Cidades-esponja são cidades que foram projetadas para absorver um maior volume de águas pluviais. Esse conceito urbanístico foi criado pelo arquiteto chinês Kongjian Yu (1963-2025) e implementado pela primeira vez no Parque Científico de Zhongguancun, em Pequim. Hoje as cidades-esponja são parte do planejamento urbano do país e têm ganhado cada vez mais espaço em todo o mundo. A composição das cidades-esponja é feita a partir de infraestruturas como telhados verdes, parques alagáveis, jardins de chuva e outras intervenções no meio urbano que absorvem, armazenam e purificam a água.
Além de aumentar a resiliência das cidades em um período marcado pelas mudanças climáticas, as cidades-esponja amenizam os efeitos das ilhas de calor, melhoram a qualidade do ar e garantem maior bem-estar para a população que vive nos centros urbanos.
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Cidades-esponja são um projeto urbanístico alinhado com o conceito de cidade sustentável caracterizado pela ampliação das áreas verdes e infraestruturas necessárias para captação de água nas cidades. De forma simplificada, uma cidade-esponja é uma cidade sensível à água|1|. Esse projeto tem como principal função aumentar a absorção, o armazenamento e a purificação de água no espaço urbano a fim de diminuir a ocorrência de alagamentos, aumentar a disponibilidade hídrica e melhorar o microclima das cidades.
O conceito de cidades-esponja surgiu na China no começo dos anos 2000, muito embora o projeto para o manejo do sistema de captação hídrica no meio urbano tenha sido desenvolvido ainda em meados da década de 1990.
Sua primeira aplicação aconteceu no Parque Científico de Zhongguancun, localizado no Distrito de Changping, em Pequim, e considerado o principal polo tecnológico do país. A partir de então, o projeto se expandiu para diversos campus universitários e, em 2013, passou a ser discutido nacionalmente em caráter estratégico um ano após a capital chinesa enfrentar a sua pior chuva em mais de seis décadas. Com isso, pode-se afirmar que a China foi o país pioneiro na implementação das cidades-esponja, que se tornaram parte dos planos urbanísticos oficiais a partir do ano de 2014.
Hoje em dia, contudo, Auckland, na Nova Zelândia, é considerada a cidade mais “esponjosa” do mundo, com 50% de cobertura verde que absorve aproximadamente 35% da água que chega até o solo na forma de precipitação.
As cidades-esponja são constituídas a partir da integração de infraestrutura verde, ou sustentável, que são instrumentos responsáveis pela absorção e armazenamento de água. A vegetação é, sem dúvidas, um dos elementos mais importantes nesse tipo de projeto urbanístico, mas a sua presença está atrelada a outros recursos que auxiliam na execução das diferentes tarefas que são previstas nas cidades-esponja. Com isso, são estruturas presentes nas cidades-esponja:
Além dessas, existem outras estruturas que podem ser incorporadas ao espaço urbano para aumentar a permeabilidade e a absorção de água:
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As cidades-esponja funcionam a partir da implementação da infraestrutura específica que conhecemos acima, que torna o espaço urbano mais sensível à presença de água. Isso significa que, a partir do uso integrado de diferentes tipos de recursos, a cidade consegue fazer a absorção de um maior volume de água pluvial (das chuvas). Assim, o excesso de água que normalmente ficaria acumulado sobre o pavimento impermeável, alagando ruas e avenidas, tem um outro destino: ele fica armazenado em grandes reservatórios artificiais, próprios para essa finalidade, ou são reincorporados ao solo e à natureza.
Passado o período chuvoso, a água que ficou retida em piscinas, lagos ou bacias artificiais é liberada de maneira controlada nos mananciais ou utilizada para a limpeza de espaços públicos e para a irrigação. Além disso, uma parte retorna para a atmosfera por meio do processo natural de evapotranspiração.
As cidades-esponja foram criadas com o objetivo de aumentar a resiliência das cidades em um contexto de mudanças climáticas por meio da ampliação da sua capacidade de absorver e armazenar a água das chuvas. Dessa maneira, esse modelo surge como uma solução inovadora e sustentável para o manejo das águas pluviais no espaço urbano.
Algumas cidades brasileiras já apresentam recursos que são observados nas cidades-esponja. Contudo, mesmo essas áreas urbanas ainda não estão totalmente adaptadas ao modelo de cidade verde e não podem ser consideradas, de fato, uma cidade-esponja.
