Ditadura é uma forma de governo violenta e extremista conduzida de maneira autoritária ou totalitária sobre um Estado. Configura-se no poder centralizado sobre uma figura ou instituição e na violenta omissão da democracia, dos direitos e da liberdade física e intelectual. Apesar de surgirem através de diferentes contextos e ideologias, as ditaduras são sempre conduzidas de forma repressiva e coerciva, exercendo controle sobre a população por meio de exércitos, polícias ou milícias.
O século XX foi marcado pela ascensão de regimes ditatoriais. Entre 1964 e 1985, o Brasil viveu sob regime de uma ditadura estabelecida por militares após um golpe de Estado. Outros países também viram a ascensão de regimes radicais como a Alemanha (nazismo), a Itália (fascismo), a União Soviética (stalinismo), Portugal (salazarismo) e muitos países da América Latina, Ásia e África, em decorrência da Guerra Fria. Hoje, pelo menos 60 países ainda vivem regimes considerados autoritários, entre eles, Rússia, Coreia do Norte, Irã, China, Afeganistão, Cuba, Venezuela e Angola.
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Ditadura é uma forma de governo repressivo que se baseia no controle total sobre instituições do Estado, poderes e, essencialmente, sobre a mídia e a propaganda. De caráter antidemocrático, a ditadura suprime a liberdade de manifestação contra o governo, utilizando-se frequentemente de discursos ideológicos para justificar a sua condução; em alguns casos, permite o exercício de eleições, desde que ocorram de maneira indireta ou manipulada, a fim de dissimular uma suposta liberdade democrática.
Neste modelo de governo, o Estado tende a ser chefiado por um único líder ou grupo centralizado, que usa, como mecanismos coercitivos, aparatos como as Forças Armadas, polícias, milícias, redes de espionagem e/ou polícias secretas. Dessa forma, o ditador possui maior controle sobre a população, legitimado seu poder por meio de aprisionamentos, torturas e assassinatos.
Geralmente, a ditadura está associada à Idade Contemporânea, mais especificamente a partir do século XX, devido à ascensão dos governos totalitários ideológicos (fascismo, nazismo, stalinismo etc.) e do grande número de governos radicais que surgiram em decorrência de eventos ligados à Guerra Fria (como golpes de Estado na América Latina e a instabilidade política de países recém-independentes na África).
Para compreender o significado de “ditadura”, no entanto, é essencial distinguir as diferenças ideológicas e os métodos empregados em cada regime, evitando-se assim reducionismos ou generalizações. Por exemplo, apesar de Adolf Hitler (Terceiro Reich, na Alemanha) e Getúlio Vargas (Estado Novo, no Brasil) terem sido ambos ditadores, eles certamente não eram “a mesma coisa” e promoveram regimes fortemente distintos.
Enquanto o totalitarismo nazista levou ao extermínio de milhões de pessoas em nome de uma doutrina racista e etnocêntrica, o regime autoritário e populista de Vargas concentrou-se na perseguição e eliminação de opositores políticos, principalmente os remanescentes da Primeira República. Essa diferença entre regimes ficará mais clara ao longo da leitura deste texto.
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Uma ditadura pode ser definida por meio das seguintes características:
Na ditadura, o poder é concentrado nas mãos de um líder — o ditador — ou de uma instituição — as Forças Armadas ou uma milícia, por exemplo. Neste tipo de governo, não há divisão de poderes, exceto quando estes são mantidos para fins de manutenção do regime, e todas as decisões de Estado são essencialmente tomadas pelo chefe em exercício
Nesse modelo de regime, os cidadãos não podem exercer os seus direitos básicos, como a prática do voto, a reivindicação por melhores condições de vida ou simplesmente o direito de ir e vir. Ou seja, as liberdades concedidas em um Estado democrático são revogadas, e a expressão pública ou artística é suscetível a punições, geralmente por meio da elaboração de uma nova Constituição que permita a perseguição de opositores ao regime.
