A desigualdade social no Brasil é definida com base nas condições sociais e econômicas de determinados grupos. Alguns deles possuem mais riqueza do que outros, maior renda e acesso a serviços como saúde, educação e cultura, gerando uma sociedade marcada por níveis extremos de desigualdade. No Brasil, quase 60% da renda nacional são apropriados pelos 10% mais ricos.
Além do fator concentração de renda, as causas da desigualdade social no Brasil relacionam-se com a distribuição riqueza, o poder e o prestígio ao longo da história. Mais especificamente, a causa se dá em como essa distribuição dos recursos sociais no Brasil foi orientada pela exclusão das mulheres, dos indígenas e dos negros, sendo a violência uma de suas características mais marcantes. Historicamente, o país foi construído para excluir a maior parte da população e concentrar privilégios nas elites.
Leia também: Pobreza no Brasil — origem, índices, causas e consequências
A desigualdade social no Brasil é um problema com muitas dimensões. Ele se refere às significativas e persistentes disparidades nas condições de vida, oportunidades e acesso a recursos entre diferentes grupos da sociedade brasileira. A história colonial do Brasil foi moldada pela exploração de recursos naturais e pela instituição da escravidão. O período colonial deixou um legado de desigualdade, discriminando a população negra, ainda mais marginalizada após a abolição.
Por causa da falta de reparação histórica, a desigualdade social no Brasil também é caracterizada por disparidades de gênero e etnia. Mulheres e grupos étnicos minoritários frequentemente enfrentam discriminação no acesso a oportunidades, educação e emprego.
Por outro lado, a sociedade brasileira é estratificada em diferentes camadas socioeconômicas, onde o acesso a recursos como educação, saúde, emprego e moradia é distribuído de maneira desigual. A mobilidade social pode ser limitada, com as circunstâncias de nascimento frequentemente determinando as oportunidades ao longo da vida.
Enfim, o Brasil, sob o ponto de vista de diversos indicadores, tanto internacionais como nacionais, encontra-se historicamente entre os países em que mais se verifica desigualdades econômicas e sociais no mundo todo.
As causas desse fenômeno são complexas. Elas nos remetem à colonização portuguesa do país, que foi baseada no trabalho escravo e criou barreiras sociais ou culturais para a ascensão econômica das pessoas; mas também existem causas políticas por trás disso tudo.
As causas da desigualdade social no Brasil, um fenômeno persistente, são bastante conhecidas:
Poderíamos citar ainda a normalização, no senso comum, de ideologias racistas que resultam em discriminação, e também um sistema institucional ineficaz e sabotado pela corrupção. A desigualdade social no Brasil é causada por fenômenos complexos e interconectados. Por isso, ela exige uma abordagem sistêmica em diversas direções para alcançar mudanças significativas.
Veja também: Existe democracia racial no Brasil?
Os dados da desigualdade social no Brasil são assustadores. Usamos como referência o Mapa da Riqueza no Brasil. A pesquisa realizada pela FGV Social, publicada em fevereiro de 2023, conseguiu unir a base de dados do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) com a base da Pnad Contínua, realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O resultado foi que a desigualdade social no Brasil é ainda maior do que o imaginado. Segundo esses dados, o índice de Gini chegou a 0.7068 em 2020, bem acima dos 0,6013, calculados apenas a Pnad Contínua. Mesmo com o Auxílio Emergencial, ao contrário do que se acreditava, a desigualdade brasileira não caiu durante a pandemia.
Os lugares do Brasil com maior renda do IRPF por habitante são:
A unidade da federação com a menor declaração de patrimônio por habitante é o Maranhão (R$6300). No outro extremo, está o Distrito Federal (R$95 mil). No entanto, mesmo dentro da capital, há muita concentração de riqueza, liderada pelo Lago Sul (R$1,4 milhões).
No que se refere ao IDH, que mede, além de riqueza, educação e expectativa média de vida, verifica-se a mesma discrepância. Entre os 20% mais ricos, o país teria um IDH superior ao da média da Islândia ou Noruega, mas, ao considerar-se os 20% mais pobres, o IDH brasileiro seria o mesmo registrado por países como Índia ou Namíbia.
O IDH de toda população brasileira diminuiu após a pandemia, e, atualmente, no conjunto de 189 países, o Brasil encontra-se na 87ª posição, ao lado dos países com médio desenvolvimento humano.
O índice de Gini, criado pelo matemático italiano Conrado Gini, é um instrumento para medir o grau de concentração de renda em determinado grupo. Ele aponta a diferença entre os rendimentos dos mais pobres e dos mais ricos. Numericamente, varia de 0 a 1, sendo que 0 representa a situação de igualdade plena, ou seja, todos têm a mesma renda, e 1 representa o extremo oposto, isto é, uma só pessoa é dona de toda renda nacional.
De acordo com o cálculo mais recente (2019) do Banco Mundial, o índice de Gini do Brasil é 0,534. Entre os 40 países com maior índice de Gini (portanto, com maior concentração de renda), 22 são da África Central/Subsaariana e 18 são da América Latina.
A África do Sul tem o maior índice de Gini entre os países africanos e o Brasil tem o maior índice de Gini entre os países latino-americanos, sendo também o oitavo mais alto do mundo. Por esse índice, o Brasil sempre esteve entre os primeiros do globo, ficando atrás apenas de países como África do Sul, Namíbia, Moçambique, Zâmbia e Angola.
