O hinduísmo é a principal religião na Índia e uma das principais religiões na atualidade, sendo praticada por mais de 1 bilhão de pessoas em todo o mundo. A religião que atualmente chamamos de hinduísmo começou a se desenvolver por volta de 1500 a.C., na região do subcontinente indiano, e se transformou, ao longo dos milênios, no atual hinduísmo.
O hinduísmo influencia diretamente na forma de pensar, de se relacionar, de se alimentar, entre diversos outros aspectos da vida cotidiana do praticante. Mais do que uma religião, o hinduísmo é uma forma de vida. Uma das suas principais crenças é a reencarnação, sempre relacionada com o karma do indivíduo.
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O hinduísmo é uma das religiões mais antigas do mundo e uma das principais da atualidade. Para além disso, o hinduísmo é um sistema moral e filosófico. Por não ter uma hierarquia centralizada, ele é plural, tendo diferentes filosofias, rituais e crenças.
O termo hinduísmo foi criado na Europa para nomear diversas práticas religiosas que existem na Índia e que têm algumas características em comum. Muitos indianos utilizam o termo Sanatana Dharma para nomear o hinduísmo, esse termo significa algo próximo de “Dharma Eterno” ou “Ordem Eterna”.
Apesar de ser uma religião milenar, o termo hinduísmo é relativamente novo. Gregos e persas chamavam os habitantes da região da atual Índia de hindus, termo relacionado ao nome do Rio Indo. No século XVI, parte dos indianos passou a usar o termo hindu como forma de diferenciação em relação aos turcos, povo muçulmano que passou a dominar regiões do subcontinente indiano. Foi no século XIX que o termo hinduísmo se popularizou, principalmente após a obra de Monier Monier-Willians, chamada Hinduísmo, que teve alta vendagem na Europa e nos Estados Unidos.
Alguns teólogos definem o hinduísmo como uma religião politeísta por serem cultuados nela centenas de deuses. Outros defendem que ele é monoteísta, uma vez que todos os deuses podem ser considerados uma manifestação de Bhrama, a principal divindade.
Ao contrário da maioria das religiões (como o cristianismo, islamismo, siquismo, budismo e zoroastrismo), o hinduísmo não tem um profeta fundador da religião. Foi por volta de 3500 anos atrás que populações da região do Vale do Rio Indo começaram a sistematizar o hinduísmo e suas principais crenças.
A primeira civilização do Vale do Indo surgiu por volta de 3300 a.C., e perdurou até por volta 1300 a.C. Essa civilização desenvolveu grandes cidades, com sistema de abastecimento de água, construções com tijolos cerâmicos e grandes edifícios públicos. Sua primeira cidade escavada foi Harappa, por isso ela recebeu o nome de civilização harapense ou civilização harapeana.
Foi durante o período da civilização harapense que os vedas, conjunto de escrituras sagradas do hinduísmo, foram compilados pela primeira vez. Os historiadores e arqueólogos acreditam que isso ocorreu entre 1500 a.C. e 900 a.C. Essas escrituras têm cânticos, hinos e preces do hinduísmo. Os principais deuses do hinduísmo são citados nelas.
Geralmente o hinduísmo é dividido em quatro grupos: xivaísmo, shaktismo, vaishnavismo, smartismo, mas essa classificação pode variar de acordo com a interpretação de cada estudioso. Cada divisão do hinduísmo tem outras subdivisões, chamadas muitas vezes de escolas.
No xivaísmo, também denominado xaivinismo ou shaivinismo, o ser supremo é Shiva, conhecido como um deus criador e destruidor. No xivaísmo são valorizadas a vida ascética e a yoga.
O shaktismo, “doutrina do poder” ou “doutrina da deusa”, cultua a deusa Shakti, que pode ser representada de diversas formas. Para os shaktistas, Shakti é a energia e a força pela qual o próprio cosmos foi criado. Muitas vezes a deusa pode ser chamada de Devi e pode, também, ser considerada manifestações femininas de diversos deuses, como de Shiva, quando recebe o nome de Parvati; de Bhrama, sendo chamada de Sarasvati; e de Vishnu, sendo chamada de Lakshmi.
O vaishnavismo, também chamado de vixenuísmo, é a corrente do hinduísmo que tem como principal entidade Vishnu, o deus responsável pela ordem da natureza e da vida humana. Os vaishnavistas acreditam que Vishnu tem diversos avatares, podendo se manifestar de diversas formas, como Krishna, Narayana, Hari, Jagannath, entre diversos outras. O Império Gupta, que existiu entre os séculos IV e VI d.C., foi responsável pela difusão da vaishnavismo, sobretudo no norte da Índia.
O smartismo, também chamado de tradição smarta, se desenvolveu nos primeiros séculos da nossa era. No smartismo são cultuadas cinco divindades principais, Ganesha (deus com cabeça de elefante), Shiva, Shakti, Vishnu e Surya (o deus Sol do hinduísmo). Esses deuses têm ainda diversos avatares, por esse motivo, o smartismo é considerado a mais politeísta das tradições hindus.
A primeira crença importante do hinduísmo é a reencarnação, chamada de sansara. Para os hindus, os pensamentos, ações e falas do indivíduo estão diretamente relacionados à sua reencarnação. Esse sistema ações-pensamentos-reencarnação é conhecido como carma. Também pode ser escrito como karma.
Outra crença do hinduísmo é a predestinação. De acordo com ela, o futuro da pessoa já está definido desde o seu nascimento. Essa crença está diretamente relacionada aos casamentos arranjados, à leitura das mãos (quiromancia) e à importância dada aos mapas astrais, práticas presentes no hinduísmo.
