Serra Pelada

A Serra Pelada foi o maior garimpo a céu aberto do mundo. A exploração do ouro nessa região do estado do Pará mobilizou mais de 100 mil trabalhadores, entre 1980 a 1992.

Serra Pelada foi uma área de garimpo localizada no estado do Pará, na região Norte do Brasil. O local de exploração foi aberto após a descoberta de ouro na Fazenda Três Barras, atraindo milhares de pessoas para a região no início da década de 1980. As estimativas apontam que Serra Pelada recebeu mais de 100 mil trabalhadores ao longo dos seus 12 anos de atividade, que encontraram condições precárias de trabalho, jornadas exaustivas e nem um pouco seguras, e baixo retorno financeiro.

Conhecido à época como o maior garimpo a céu aberto do mundo, Serra Pelada foi oficialmente fechada pelo governo brasileiro no ano de 1992. Inúmeros impactos ambientais foram registrados no local, e a imensa área escavada hoje se encontra preenchida por água, formando um lago de 200 metros de profundidade.

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Resumo sobre a Serra Pelada

Qual a localização da Serra Pelada?

A Serra Pelada fica localizada no estado do Pará, na região Norte do Brasil. Mais precisamente, essa formação fica nas proximidades do município paraense de Marabá, na Serra dos Carajás, que fica na parcela oriental do estado. Nota-se que, como consequência da atividade econômica na Serra Pelada, teve origem o município de Curionópolis, que faz divisa com Marabá.

Cidade de Curionópolis no mapa do Pará, onde fica a Serra Pelada.
Localização do município de Curionópolis, no Pará, onde fica a Serra Pelada. [1]

Quando começou a exploração em Serra Pelada?

A intensa garimpagem que aconteceu na Serra Pelada teve origem entre 1979 e 1980, quando pepitas de ouro foram encontradas ao acaso em um corpo d’água no interior da Fazenda Três Barras, pertencente ao pequeno agricultor Genésio Ferreira da Silva.

Alguns relatos contam que a descoberta foi feita pelo próprio Genésio ou por um vaqueiro que passava pela área, enquanto outras histórias recontam que foi a esposa desse vaqueiro quem observou as pedras pela primeira vez. O que se sabe ao certo é que, após uma análise cuidadosa do material, realizada em Marabá, constatou-se que era, de fato, ouro.

A notícia rapidamente se espalhou pela região, dando início, em 1980, às atividades do maior garimpo a céu aberto do mundo. Poucos meses após a confirmação, quase 5 mil pessoas já se reuniam na Serra Pelada para a exploração do garimpo.

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Como funcionava o garimpo em Serra Pelada?

A Serra Pelada foi, como adiantamos, o maior garimpo a céu aberto do mundo. A área aberta para a exploração era de 24 mil metros quadrados, e os barrancos tinham cerca de 150 metros de altura|1|. O trabalho de abertura foi todo realizado manualmente pelas milhares de pessoas que se deslocaram até a região na esperança de enriquecerem com o ouro escondido no interior do solo. A distribuição do ouro na Serra Pelada não era regular nem homogênea, o que tornou o processo de garimpagem ainda mais intenso e generalizado em termos de área abrangida.

Depois de pouco tempo do início das atividades, instalou-se um certo tipo de ordenamento da exploração do garimpo na Serra Pelada. Os barrancos deixaram de ser disputados diretamente pelos garimpeiros e explorados ao acaso, o que se deu em função da intervenção do Governo Federal. É importante notar, aqui, que o Brasil da época vivia sob uma ditadura militar, e um interventor federal foi nomeado para supervisionar os trabalhos no local. Esse interventor foi Sebastião Curió Rodrigues de Moura, mais conhecido como major Curió.

A Serra Pelada passou a ser dividida em diferentes lotes, ou barrancos, onde trabalhava um grupo de garimpeiros com a supervisão de um indivíduo. Esses trabalhadores eram divididos hierarquicamente, e cada um tinha sua função: indicar o local da escavação, escavar a área, subir com os sacos de terra removida em escadas altíssimas e sem nenhum tipo de segurança e a realização da garimpagem propriamente dita, com o uso de peneiras (ou bateias).