O culto ao líder é uma prática comum em ditaduras, que tem como objetivo criar uma aura de onipresença sobre o ditador: estátuas, cartazes, banners, panfletos, moedas e a mídia são constantemente utilizados para transmitir a impressão de que o líder do Estado observa a sua população em todos os lugares. Nos casos em que a ditadura não se concentra em uma única figura absoluta, utilizam-se outros símbolos, a exemplo de bandeiras e imagens patrióticas.
Igualmente essencial para uma ditadura, pratica-se a censura, que proíbe quaisquer críticas ao governo e até mesmo o consumo de bens intelectuais considerados subversivos, como livros, filmes e músicas. Ao mesmo tempo, mídia, propaganda, meios de comunicação e materiais didáticos são constantemente vigiados pelo Estado, que promove tanto o culto ao líder, quanto a proibição de qualquer material que possa suscitar críticas ao governo.
Forças Armadas, polícias ou milícias são utilizadas como ferramentas essenciais de uma ditadura a fim de promover o medo. Consequentemente, a população é constantemente perseguida, o que resulta em prisões em massa, torturas e assassinatos, mesmo sob falsas acusações — tudo legalmente concedido pelo Estado.
Uma ditadura pode ser praticada por diversos meios, por exemplo:
As ditaduras também possuem variantes na forma como são consolidadas (golpe de Estado ou por meio de eleições), lógicas de condução (desde, contraditoriamente, o impedimento de uma suposta ditadura, até uma revolução social proletária ou a manutenção de uma cultura nacional) e processos de legitimação (vontade divina, mediações na Constituição etc.). No entanto, elas podem se manifestar através de duas estruturas-chave: o totalitarismo e o autoritarismo.
O totalitarismo utiliza-se de uma “ideia totalizante” para controlar o Estado, ou seja, assume uma forma de controle onipresente, radical e sem abertura a qualquer direito ou liberdade. O seu objetivo é transformar a sociedade — não apenas do Estado, mas em proporções mundiais — por meio de uma ideologia universalista, seja ela nacional (como no fascismo), social (como no stalinismo), racial (como no nazismo), entre outras.
No totalitarismo, utilizam-se os mecanismos mais radicais de uma ditadura, como o culto ao líder, o controle total da mídia e da educação, a influência na vida pessoal dos cidadãos — como família e religião — e o uso constante da violência para eliminar opositores, exercido tanto por militares ou polícias secretas do Estado quanto por grupos não vinculados às Forças Armadas (como milícias ou guerrilhas). Neste modelo, exerce-se o expansionismo territorial por meio de guerras ou colonizações.
Neste tipo de ditadura, ao contrário do totalitarismo, o objetivo é a manutenção do poder sobre o Estado, sem a pretensão de se impor uma ideologia para além do país. Ao contrário, ela demanda obediência ao líder ou à instituição em poder, muitas vezes fundamentada pelo patriotismo. No entanto, os mecanismos usados pelo Estado, neste caso, não são menos violentos, utilizando-se da força física para coagir a população, através de aprisionamentos, torturas e assassinatos, além da dissolução dos direitos cívicos e democráticos.
Novamente, é necessário cautela ao considerar o que é considerado uma ditadura e quais motivos levaram alguns países a consolidarem regimes inflexíveis. Muitos deles possuem fundamentos concretos que condizem com o conceito de “ditadura”, mas também, há apontamentos questionáveis organizados por motivos políticos e diplomáticos, principalmente se levarmos em consideração os países que se opõem a ideologias neoliberais.