Outra crença que vigorou por muito tempo no hinduísmo foi o sistema de castas, composto por estratos sociais hierarquizados. Cada casta tinha uma função diferente na sociedade. No topo delas, estavam os brâmanes, pessoas de família com poder político e econômico; durante muito tempo, foram a única casta a governar a Índia. Existiam também a casta dos comerciantes, a dos guerreiros, entre diversas outras. A casta dos dalits, chamados também de intocáveis, era a mais baixa delas, e as pessoas desse grupo estavam destinadas a atividades relacionadas à coleta de dejetos, de lixo, à limpeza de esgoto e aos sepultamentos.
A sociedade de castas era estamental, ou seja, as pessoas não tinham mobilidade social e o casamento entre castas diferentes era proibido. Na visão hindu, uma pessoa reencarnou como um dalit, por exemplo, por causa de seu carma. Essa pessoa morrerá como um dalit, mas poderá reencarnar em outra casta, desde que tenha cumprido os purusharthas (os quatro objetivos da vida humana). Atualmente o sistema de castas é proibido na Índia, mas ele ainda persiste no país, sobretudo nas regiões rurais mais isoladas.
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Os purusharthas são quatro objetivos ou metas — dharma, artha, kama e moksha — que todo indivíduo deve ter em vida. Entenda um pouco sobre cada um deles a seguir:
Brahma é considerado a maior divindade para a religião hindu, sendo o criador do Universo, dos seres humanos e até mesmo dos outros deuses. Normalmente é representado com aspecto humano, tendo quatro cabeças e quatro braços. Muitas vezes, ele é representado próximo de um ganso e sentado sobre uma flor de lótus.
Ganesha é o deus com cabeça de elefante atrelado à sabedoria e ao conhecimento. Ele é o general do exército celestial e o removedor de obstáculos na vida do ser humano. Também é um deus protetor, por esse motivo, é comum ver estátuas dele em entradas de templos, residências e outras edificações.
Shiva é o deus da destruição e da reconstrução, é considerado o criador da yoga. Shiva é representado com feições masculinas, com uma cabeça e quatro braços. Muitas vezes, um dos braços segura um tridente, que representa a trindade trimúrti, da qual faz parte junto de Brahma e Vishnu.
Vishnu é outro dos principais deuses do hinduísmo. Ele é responsável pela ordem e sustentação do Universo. Vishnu é representado com quatro braços, cada um deles segurando um objeto diferente: uma concha, um disco de energia, uma flor de lótus e um cajado. Vishnu tem diversos avatares, que podem ter forma humana, animal ou híbrida.
Parvati é a segunda esposa de Shiva e mãe de Ganesha. É considerada a deusa da fertilidade, do amor, da família e do casamento. Geralmente é representada ao lado de Shiva e, algumas vezes, com quatro braços. Pode ser representada, ainda, segurando Ganesha no colo.
Sarasvati é a deusa da sabedoria, das artes, da música, dos professores e dos estudantes. É a primeira esposa do deus Brahma. Geralmente é representada como uma mulher branca e tocando um sitar, instrumento de corda oriental.
Existem diversos rituais no hinduísmo, e eles variam muito dependendo da sua vertente. De modo geral, existem rituais relacionados aos ciclos da vida, aos rituais de iniciação à religião, de adoração e de oração. Ainda, existem festas, cerimônias, procissões e rituais de purificação. A seguir, veremos alguns dos rituais do hinduísmo. Alguns deles são privados, realizados dentro de casa, em família, outros são públicos:
Os vedas são a base das escrituras sagradas do hinduísmo. Os historiadores acreditam que, por volta de 1500 a.C., eles já tinham a forma semelhante à atual. Inicialmente os vedas eram transmitidos oralmente, sobretudo na forma de mantras, e posteriormente passaram a ser registrados em sânscrito, antiga língua do subcontinente indiano. Na língua sânscrita, vedas significa “conhecimentos”.
Os vedas são organizados em quatro obras — Rigveda, Yajurveda, Samaveda e Atharvaveda. Eles discorrem sobre rituais, orações, moral, meditação, conhecimento espiritual, entre diversos outros assuntos relacionados à vida espiritual e cotidiana.
Bagavadeguitá é outro texto sagrado hindu, escrito provavelmente no século VI a.C. O texto poético conta com dois personagens principais, Krishna e Arjuna, uma espécie de aprendiz do hinduísmo que é iluminada pelo próprio Krishna. A obra é a mais importante para o vaishnavismo.
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A filosofia hindu, também chamada de filosofia védica, se desenvolveu de forma concomitante com o hinduísmo. Na língua sânscrita, a palavra darshana era utilizada para nomear o que os ocidentais chamaram de filosofia e significa “ponto de vista”. A filosofia hinduísta reconhece os vedas como importante instrumento de autoridade e da verdade.
A filosofia hindu geralmente é classificada em seis tipos:
Nota
|1|MARASCIULO, Marília. Quatro perguntas e respostas para conhecer o hinduísmo. Globo, 14 abr. 2019. Disponível em: https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/noticia/2019/04/quatro-perguntas-e-respostas-para-conhecer-o-hinduismo.html.
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Fontes
ARAUJO, Tânia. História da Índia antiga. Clube dos Autores, Joinville, 2020.
MARASCIULO, Marília. Quatro perguntas e respostas para conhecer o hinduísmo. Globo, 14 abr. 2019. Disponível em: https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/noticia/2019/04/quatro-perguntas-e-respostas-para-conhecer-o-hinduismo.html.
MASON, Colin. Uma breve história da Ásia. Editora Vozes, São Paulo, 2017.
Fonte: Brasil Escola - https://brasilescola.uol.com.br/religiao/hinduismo.htm