança e contribuíram na produção de outras formas de dançar ao redor do mundo.

Saiba mais: O que é a cultura popular?

Curiosidades sobre a dança

Notas

|1| e |3| FARO, Antonio José. Pequena história da dança. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1986. 251 p.

|2| LANGENDONCK, Rosana Van. História da dança. São Paulo: edição da autora, 2004. Disponível em: http://www.educacaofisica.seed.pr.gov.br/arquivos/File/sugestao_leitura/historia_danca.pdf

Créditos das imagens

[1] OSCAR GONZALEZ FUENTES/ Shutterstock

[2] Eugenio Marongiu/ Shutterstock

[3] Krysja/ Shutterstock

[4] WikimediaCommons

[5] Joa Souza/ Shutterstock

[6] Kobby Dagan/ Shutterstock

Fontes

ANDRADE, Marília de. Coreografias no samba. Resgate: Revista Interdisciplinar de Cultura, Campinas, SP, v. 15, n. 1, p. 65–82, 2007. DOI: 10.20396/resgate.v15i16.8645651. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/resgate/article/view/8645651

CASTRO, Vera Lucia Amorelli. Dança: arte de expressar a vida e orientar na escola. Monografia do curso de pós-graduação em Gestão Escolar. Instituto Superior de Educação Paraíso (Isep). São Sebastião do Paraíso, 2009. Disponível em: https://calafiori.edu.br/wp-content/uploads/2019/09/DAN%C3%87A-ARTE-DE-EXPRESSAR-A-VIDA-E-ORIENTAR-NA-ESCOLA.pdf

FARO, Antônio José. Pequena história da dança. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1986. 251 p.

FRANCO, Neil; FERREIRA, Nilce Vieira Campos. Evolução da dança no contexto histórico: aproximações iniciais com o tema. Repertório, Salvador, nº 26, p.266-272, 2016. Disponível em: https://periodicos.ufba.br/index.php/revteatro/article/view/17476

LANGENDONCK, Rosana Van. História da dança. São Paulo: edição da autora, 2004. Disponível em: http://www.educacaofisica.seed.pr.gov.br/arquivos/File/sugestao_leitura/historia_danca.pdf

MORAIS, Sarah Brito de; COSTA, Lucas Lázaro Viana. Danças Urbanas. Apostila. Universidade Federal do Ceará (UFC): EducaDance. 2022. Disponível em: https://procult.ufc.br/wp-content/uploads/2022/03/apostila-dancas-urbanas-educadance-ufc.pdf

RANGEL, Lenira Peral; SCHAFFNER, Carmen Paternostro; OLIVEIRA, Eduardo. Dança, Corpo e Contemporaneidade. Salvador: UFBA, Escola de Dança, 2016. 40 p. il. Disponível em:https://educapes.capes.gov.br/bitstream/capes/174965/4/eBook_Danca_Corpo_e_Contemporaneidade-Licenciatura_em_Danca_UFBA.pdf

RANGEL, Lenira; MISSI, Mirella. Referências históricas da dança no Brasil. Salvador: UFBA, Escola de Dança; Superintendência de Educação Distância, 2021. v111 p.: il. Disponível em: https://educapes.capes.gov.br/bitstream/capes/644975/2/Referencias%20Historicas%20da%20Danca%20no%20Brasil.pdf

SILVA, Marilza Oliveira da. O tronco histórico da dança afro-brasileira. Revista da ABPN.  v. 11, n. 27. nov 2018 – fev 2019, p.64-85. Disponível em: https://abpnrevista.org.br/site/article/view/665


Fonte: Brasil Escola - https://brasilescola.uol.com.br/artes/danca.htm