O milagre econômico brasileiro foi um período de grande crescimento da economia do país que aconteceu durante a Ditadura Militar, mais precisamente entre os anos de 1968 e 1973. Diante de um cenário internacional favorável e da necessidade de controle da inflação, um plano de desenvolvimento foi estabelecido e culminou na maior atração de investimentos estrangeiros, na flexibilização do crédito, na ampliação das exportações e na diversificação da indústria. O PIB do Brasil crescia, em média, 10% ao ano, ao mesmo tempo em que a inflação foi controlada.
Em contrapartida, houve o arrocho salarial e o aprofundamento das desigualdades socioeconômicas no país, sem contar na expansão da dívida externa brasileira. As grandes obras de engenharia, como a Usina de Itaipu e a Transamazônica, auxiliaram na expansão da rede de infraestrutura do país, ao mesmo tempo em que ocasionaram impactos no meio ambiente. No ano de 1973, a conjuntura interna e a crise econômica internacional, originada com o choque do petróleo, desaceleraram o crescimento brasileiro e contribuíram para o fim do milagre econômico.
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O milagre econômico brasileiro foi um período da história do país caracterizado pelo crescimento sem precedentes da economia nacional em função da execução de um plano desenvolvimentista que foi posto em prática durante a Ditadura Militar. O fortalecimento econômico do Brasil que teve lugar nessa fase, contudo, também ficou marcado pelo aprofundamento das desigualdades socioeconômicas do país e pela expansão da dívida externa na mesma proporção.
O chamado milagre econômico se estendeu de 1968 a 1973, abrangendo os governos dos presidentes e generais Artur Costa e Silva e Emílio Garrastazu Médici. Pode-se dizer, no entanto, que a sua gestação se iniciou ainda em 1967, tão logo Costa e Silva assumiu a presidência e reformulou a composição do Ministério da Fazenda, que passou a ter à frente Antônio Delfim Netto.
O milagre econômico brasileiro se instalou durante os primeiros anos da Ditadura Militar, período marcado por uma sucessão de governos militares iniciado no ano de 1964 após um golpe de Estado que destituiu o então presidente da República, João Goulart, e contou com apoio parcial do Congresso Nacional. Com duração de 21 anos, a ditadura brasileira teve como principal característica a forte repressão política e social, a censura, o bipartidarismo e a promulgação dos Atos Institucionais (Ais), que serviram como instrumento para legitimar as ações que vinham sendo tomadas pelos governos militares.
Quando do milagre econômico, estava em execução o Ato Institucional nº 5, o AI-5, responsável pelo período de maior autoritarismo e repressão da ditadura militar brasileira. Sua promulgação foi seguida da escalada de violência institucional, com ampliação da censura, permissão para o fechamento do Congresso Nacional e perseguição de oponentes políticos, o que resultou em inúmeros casos de tortura e desaparecimentos.
Do ponto de vista da economia, houve, de certa maneira, a continuidade de um projeto voltado para o crescimento pautado pela ampliação dos investimentos em diferentes setores|1| e pelo controle da inflação de demanda|2| que vinha sendo registrada desde então. Diante da conjuntura externa favorável, houve o maior estímulo aos investimentos estrangeiros, notadamente na indústria, e ampliação do crédito e das isenções fiscais ofertadas a setores estratégicos. Em contrapartida, a política econômica contava, também, com arrocho salarial como uma medida de estabilização da inflação e redução de gastos.
Nesse sentido, as políticas econômicas que foram desenvolvidas a partir de então também assumiram caráter legitimatório do regime ditatorial e constituíram a base para a construção do período que ficou conhecido como milagre econômico brasileiro.
As causas do milagre econômico brasileiro foram as políticas de desenvolvimento implementadas durante o governo Costa e Silva, e que tiveram continuidade sob Médici, focadas no incremento do setor privado, com destaque para a atividade industrial, na atração de investimentos estrangeiros e na expansão da infraestrutura de serviços do território nacional. Houve, nesse período, a flexibilização das políticas fiscais e de crédito, com o crescimento da oferta de subsídios para segmentos como o da agricultura, o que fomentou as exportações e garantiu a internacionalização da produção agropecuária nacional.