A venda do ouro deveria, em tese, ser feita nos guichês da Caixa Econômica Federal (CEF) que passaram a existir na região após a atuação do governo federal. No entanto, sabe-se que desde o loteamento das áreas até a venda dos minérios não necessariamente eram feitas de maneira regular, havendo uma série de denúncias de desvio de ouro nesse processo.

O dia a dia dos trabalhadores na Serra Pelada

A descoberta de ouro na Serra Pelada despertou a esperança de melhoria de vida em milhares de pessoas, que viram na garimpagem uma oportunidade para, em tese, enriquecerem. Os migrantes chegaram aos milhares no território paraense, oriundos de todas as partes do país, mas principalmente das regiões Norte e Nordeste. Além disso, a Serra Pelada atraiu profissionais das mais diversas áreas de atuação. As estimativas indicam que, no período mais próspero, mais de 100 mil pessoas trabalhavam na Serra Pelada.

O dia a dia dos trabalhadores na Serra Pelada era difícil, e as condições nas quais eles atuavam eram bastante precárias. Não havia garantias de segurança para a execução das atividades no garimpo. Para termos uma noção, as escadas que os trabalhadores utilizavam para subir e descer dos barrancos, muitas vezes carregando sacos pesados com terra, eram apelidadas de “adeus mamãe”, pelo alto risco que ofereciam.

O trabalho era realizado em jornadas exaustivas e em quaisquer condições atmosféricas, mesmo sob o sol escaldante e calor intenso, que são característicos do clima local. Lembremos que é uma região de clima equatorial, marcado pelo calor e pela umidade elevada, que tende a deixar o tempo abafado. Os barrancos não eram estáveis, e os deslizamentos de terra e desmoronamento de blocos se tornavam fatais. Além disso, os garimpeiros lidavam com substâncias tóxicas e perigosas ao organismo humano, como o mercúrio.

Bancos, correios, postos de saúde e um mínimo de infraestrutura urbana foram instaladas no local para os trabalhadores de Serra Pelada. No entanto, nota-se que o rígido controle que se estabeleceu na década de 1980 proibia a entrada de mulheres e de bebidas alcoólicas, e as famílias dos garimpeiros ficavam em uma vila separada. Havia muitos registros de brigas e conflitos internos entre os trabalhadores, e as mortes — seja por conta desses confrontos, seja por motivos de trabalho — não eram incomuns.

O Massacre da Serra Pelada

É importante mencionar, ainda, o episódio conhecido como Massacre da Ponte Marabá, ou Massacre da Serra Pelada, que aconteceu em 1987 em retaliação a manifestações organizadas pelos trabalhadores do garimpo em busca dos seus direitos e de melhores condições de trabalho. Na ocasião, 300 pessoas foram encurraladas por policiais militares no alto de uma ponte de mais de 70 metros. Os dados variam, mas estima-se que dezenas de manifestantes foram mortos na ocasião, e há, também, desaparecidos.

Consequências da exploração na Serra Pelada

A garimpagem na Serra Pelada resultou na extração de mais de 40 toneladas de ouro do local em um curto período de pouco mais de uma década. Por se tratar de um recurso natural finito, aos poucos as reservas do mineral foram se exaurindo, afetando a produtividade das lavras.

A exploração na Serra Pelada alterou drasticamente a paisagem natural da área. Onde havia, antes, um elevado, restou uma imensa cratera onde se formou um lago com quase 200 metros de profundidade. A abertura de áreas e a atividade exploratória propriamente ditas foram altamente prejudiciais para a manutenção da biodiversidade e do equilíbrio ambiental no bioma amazônico, afetando também os solos e os corpos hídricos.