Dados extraídos da Freedom House |1| e do Dados Mundiais |2| estipulam uma média de 60 países sob regime autoritário na atualidade, desde regimes altamente controlados, até os menos repressivos e com maior dificuldade em se classificar como ditaduras, embora a maioria aponte para países africanos ou asiáticos. Por meio desses dados, entre os países autoritários ou com baixos índices de exercícios democráticos, estão:
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Afeganistão |
Palestina |
Madagascar |
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Sudão |
Líbia |
Mauritânia |
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Sudão do Sul |
Haiti |
Angola |
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Coreia do Norte |
Guiné Equatorial |
Líbano |
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Mianmar |
Venezuela |
El Salvador |
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Síria |
Mali |
Iraque |
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Eritreia |
Barein |
Bangladesh |
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Somália |
Cuba |
Argélia |
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Iêmen |
Burkina Faso |
Cazaquistão |
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Chade |
Azerbaijão |
Ruanda |
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Turcomenistão |
Essuatíni |
Zimbábue |
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China |
Qatar |
Etiópia |
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Arábia Saudita |
Emirados Árabes Unidos |
Djibouti |
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Bielorrússia |
Camboja |
República do Congo |
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Nicarágua |
Namíbia |
República Democrática do Congo |
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Tadjiquistão |
Marrocos |
Omã |
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Laos |
Hong Kong |
Camarões |
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Guiné |
Uzbequistão |
Comores |
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Burundi |
República Centro-Africana |
Egito |
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Rússia |
Irã |
Vietnã |
No passado, dezenas de países passaram por ditaduras de diferentes naturezas, muitos dos quais, mais de uma vez. Em alguns casos, diferentes regimes ditatoriais foram implementados em um pequeno espaço de tempo; em outros, deixaram de ser ditaduras por um período, mas voltaram a vigorar até os dias atuais.
Observe, na lista abaixo, que grande parte delas ocorreu em países da América Latina (em decorrência da intervenção norte-americana durante Guerra Fria), da África (como consequência de instabilidades políticas e conflitos étnicos durante os processos de pós-independência) e da Ásia (por influência, principalmente, da extinta União Soviética, promovida durante a Guerra Fria). Podemos citar:
No Brasil, a Ditadura Militar durou de 1964 a 1985 e foi conduzida por cinco ditadores: Humberto de Alencar Castelo Branco, Artur da Costa e Silva, Emílio Garrastazu Médici, Ernesto Geisel e João Batista Figueiredo. Neste período, a figura central era a instituição militar brasileira (Forças Armadas), que tinha cunho autoritário.
Imposta após um golpe de Estado, em 1º de abril de 1964, a ditadura no Brasil foi incentivada também como pretexto para combater a suposta influência comunista advinda da União Soviética, utilizando como bode expiatório a figura do presidente João Goulart, que conduzia medidas progressistas para o país. O golpe foi apoiado por milhões de pessoas da classe média, empresários, latifundiários e camadas conservadoras das Forças Armadas e da Igreja Católica, além de ter sido, assim como nos outros países da América Latina, incentivado pelos Estados Unidos.
A Comissão Nacional da Verdade reconhece que 434 pessoas foram assassinadas ou desapareceram durante a ditadura, a maioria delas formada por jovens estudantes.
Saiba mais: Quantos golpes de Estado já ocorreram no Brasil?
1. (Enem) A primeira metade do século XX foi marcada por conflitos e processos que a inscreveram como um dos mais violentos períodos da história humana. Entre os principais fatores que estiveram na origem dos conflitos ocorridos durante a primeira metade do século XX estão:
a) a crise do colonialismo, a ascensão do nacionalismo e do totalitarismo.
b) o enfraquecimento do império britânico, a Grande Depressão e a corrida nuclear.
c) o declínio britânico, o fracasso da Liga das Nações e a Revolução Cubana.
d) a corrida armamentista, o terceiro-mundismo e o expansionismo soviético.
e) a Revolução Bolchevique, o imperialismo e a unificação da Alemanha.
Resposta: A
Além de todas as demais alternativas se referirem a contextos históricos e temporais que não se encaixam, parcial ou totalmente, na primeira metade do século XX, a menção ao totalitarismo, nacionalismo e à crise do colonialismo se refere a fenômenos que ascenderam ou se fortaleceram principalmente após a Primeira Guerra Mundial, refletidos em regimes como o fascismo, o nazismo e o stalinismo.
2. (UFSC) “Nos intervalos entre sessões de tortura, deixavam-me pendurado pelos braços em ganchos fixos à parede do calabouço onde me atiravam. Algumas vezes me jogavam sobre a mesa de tortura e me esticavam, amarrando pés e mãos a algum instrumento que não posso descrever porque não vi, mas que me produzia a sensação de que iam arrancar-me partes do corpo.”
