República da Espada (1889-1894)

Na República da Espada, o Brasil foi governado por Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto. Destacaram-se as medidas autoritárias de Deodoro e as revoltas contra o governo de Floriano.

A República da Espada corresponde ao período inicial da Primeira República Brasileira. A fase da Primeira República como um todo corresponde ao período que se iniciou com a Proclamação da República, em 1889, até a Revolução de 1930, que deu início à Era Vargas. Já o período da República da Espada corresponde a um período específico que abrange os governos dos militares Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto.

Antecedentes

A República da Espada foi resultado da Proclamação da República, que aconteceu em 15 de novembro de 1889. Esse evento – entendido pelos historiadores como um golpe – levou ao fim da monarquia no Brasil e deu início à experiência republicana. Foi resultado da crescente insatisfação de diferentes atores políticos do Brasil com a forma de governo monárquica.

A insatisfação política com o governo monárquico pode ser resumida em três grandes eixos, que são:

Na década de 1880, a política brasileira vivia um estado de crise permanente na qual o Império não conseguia atender as demandas das diferentes forças políticas existentes: abolicionistas, escravocratas, republicanos, federalistas etc. Isso fez com que grupos defensores do republicanismo se organizassem e conspirassem contra a monarquia brasileira.

Essa conspiração resultou no golpe que levou à Proclamação da República. Os republicanos, a partir da influência de Quintino Bocaiuva sobre Deodoro da Fonseca, convenceram-no a liderar o golpe contra a monarquia. Apesar de Deodoro da Fonseca ser um monarquista, a sua insatisfação com a monarquia brasileira convenceu-o a derrubar o gabinete de D. Pedro II. Deodoro da Fonseca destituiu o gabinete ministerial no dia 15 de novembro, e as negociações políticas do dia levaram José do Patrocínio a declarar a Proclamação da República no Brasil.

Primeiros anos da República da Espada

Após a Proclamação da República, o marechal Deodoro da Fonseca foi escolhido pelos republicanos para conduzir o Governo Provisório, que administrou o Brasil enquanto as mudanças nas instituições políticas aconteciam. O exército, condutor do golpe, tomou de início algumas medidas em seu benefício, conforme afirma o historiador Thomas E. Skidmore:

Os militares não perderam tempo em receber seu pagamento pelo golpe. Seus salários foram imediatamente aumentados em 50%, uma nova lei foi aprovada regulando a aposentadoria ou promoção imediata de quase todos os altos oficiais (havia notórios desequilíbrios no interior do corpo de oficiais do Exército) e o Exército foi autorizado a aumentar seu contingente de 13 mil para 25 mil soldados|1|.

A Proclamação da República teve como resultado uma aproximação das relações com Argentina (essa aproximação com a Argentina foi curta) e Estados Unidos – duas grandes nações republicanas no continente americano – e gerou o efeito inverso na Inglaterra, que era uma nação representante do monarquismo.

Durante o Governo Provisório, Rui Barbosa foi nomeado como Ministro da Fazenda e, portanto, era responsável pela economia brasileira. Rui Barbosa tomou ações que permitiram a criação de sociedades anônimas e incentivou a emissão de papel-moeda, permitindo que bancos privados a fizessem. O resultado foi desastroso e levou à especulação, falência de empresas, desvalorização da moeda brasileira e alta da inflação.

Essa crise econômica ficou conhecida como Encilhamento (não se sabe ao certo o porquê do uso desse termo) e estendeu-se durante todo o período inicial da Primeira República, sendo solucionada somente por volta de 1897 durante o governo de Prudente de Morais (1894-1898). A crise econômica brasileira esteve inserida dentro do quadro de crise econômica do capitalismo, que se estendia desde 1873.

O governo de Deodoro da Fonseca e a Constituição de 1891

Durante o período em que esteve como presidente no Governo Provisório, as medidas autoritárias de Deodoro da Fonseca chamaram a atenção de determinados grupos políticos do Brasil, que se mobilizaram para redigir uma nova Constituição para o país. Para isso, uma Assembleia Constituinte foi formada.

Essa Constituinte nomeou cinco pessoas responsáveis pela redação do novo documento. Uma vez escrita, a nova Constituição foi revisada por Rui Barbosa e encaminhada para apreciação dos membros da Constituinte. A nova Constituição foi aprovada em 24 de fevereiro de 1891 e substituiu a Constituição (de 1824) do período da Monarquia.

A Constituição de 1891 tinha como principais pontos:

Depois da promulgação da nova Constituição, foram realizadas eleições indiretas, que ratificaram Deodoro da Fonseca como presidente brasileiro e Floriano Peixoto como seu vice em fevereiro de 1891. O marechal Deodoro da Fonseca manteve sua postura autoritária, o que fez com que o presidente entrasse em choque com o Congresso.

A disputa levou o presidente a tomar mais medidas autoritárias (como decretar o fechamento do Congresso) para reforçar o seu poder. No entanto, grupos políticos da oposição reagiram e forçaram o presidente a renunciar em 23 de novembro de 1889. Por lei, era necessária a realização de novas eleições, uma vez que o presidente não estava ocupando o cargo por dois anos (conta-se a partir das eleições de fevereiro de 1891), no entanto, Floriano Peixoto assumiu como presidente brasileiro.

Governo de Floriano Peixoto

Marechal Floriano Peixoto, o segundo presidente do Brasil*
Marechal Floriano Peixoto, o segundo presidente do Brasil*

A posse de Floriano Peixoto somente aconteceu porque o Partido Republicano Paulista – principal força política do Brasil na época – garantiu a sucessão para Floriano. Isso aconteceu porque os paulistas queriam estabilizar o regime republicano e impedir que os monarquistas tomassem o poder. A visão política de Floriano, ainda que moderada, visava a uma nação centralizada em um governo encabeçado pelos militares.

Durante seu mandato, duas grandes rebeliões aconteceram no Brasil e colocaram a ordem republicana em risco. As ações tomadas por Floriano Peixoto na contenção de ambos os movimentos renderam-lhe o apelido de “marechal de ferro”. Essas revoltas foram a Revolução Federalista e a Revolta da Armada:

O governo de Floriano Peixoto estendeu-se até 1894, quando ocorreu a transição para os governos civis. O político paulista Prudente de Morais foi eleito presidente e deu início ao período conhecido como República Oligárquica (1894-1930).

|1| SKIDMORE, Thomas E. Uma História do Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998, p. 108.

*Créditos da imagem: Sergey Kohl e Shutterstock


Por Daniel Neves
Graduado em História


Fonte: Brasil Escola - https://brasilescola.uol.com.br/historiab/republica-espada-1889-1894.htm