Em Curitiba, no estado do Paraná, o Parque Barigui apresenta um lago cuja principal função é reter o excesso de água proveniente das cheias do rio Barigui. Existem outros parques curitibanos com essa mesma função.
No Rio Grande do Sul, municípios que circundam a Lagoa dos Patos apresentam campos úmidos que auxiliam a reter a água excedente da laguna. O estado, aliás, se tornou o centro das discussões sobre a implementação de infraestrutura verde nas cidades após a tragédia que aconteceu em maio de 2024, quando chuvas sem precedentes atingiram o Sul do Brasil e causaram cheias históricas. Cerca de 95% das cidades gaúchas foram afetadas por enchentes, e 600 mil pessoas ficaram desabrigadas.
A transformação das cidades brasileiras em áreas mais sensíveis à água depende de inúmeros fatores, sendo um deles a própria infraestrutura urbana presente no país. A maior parte das cidades do Brasil tem algum tipo de problema relacionado com a precariedade das redes de abastecimento, inúmeros assentamentos informais e climas distintos, conforme pontuou o próprio criador do conceito de cidades-esponja em entrevista ao Brasil Escola.|2|
Devido a isso, elas exigem um plano urbanístico que seja adaptado aos aspectos do seu próprio tecido urbano, aliado com o clima e o bioma local. Com isso, além da garantia de eficácia da infraestrutura verde, a cobertura vegetal consegue cumprir adequadamente o seu papel ecológico.
O conceito de cidades-esponja foi criado pelo arquiteto chinês Kongjian Yu (1963-2025), que atuou como consultor do governo chinês, professor na Universidade de Pequim e diretor e fundador da empresa Turenscape, que tem se dedicado à implementação de infraestrutura verde e azul em cidades de diferentes partes do mundo.
Créditos da imagem
Notas
|1| REDAÇÃO. Cidades-esponja na China e no resto do mundo: saiba onde essas metrópoles inteligentes já existem. National Geographic, 28 mai. 2024. Disponível em: https://www.nationalgeographicbrasil.com/meio-ambiente/2024/05/cidades-esponja-na-china-e-no-resto-do-mundo-saiba-onde-essas-metropoles-inteligentes-ja-existem.
|2| VECHI, Tiago. Cidades-esponja e o combate às inundações no Brasil. Brasil Escola, 05 jul. 2024. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/noticias/cidades-esponja-e-o-combate-as-inundacoes-no-brasil/3131666.html.
Fontes
DE URBANISTEN. Watersquare Benthemplein. De Urbanisten, [s.d.]. Disponível em: https://www.urbanisten.nl/work/benthemplein.
EVANS, Kate. The 'spongy' cities of the future. BBC, 23 ago. 2022. Disponível em: https://www.bbc.com/future/article/20220823-how-auckland-worlds-most-spongy-city-tackles-floods.
GUIMARÃES, Ligia. Os modelos "cidades-esponja" que já existem no Brasil. DW, 13 jun. 2024. Disponível em: https://www.dw.com/pt-br/os-modelos-cidades-esponja-que-j%C3%A1-existem-no-brasil/a-69353578.
JONES, Frances. Como as cidades-esponja podem ajudar a prevenir enchentes. Revista Pesquisa FAPESP, 25 jun. 2024. Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/como-as-cidades-esponja-podem-ajudar-a-prevenir-enchentes-nas-cidades/.
REDAÇÃO; DW. O que é um 'parque alagável', que salvou Dinamarca de 'chuva do milênio'. UOL Notícias, 08 mai. 2024. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2024/05/08/o-que-sao-parques-alagaveis.htm.
REDAÇÃO. O que são cidades-esponja, conceito criado por arquiteto chinês morto em acidente aéreo no Pantanal. G1, 24 set. 2025. Disponível em: https://g1.globo.com/meio-ambiente/noticia/2025/09/24/o-que-sao-cidades-esponja-conceito-criado-por-arquiteto-chines-morto-em-acidente-aereo-no-pantanal.ghtml.
TURENSCAPE. Sponge city: Theory and practice by Kongjian Yu and his team. Turenscape, [s.d.]. Disponível em: https://www.turenscape.com/topic/en/spongecity/index.html.
Fonte: Brasil Escola - https://brasilescola.uol.com.br/geografia/cidades-esponja.htm