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Apóstrofe

A apóstrofe é uma figura de pensamento que expressa um chamamento ou uma interpelação.

Apóstrofe é uma figura de linguagem, mais precisamente uma figura de pensamento, que consiste em uma interpelação ou invocação. Ela é um vocativo mais expressivo, usado em textos literários principalmente, e não deve ser confundida com o apóstrofo [ ‘ ], um sinal gráfico. Além da apóstrofe, existem outras figuras de pensamento, como: hipérbole, litotes, eufemismo, ironia, prosopopeia, antítese, paradoxo e gradação.

Leia também: Denotação e conotação — qual a diferença?

Resumo sobre apóstrofe

O que é apóstrofe?

Apóstrofe é uma figura de pensamento que consiste na interrupção da fala ou escrita, para fazer uma interpelação ou invocação.

Exemplos de apóstrofe

Não podia suportar, ó Deus!, tanta injustiça.

Não sabes, mulher, o poder que tens.

Por que não veio, ó Lucas, quando te chamei!?

A incompreensão, vasto mundo, está em ti.

Quais são as diferenças entre apóstrofe e vocativo?

O vocativo é um chamamento, uma interpelação, uma invocação. É um termo independente da oração, pois não faz parte de sua estrutura. Ele aparece sempre separado por vírgula. Portanto, a apóstrofe é um vocativo que assume a função de figura de linguagem quando extrapola sua função denotativa para dar mais expressividade à frase.

Por exemplo:

Maria, preciso que me entregue o orçamento até amanhã.

Nesse caso, o vocativo “Maria” é apenas uma invocação em um enunciado denotativo, ou seja, que apresenta apenas um sentido. Agora, observe este enunciado:

Preciso que me entregue, ó Maria!, o meu coração.

Note que existe um caráter emotivo nesse enunciado, de forma a dar maior ênfase ao vocativo. Assim, percebemos que a relação entre o enunciador da frase e Maria possui sutilezas não explícitas, mas apenas sugeridas. Portanto, o contexto indicará se o vocativo é também uma apóstrofe, isto é, se está sendo ou não empregado como uma figura de linguagem.

Apóstrofe na literatura

O uso da apóstrofe na literatura ocorre, principalmente, em poemas, tanto épicos quanto líricos:

Isto tudo lhe houvera a diligência
De Monçaide fiel, que também leva,
Que, inspirado de Angélica influência,
Quer no livro de Cristo que se escreva.
Oh, ditoso Africano, que a clemência
Divina assi tirou de escura treva,
E tão longe da pátria achou maneira
Pera subir à pátria verdadeira!

[...]

Que o grão Senhor e Fados, que destinam,
Como lhe bem parece, o baixo mundo,
Famas, mores que nunca, determinam
De dar a estes barões no mar profundo.
Aqui vereis, ó Deuses, como ensinam
O mal também a Deuses; que, a segundo
Se vê, ninguém já tem menos valia
Que quem com mais razão valer devia

[...]

CAMÕES, Luís Vaz de. Os Lusíadas. Disponível aqui.

Desce do espaço imenso, ó águia do oceano!
Desce mais, inda mais... não pode olhar humano
Como o teu mergulhar no brigue voador.
Mas que vejo eu ali... Que quadro de amarguras!
É canto funeral!... Que tétricas figuras!...
Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que horror!

CASTRO ALVES. O navio negreiro: tragédia no mar. In: RIMOGRAFIA, Slim. O navio negreiro. São Paulo: Panda Books, 2011.

Mas a apóstrofe também pode estar presente na prosa, principalmente na romântica:

— Calai-vos, malditos! a imortalidade da alma? pobres doidos! e porque a alma é bela, porque não concebeis que esse ideal possa tornar-se em lodo e podridão, como as faces belas da virgem morta, não podeis crer que ele morra? Doidos! nunca velada levastes porventura uma noite a cabeceira de um cadáver? E então não duvidastes que ele não era morto, que aquele peito e aquela fronte iam palpitar de novo, aquelas pálpebras iam abrir-se, que era apenas o ópio do sono que emudecia aquele homem? Imortalidade da alma! e por que também não sonhar a das flores, a das brisas, a dos perfumes? Oh! não mil vezes! a alma não é, como a lua, sempre moça, nua e bela em sua virgindade eterna! a vida não é mais que a reunião ao acaso das moléculas atraídas: o que era um corpo de mulher vai porventura transformar-se num cipreste ou numa nuvem de miasmas; o que era um corpo do verme vai alvejar-se no cálice da flor ou na fronte da criança mais loira e bela. [...]

ÁLVARES DE AZEVEDO. Noite na taverna. Disponível aqui.

Quais são as diferenças entre apóstrofe e apóstrofo?

Figuras de linguagem

As figuras de linguagem são responsáveis pela plurissignificação nos textos, ou seja, apresentam sentido conotativo. As figuras podem ser:

Veja também: Quais são as funções da linguagem?

Exercícios resolvidos sobre apóstrofe

Questão 1

(Ufla)

Ó mar salgado, quanto de teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

(Fernando Pessoa — fragmento)

Fundamentando-se nos versos do poema de Fernando Pessoa, marque a alternativa CORRETA.

A) O emprego da vírgula no primeiro verso justifica-se por separar uma expressão explicativa.

B) Se o pronome de tratamento escolhido fosse lhe, a forma dos verbos não sofreria alteração.

C) O vocativo “Ó mar salgado, [...]” (verso 1) corresponde à figura de linguagem chamada apóstrofe.

D) Quanto à forma, o poema obedece rigidamente às normas métricas usadas por Camões.

E) Ao dirigir-se ao mar, o eu-lírico acusa-o de culpado pelas mortes ocorridas.

Resolução:

Alternativa C

A vírgula, no primeiro verso, tem a função de separar o vocativo ou a apóstrofe. Já no terceiro verso, se fosse utilizado “lhe” em vez de “te”, o último verso seria assim escrito: “Para que fosse nosso, ó mar!”. No mais, os versos não possuem o mesmo número de sílabas, de forma que o poema não apresenta decassílabos em todos os versos, como é comum nos poemas camonianos. Por fim, as lágrimas a que se refere o poema dizem respeito ao sofrimento da despedida, não necessariamente à morte, e, mesmo que fosse o caso, não seria uma acusação, e sim apenas uma constatação.

Questão 2

As alternativas a seguir contêm versos do poeta romântico Álvares de Azevedo, retirados de seu livro Lira dos vinte anos. A única que NÃO apresenta uma apóstrofe é a alternativa:

A) “Donzela! Se tu quiseras/ Ser a flor das primaveras/ Que tenho no coração:”

B) “Dorme, ó anjo de amor! no teu silêncio/ O meu peito se afoga de ternura...”

C) “Meu Deus! por que não morri?/ Por que no sono acordei?”

D) “Deus sabe se te amei!... Não te maldigo,/ Maldigo o meu amor!...”

E) “Dorme, meu coração! Em paz esquece/ Tudo, tudo que amaste neste mundo!”

Resolução:

Alternativa D

São apóstrofes: “Donzela!” (alternativa A), “ó anjo de amor!” (alternativa B), “Meu Deus!” (alternativa C) e “meu coração!” (alternativa E).

 

Por Warley Souza
Professor de Português


Fonte: Brasil Escola - https://brasilescola.uol.com.br/gramatica/apostrofe-um-recurso-estilistico-linguagem.htm