Lago formado sobre a cava do garimpo da Serra Pelada.
A cratera aberta pelo garimpo em Serra Pelada deu origem a um profundo lago. [2]

As condições precárias de trabalho, as jornadas exaustivas, as substâncias tóxicas que garimpeiros necessitavam manusear e as doenças que se proliferaram resultaram em sérios problemas de saúde para os trabalhadores de Serra Pelada que persistem até o presente. Muitos trabalhadores, entretanto, não sobreviveram a essas condições e aos acidentes que eram recorrentes. Não somente isso, mas parte daqueles que sonhavam com uma nova vida após o garimpo e se mudaram para a região da Serra Pelada não conseguiu mudar a sua realidade, encontrando-se em situação de pobreza e vulnerabilidade social.

Fim da Serra Pelada

As atividades em Serra Pelada foram encerradas oficialmente no ano de 1992, sob o governo do então presidente Fernando Collor de Mello. Com o fechamento da área, a Companhia Vale do Rio Doce, atual Vale, recebeu uma indenização de 59 milhões de reais. Isso aconteceu porque a empresa nacional detinha os direitos de exploração do ouro, e as jazidas acabaram sendo ocupadas pelos garimpeiros.

No final da década de 1990, ex-trabalhadores de Serra Pelada entraram com um pedido de 120 milhões de reais ao governo brasileiro como pagamento pela parte do ouro que foi supostamente retido pelo banco com a justificativa de conter impurezas.

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Filmes sobre a Serra Pelada

Curiosidades sobre a Serra Pelada

Créditos de imagem

[1] Wikimedia Commons

[2] Wikimedia Commons

Notas

|1| SAYURI, Juliana. Como foi o garimpo em Serra Pelada? Superinteressante, 04 jul. 2018. Disponível em: https://super.abril.com.br/mundo-estranho/como-foi-o-garimpo-em-serra-pelada/

|2| SOARES, Débora; NUNES, Leo. 'DOC Liberal': Serra Pelada e a época de ouro do Pará. G1 Pará e TV Liberal, 08 ago. 2022. Disponível em: https://g1.globo.com/pa/para/noticia/2022/08/18/doc-liberal-serra-pelada-e-a-epoca-de-ouro-do-para.ghtml

|3| FOLHA DE S.PAULO. Serra Pelada chegou a produzir 14 toneladas de ouro em um só ano. Folha de S.Paulo, 04 jul. 2004. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u62192.shtml

Fontes

ÂNGELO, Maurício. Serra Pelada e Carajás: dois massacres que ajudam a contar a história da mineração no Brasil. Observatório da Mineração, 15 mai. 2021. Disponível em: https://observatoriodamineracao.com.br/serra-pelada-e-carajas-dois-massacres-que-ajudam-a-contar-a-historia-da-mineracao-no-brasil/.

IBRAM. Serra Pelada foi o maior garimpo a céu aberto nos anos 80. IBRAM – Mineração do Brasil, 25 jul. 2010. Disponível em: https://ibram.org.br/noticia/serra-pelada-foi-o-maior-garimpo-a-ceu-aberto-nos-anos-80/.

LEMOS, Iara. Vila de Serra Pelada ainda reproduz carências dos anos 1980. G1, 09 set. 2011. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/noticia/2011/09/vila-de-serra-pelada-ainda-reproduz-carencias-dos-anos-1980.html.

LOUSAN, Nathalie; DOMINGUES, Leonardo Moreno; MORAES, Mayra Mattar. Garimpo ilegal: quais os impactos ambientais? (Plano de aula) Instituto Claro, 17 fev. 2023. Disponível em: https://www.institutoclaro.org.br/educacao/para-ensinar/planos-de-aula/garimpo-ilegal-quais-os-impactos-ambientais/.

MATHIS, Armin. Serra Pelada (Paper 050). Papers do NAEA, v. 4, n. 1, 1995. Disponível em: https://periodicos.ufpa.br/index.php/pnaea/article/view/11954.

SAYURI, Juliana. Como foi o garimpo em Serra Pelada? Superinteressante, 04 jul. 2018. Disponível em: https://super.abril.com.br/mundo-estranho/como-foi-o-garimpo-em-serra-pelada/.

 

Por Paloma Guitarrara
Professora de Geografia


Fonte: Brasil Escola - https://brasilescola.uol.com.br/brasil/serra-pelada.htm