O Brasil é um país mundialmente conhecido por causa das medidas implementadas para combater a desigualdade social. Reunimos uma lista com 10 políticas e programas mais significativos dos últimos anos.
As possíveis soluções para a desigualdade social no Brasil são desafiadoras. O começo passa por aquelas que apresentam resultados mais imediatos e que são relacionadas ao emprego e à renda das pessoas, especialmente em setores que historicamente enfrentam as maiores desvantagens. São esses brasileiros, homens e mulheres da população negra, que necessitam primeiramente de incentivos para a redução do desemprego e o aumento da renda.
O combate à discriminação e à desigualdade de gênero e raça, sobretudo no mundo do trabalho, não é uma política identitária, isto é, que supostamente contemplaria apenas interesses ou perspectivas dos grupos sociais oprimidos. Ao contrário, o combate à desigualdade social traz benefícios a toda sociedade e pode ser considerado uma política social e até econômica.
Outras possíveis soluções para a desigualdade social no Brasil seriam:
Essas medidas representam uma tentativa de enfrentar as desigualdades sociais no Brasil em diferentes aspectos. No entanto, é importante notar que os resultados podem variar, e a eficácia dessas políticas muitas vezes depende da implementação efetiva, da continuidade ao longo do tempo e de um contexto socioeconômico mais amplo.
Saiba mais: Meritocracia — o que é e qual a sua relação com a desigualdade social?
Entre as consequências da desigualdade social no Brasil, a má distribuição de renda e a concentração da riqueza são as principais delas. Elas podem ser observadas de diversas maneiras no cotidiano da população, refletindo uma série de disparidades em acesso a recursos, oportunidades e qualidade de vida:
Tudo isso é muito negativo para a economia do país. Afinal de contas, a desigualdade social no Brasil limita o poder de compra de grandes segmentos da população, o que diminui o crescimento econômico em longo prazo. Além disso, ela causa injustiça social, uma vez que o crescimento econômico obtido não é distribuído equitativamente na sociedade.
Questão 1) Veja a imagem e o texto abaixo:
Apesar de ser um país rico em recursos naturais e com um PIB (Produto Interno Bruto) figurando sempre entre os 10 maiores do mundo, o Brasil é um país extremamente injusto no que diz respeito à distribuição de seus recursos entre a população. Um país rico; porém, com muitas pessoas pobres. [...]
Disponível em: http://migre.me/olqrg. Acesso em: 8 jan. 2014. Fragmento.
Esse texto e essa imagem tratam do fenômeno
a) da violência urbana.
b) da desigualdade social.
c) da poluição atmosférica.
d) do desemprego estrutural.
e) do congestionamento viário.
Gabarito: Alternativa B
Questão 2) Observe os dados sobre a desigualdade social no Brasil e leia o trecho da reportagem:
Brasil atingiu em 2011 a menor desigualdade social da história, diz IPEA
O salário dos 10% mais pobres da população brasileira cresceu 91,2% entre 2001 e 2011. 0 movimento engloba cerca de 23,4 milhões de pessoas saindo da pobreza. Já a renda dos 10% mais ricos aumentou 16,6% no período, de forma que a renda dos mais pobres cresceu 550% sobre o rendimento dos mais ricos, segundo dados divulgados nesta terça-feira pelo Instituto de Pesquisa Económica Aplicada (Ipea). [...]
O crescimento dos salários é o principal indicador para a melhoria, aponta o estudo. É o que responde por 58% da diminuição da desigualdade. Em segundo lugar vem os rendimentos previdenciários. com 19% de contribuição, seguido pelo Bolsa Família, com 13%. Os 10% restantes são benefícios de prestação continuada e outras rendas. [...]
O recorte por regiões mostra que no Nordeste a renda subiu 72.8%. enquanto no Sudeste cresceu 45.8%, sempre no mesmo período de comparação. [...]
Marchbini, Lucas. Pais atingiu em 2011 a menor desigualdade social da história, diz IPEA. Jornal Valor Económico. 25 set 2012.
Disponível em: www.valor.com.br. Acesso em: 18 nov. 2013.
A partir das informações disponíveis, pode-se inferir que:
a) a queda dos índices de desigualdade social no Brasil se deve somente ao aumento do emprego verificado no período na região Nordeste.
b) a desigualdade social manteve-se declinante, principalmente em razão das políticas públicas liberais implementadas nos últimos anos, especialmente no Nordeste.
c) A melhora das condições sociais no país foi resultado do fracasso das políticas públicas de controle da inflação e de distribuição de renda, não somente no Nordeste.
d) a queda na desigualdade social foi resultado de fatores externos, especialmente o longo período sem crises econômicas significativas e o fim da seca no Nordeste.
e) a desigualdade social caiu de maneira significativa, possivelmente resultado da melhoria dos salários e das políticas de transferência de renda, especialmente no Nordeste.
Gabarito: Alternativa E
Créditos das imagens
[1] Bruno Cesar Spada/ Shutterstock
Fontes
ATKINSON, Anthony. Desigualdade: o que pode ser feito? São Paulo: Leya, 2015.
CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: um longo caminho. 3ª ed. Rio de. Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.
GODOI, Marciano Seabra de. Concentração de renda e riqueza e mobilidade social A persistente recusa da política tributária brasileira a reduzir a desigualdade. RIL Brasília a. 59 n. 235 p. 61-74 jul./set. 2022.
Fonte: Brasil Escola - https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/desigualdade-social-no-brasil.htm