Dois foram os planos econômicos de maior importância para a viabilização desse período de fortalecimento da economia brasileira:
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O milagre econômico brasileiro teve como principal característica o aumento acentuado do PIB anual do país, que chegou a crescer 11,2% no ano de 1968. No período subsequente, a economia nacional cresceu cerca de 10% anualmente até 1973. Ao mesmo tempo, a inflação atingiu um patamar máximo de 25,8% também em 1968 e, a partir de então, entrou em declínio como resultado direto da política econômica adotada no período. No ano de 1973, a inflação era de 15,6%.
Houve um grande incentivo para o ingresso do capital internacional no espaço brasileiro, o que se deu por meio do fomento às exportações e, ainda, programas de atração de investimentos que garantiam incentivos fiscais e vantagens locacionais. Um deles culminou no estabelecimento da Zona Franca de Manaus na região Norte do Brasil, um dos principais polos de desenvolvimento industrial do país atualmente. À época, a ZFM já era uma ideia que havia sido concebida na década de 1950, mas sua execução e implementação mediante a oferta de incentivos fiscais ocorreram pelo Decreto-Lei nº 288, assinado pelo então presidente Castello Branco.
Diante disso, já conseguimos traçar alguns dos pontos positivos e dos pontos negativos do milagre econômico brasileiro.
O financiamento público de grandes projetos de infraestrutura foi um dos marcos do milagre econômico brasileiro, que repercutiu na indústria da construção civil e promoveu a geração de postos de trabalho nas áreas em que foram desenvolvidos. Em contrapartida, impactos socioambientais, incluindo desapropriações em áreas que foram posteriormente ocupadas por hidrelétricas, por exemplo, e denúncias de exploração da mão de obra e violações dos direitos trabalhistas também fazem parte desse período.
A seguir, listamos as três principais obras que foram executadas durante o milagre econômico:
O milagre econômico chegou ao fim em 1973. O elevado número de empréstimos que foram contraídos no exterior fizeram a dívida externa brasileira aumentar de forma significativa. Segundo mostram dados do Ipea, de US$ 4 bilhões em 1968, a dívida bruta subiu para US$ 14,8 bilhões em 1973. A inflação havia retornado sua curva ascendente, ao mesmo tempo em que aumentava a taxa de juros e diminuía o crescimento econômico do país. Ainda assim, os PNDs continuaram a ser lançados, embora não viessem obtendo o retorno positivo que era esperado.
O cenário econômico internacional se tornou adverso com a instalação de uma nova crise econômica. Dessa vez, a Guerra do Yom Kippur resultou em um embargo na venda de petróleo dos países da Opep para as nações do Ocidente alinhadas com Israel, como os Estados Unidos, causando um aumento repentino no preço do barril. Com isso, ocorreu o primeiro choque do petróleo, em 1973, que afetou economias nacionais em todo o mundo e contribuiu para o encerramento do ciclo do milagre brasileiro.
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Questão 1
(Univesp) O período do chamado “milagre” estendeu-se de 1969 a 1973, combinando o extraordinário crescimento econômico com taxas relativamente baixas de inflação. O PIB cresceu na média anual 11,2%, tendo seu pico em 1973, com uma variação de 13%.
(Boris Fausto. História do Brasil, 1994.)
Um dos fatores que propiciou esse “milagre” no Brasil foi
a) a redução dos gastos públicos com a ampliação do programa de privatizações.
b) a política governamental de aumentos salariais acima da inflação
c) a crise internacional do petróleo responsável pelo encarecimento dos insumos.
d) a proibição de importação de tecnologia e de bens de produção.
e) a disponibilidade de capital estrangeiro para empréstimos e investimentos.
Resposta: Alternativa E. O ingresso de capital estrangeiro no Brasil foi um dos fatores de maior importância para o milagre econômico.
