A literatura indígena é produzida por autores indígenas e tem como principal temática a cultura indígena. A valorização da identidade e o caráter político são as principais características desse tipo de literatura. Ela dá destaque para a tradição oral, para os elementos mitológicos ou espirituais, e para a ancestralidade.
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A literatura indígena é aquela produzida por autores indígenas e tem como temática principal a experiência indígena, marcada por elementos culturais e pela diversidade.
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A presença do indígena na literatura brasileira ocorre desde 1500. Personagens indígenas aparecem nos textos do quinhentismo e por meio do olhar do colonizador. Além disso, o indígena foi tratado como herói idealizado na literatura romântica. De forma mais realista, esteve presente também na primeira geração modernista.
Porém, até então, a temática indígena estava presente em obras de autores não indígenas. Foi apenas no final do século XX que surgiram as primeiras publicações da literatura indígena brasileira, isto é, escrita por autores indígenas. Obviamente, estamos falando de uma literatura escrita em língua portuguesa.
Devemos lembrar que a literatura indígena oral sempre fez parte da cultura dos povos indígenas brasileiros, portanto, ela já existia muito antes de 1500. Já a literatura indígena brasileira contemporânea é marcada pela narrativa de lendas e a valorização de elementos mitológicos, obras normalmente voltadas para o público infantil e adolescente.
A literatura indígena coloca em evidência a cultura dos povos indígenas. Se pensamos tal literatura no contexto das comunidades indígenas, ela é importante para o fortalecimento da identidade desses povos. Já no contexto não indígena, ela surge como uma forma de conscientizar o não indígena acerca dessa cultura.
Ela se mostra também como uma estratégia de luta e resistência. Por meio dessa literatura, é possível, finalmente, ter acesso ao ponto de vista dos povos indígenas acerca de sua história e da história de seu país. Além disso, as obras indígenas fazem parte da tradição de uma nação, pois a diversidade está presente em todas as culturas.
Questão 1
No princípio o mundo não existia. As trevas cobriam tudo. Enquanto não havia nada, apareceu uma mulher por si mesma. Isso aconteceu no meio das trevas. Ela apareceu sustentando-se sobre o seu banco de quartzo branco. Enquanto estava aparecendo, ela cobriu-se com seus enfeites e fez como um quarto. Esse quarto chama-se Uhtãboho taribu, o “Quarto de Quartzo Branco”. Ela se chamava Yebá Buró, a “Avó do Mundo” ou, também “Avó da Terra”.
[...]
Depois ela pensou em colocar pessoas nesta grande Maloca do Universo. Voltou a mascar ipadu e a fumar o cigarro. Todas essas coisas eram especiais, não eram feitas como as de hoje. Ela tirou então o ipadu da boca e o fez transformar-se em homens, os “Avôs do Mundo” (Umukoñehkusuma). Eles eram Trovões. Esses Trovões eram chamados em conjunto Uhtãbohowerimahsã, quer dizer os “Homens de Quartzo Branco” porque eles são eternos, eles não são como nós. Isso ela fez no Quarto de Quartzo Branco, no lugar onde apareceu. Em seguida, ela saudou os homens por ela criados, chamando-os Umukosurã, isto é, “Irmãos do Mundo”. Isto é, os saudou como se fossem os seus irmãos. Eles responderam, chamando-a Umukosurãñehkõ, “Tataravó do Mundo”, quer dizer que ela era avó de todo ser que existe no mundo.
[...]
PÃRÕKUMU, Umusi; KEHÍRI, Tõrãmu. Antes o mundo não existia. 2. ed. São João Batista do Rio Tiquié: UNIRT; São Gabriel da Cachoeira: FOIRN, 1995.
O fragmento é parte de uma das principais obras indígenas brasileiras. Além do fato de tal obra ser escrita por autores indígenas, é perceptível nela também esta marca da literatura indígena:
A) Revisão da história oficial.
B) Elementos autobiográficos.
C) Tematização de mitos indígenas.
D) Marcas da violência histórica.
E) Visão eurocêntrica.
Resolução:
Alternativa C.
O fragmento mostra elementos da mitologia indígena ao relatar como o mundo e a humanidade foram criados. É preciso destacar que o caráter mitológico está associado à visão de pessoas não indígenas. Afinal, para os integrantes do grupo indígena desano, são elementos relativos à espiritualidade de seu povo.
Questão 2
Uma menina saudável,
Com o nome a definir,
Vovó a chamou Auritha,
Mas, quando foi traduzir,
Um ancestral lhe contou
“Aryrey” está a vir;
Mas, para se registrar,
Seguiu a modernidade
Com o nome de Francisca,
Pois, para a sociedade,
Fêmea tem nome de santa
Padroeira da cidade.
TABAJARA, Auritha. Coração na aldeia, pés no mundo. Lorena: UK’A Editorial, 2018.
Nos versos irônicos da poetisa Auritha Tabajara, é possível apontar estas características da literatura indígena:
A) Revisão da história oficial e mitologia indígena.
B) Elementos autobiográficos e hibridismo cultural.
C) Diversidade cultural e amor à terra.
D) Marcas da violência colonial e resistência política.
E) Visão feminista e choque cultural.
Resolução:
Alternativa B.
O texto apresenta elementos autobiográficos, pois conta sobre a escolha do nome da autora. Além disso, possui marcas de hibridismo cultural, ou seja, uma mescla entre a cultura indígena e a não indígena. Já a possível visão feminista impressa na ironia final pode ser vista como uma característica universal, não um elemento particular da literatura indígena.
Fontes
JACOB, Lívia Penedo. O uirapuru, a águia e o condor: as literaturas indígenas de abya yala. Ilha do Desterro, Florianópolis, v. 75, n. 2, p. 165-183, maio/ ago. 2022.
SILVA, Carina Oliveira. Literatura indígena: retomada, protagonismo e resistência. 2021. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2021.
SOUZA, Luciane Azeredo de. A literatura indígena no contexto escolar: caminhos para a formação de leitores. 2024. Dissertação (Mestrado em Letras) – Centro de Educação e Humanidades, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, São Gonçalo, 2024.
Fonte: Brasil Escola - https://brasilescola.uol.com.br/literatura/literatura-indigena.htm