Nunca mais: informe sobre o desaparecimento de pessoas na Argentina. Porto Alegre: L&PM, 1984. p. 17-18.
Sobre as ditaduras militares latino-americanas, assinale a(s) proposição(ões) correta(s).
01) Nos anos 1970, os governos do Brasil, Argentina, Chile, Paraguai, Uruguai e Bolívia chegaram a fazer um acordo de cooperação mútua, a chamada operação condor, com o objetivo de reprimir em conjunto os regimes ditatoriais implantados por meio de golpes militares na América Latina.
02) Durante os anos 1970, a ditadura do general cubano Fidel Castro defendia a política do big stick, caracterizada por dar apoio bélico e influenciar ideologicamente os diversos governos militares latino-americanos.
04) No Chile, em 11 de setembro de 1973, um golpe militar chefiado pelo general Augusto Pinochet derrubou o governo do presidente socialista Salvador Allende, que morreu no Palácio La Moneda.
08) Na Argentina, a derrota para os britânicos na Guerra das Malvinas (1982), somada à crescente crise inflacionária e aos movimentos populares contra a repressão militar, causou a queda de uma das mais violentas ditaduras latino-americanas.
16) No contexto da Guerra Fria, as ditaduras militares latino-americanas estavam claramente alinhadas ao bloco capitalista liderado pela União Soviética.
32) São características que as ditaduras latino-americanas tiveram em comum: o autoritarismo, a censura, o nacionalismo e a violenta repressão que deixou milhares de mortos e desaparecidos.
Total: 44 (04+08+32)
Todas as afirmações incorretas se referem a políticas norte-americanas, alinhadas aos EUA ou a favor das ditaduras de direita na América Latina.
Notas
|1| FREEDOM HOUSE. Freedom In The World 2020: A Leaderless Struggle for Democracy. Freedom House, 2020. Washington: DC (EUA). Disponível em: https://freedomhouse.org/sites/default/files/2020-02/FIW_2020_REPORT_BOOKLET_Final.pdf
|2| DADOS MUNDIAIS. Ditaduras atuais, 2025. Dados Mundiais.com, ago. 2025. Disponível em: https://www.dadosmundiais.com/ditaduras.php
Créditos das imagens
[1] Andreas Wolochow/ Shuttesrtock
[3] Kremlin.ru/ Wikimedia Commons
Fontes
DADOS MUNDIAIS. Ditaduras atuais, 2025. Dados Mundiais.com, ago. 2025. Disponível em: https://www.dadosmundiais.com/ditaduras.php
FREEDOM HOUSE. Freedom In The World 2020: A Leaderless Struggle for Democracy. Freedom House, 2020. Washington: DC (EUA). Disponível em: https://freedomhouse.org/sites/default/files/2020-02/FIW_2020_REPORT_BOOKLET_Final.pdf
GASPARI, Elio. A ditadura envergonhada: as ilusões armadas. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
GOV.BR. Maioria de mortos e desaparecidos na ditadura era estudante, jovem, ligada a organizações políticas e vivia em capitais, mostra análise inédita, 2025. Disponível em https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/noticias/2025/marco/maioria-de-mortos-e-desaparecidos-na-ditadura-era-estudante-jovem-ligada-a-organizacoes-politicas-e-vivia-em-capitais-mostra-analise-inedita
HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: O breve século XX – 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
KENNEDY, Paul. Ascensão e queda das grandes potências: Transformação econômica e conflito militar de 1500 a 2000. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1989.
KERSHAW, Ian. De volta do inferno: Europa, 1914-1949. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.
LEVITSKY, Steven; ZIBLATT, Daniel. Como as democracias morrem. Rio de Janeiro: Zahar, 2018.
SCHWARZ, Lilia M. Sobre o autoritarismo brasileiro. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
Fonte: Brasil Escola - https://brasilescola.uol.com.br/historiag/ditadura.htm