Questão 2
(UECE) Apesar do propalado “Milagre Econômico”, ocorrido durante os governos militares estabelecidos após o golpe de 1964, constata-se que, nesse período, a dívida externa do Brasil passou de 3,1 bilhões de dólares, em 1964, para 95,8 bilhões em 1985; a inflação anual, entre idas e vindas, passou de 35% ao ano, em 1965, para uma inflação anual de 224% em 1984; em 1963, os trabalhadores que recebiam salário-mínimo gastavam 40,97% de seu salário na compra da ração essencial mínima: após dez anos, esse gasto já passava de 60% do salário e, ao final do ciclo de governos militares, o gasto do trabalhador com alimentação atingia 74,38% do salário-mínimo.
CAMPOS, Flávio de; DOLHNIKOFF, Miriam. Atlas História do Brasil. São Paulo: Scipione, 2000. COSTA, Edmilson Silva. A Política salarial no Brasil 1964-1985: 21 anos de arrocho salarial e acumulação predatória. Campinas-SP: [s.n.], 1996.
Considerando os dados econômicos referentes ao período dos governos militares no Brasil pós-1964, é correto afirmar que:
a) eles provam o fato de que os governos militares promoveram o fortalecimento econômico com distribuição de riqueza
b) no período dos governos militares, apesar dos avanços estruturais, houve empobrecimento dos trabalhadores e aperto salarial.
c) os ótimos resultados econômicos foram o motivo de os governos militares terem permanecido até a eleição de Fernando Collor de Mello em 1989.
d) o Milagre Econômico baseou-se no aumento da produção de riqueza no país, aliado a uma forte política de distribuição igualitária de renda.
Resposta: Alternativa B. Durante esse período, houve importantes avanços estruturais e na economia de um modo geral, com grande crescimento do PIB. Contudo, essa fase da história brasileira também ficou marcada pela ampliação das desigualdades socioeconômicas e pelo arrocho salarial.
Notas
|1| |2| LAGO, Luiz Aranha Correa do. Verbete: Milagre econômico brasileiro. FGV CPDOC. Atlas Histórico do Brasil. FGV, [2023]. Disponível em: https://atlas.fgv.br/verbete/6001.
|3| BARRUCHO, Luís. Os números por trás do 'milagre econômico' da ditadura no Brasil. BBC, 13 dez. 2024. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c17d57rqeexo.
Créditos das imagens
Fontes
ALENCAR, Júlia. Exposição na USP mostra os impactos de construções realizadas na ditadura militar. Jornal da USP, 11 abr. 2024. Disponível em: https://jornal.usp.br/cultura/exposicao-na-usp-mostra-os-impactos-de-construcoes-realizadas-na-ditadura-militar/.
BARRUCHO, Luís. Os números por trás do 'milagre econômico' da ditadura no Brasil. BBC, 13 dez. 2024. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c17d57rqeexo.
DIAS, Adriana Machado. História: área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas – Volume único: Ensino médio. São Paulo: Ática, 2024. 1 ed.
FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1995.
IPEA. Dívida externa bruta – total (inclui empréstimos intercompanhias). IPEA Data, 2025. Disponível em: http://www.ipeadata.gov.br/Default.aspx.
PINHEIRO, Karina. Relembre a história da Transamazônica, a utópica rodovia na Amazônia. Portal Amazônia, 05 set. 2022. Disponível em: https://portalamazonia.com/amazonia/relembre-a-historia-da-transamazonica-a-utopica-rodovia-na-amazonia/.
SANZ, Beatriz; MENDONÇA, Heloísa. O lado obscuro do ‘milagre econômico’ da ditadura: o boom da desigualdade. El País, 28 nov. 2017. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2017/09/29/economia/1506721812_344807.html.
SUFRAMA. História da Zona Franca de Manaus. Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), [s.d.]. Disponível em: https://www.gov.br/suframa/pt-br/assuntos/historia-da-zona-franca.
Fonte: Brasil Escola - https://brasilescola.uol.com.br/historiab/milagre-economico-brasileiro.htm