Guerra dos Farrapos

A Guerra dos Farrapos foi a mais extensa guerra civil do Brasil. Ela ocorreu no contexto das Revoltas Regenciais.

A Guerra dos Farrapos foi uma guerra civil que ocorreu no Brasil entre 1835 e 1845 e foi travada entre forças farroupilhas, formadas por tropas compostas por habitantes do então São Pedro do Rio Grande do Sul, hoje o estado do Rio Grande do Sul, e tropas do Império do Brasil, que, no início do conflito, foram lideradas pela regência e, no final, pelo jovem imperador Dom Pedro II.

Leia também: Revoltas que ocorreram durante o Período Regencial

Resumo sobre a Guerra dos Farrapos

O que foi a Guerra dos Farrapos?

A Guerra dos Farrapos, também chamada de Revolução Farroupilha, foi uma guerra civil travada entre tropas riograndenses, lideradas por grandes estancieiros da província, e tropas do Império do Brasil. O conflito se iniciou durante o Período Regencial, momento marcado por revoltas em todo o Brasil.

Os termos “farrapos” e “farroupilhas”, que significam algo como “mal-vestido”, já eram utilizados antes da guerra para nomearem de forma pejorativa os liberais no Brasil, e, posteriormente, os termos foram adotados por esse grupo político.

Em 1832, foi fundado em São Pedro do Rio Grande do Sul o Partido Farroupilha, formado por muitos do que, três anos depois, liderariam a Revolução Farroupilha. O termo farroupilha não era utilizado somente pelos gaúchos, no Rio de Janeiro os liberais exaltados possuíam dois jornais que faziam referência ao termo, a “Jurureba dos Farroupilhas” e a “Matraca dos Farroupilhas”.

Contexto histórico da Guerra dos Farrapos

O Período Regencial, no qual a Guerra dos Farrapos ocorreu, foi marcado por um processo de descentralização política que culminou com o Ato Adicional de 1834, por meio do qual foram criadas as assembleias provinciais. A criação da Guarda Nacional também foi importante nesse processo de descentralização, sendo criada em contraponto ao Exército Brasileiro e dando poder às elites regionais e locais.

O governo regencial não foi reconhecido por diversos grupos políticos e sociais em diversas partes do território brasileiro. Por esse motivo, o período foi marcado por instabilidade política e por diversas revoltas em nosso país. Entre elas temos a Cabanagem, a Balaiada, a Sabinada, a Revolta dos Malês e a própria Guerra dos Farrapos.

Foi nesse contexto de descentralização política, de crise de legitimidade do governo regencial e de disputas entre o Partido Conservador e o Partido Liberal que a Guerra dos Farrapos eclodiu em 1835.

Leia também: Golpe da Maioridade — o plano para pôr fim no Período Regencial

Causas da Guerra dos Farrapos

São duas as principais causas da Guerra dos Farrapos, a política e a econômica. Politicamente, no Rio Grande do Sul, assim como em quase todo o Brasil do Período Regencial, dois grupos políticos disputavam o poder, os farroupilhas, membros do Partido Liberal e que defendiam maior poder de decisão para a assembleia provincial; e os caramurus, membros do Partido Conservador que defendiam a centralização política e maior poder decisório para o governo do Império.

Na época, o governo da província era exercido por um político nomeado pelo Império, não pelo poder legislativo provincial. No Rio Grande do Sul, em 1834, foi eleita uma assembleia provincial de maioria liberal. Na época o governador era Antônio Rodrigues Fernandes Braga, membro do Partido Conservador e indicado pelo governo regencial.

A assembleia de maioria farroupilha rompeu politicamente com o governador, que acusou os membros do Partido Liberal de insurreição, de traição ao império e de serem separatistas. Essa crise política foi o estopim da Revolução Farroupilha.

Líderes farroupilhas, a maior parte deles estancieiros, realizaram reuniões e decidiram que, em 20 de setembro de 1835, tomariam a cidade de Porto Alegre e destituiriam o governador conservador, o que de fato acabou acontecendo, embora Porto Alegre ficasse pouco tempo sob o controle farrapo.

O dia 20 de setembro de 1835 é considerado o marco inicial da guerra, e a data atualmente é feriado no Rio Grande do Sul, estando presente ainda na bandeia e no brasão do estado.

Brasão do Rio Grande do Sul que faz diversas referências à Guerra dos Farrapos.
Brasão do Rio Grande do Sul que faz diversas referências à Guerra dos Farrapos, inclusive com o nome do Estado farrapo, “República Rio-Grandense”.

A causa econômica da guerra estava relacionada ao charque, o principal produto da economia rio-grandense no período. Os estancieiros gaúchos, grandes senhores de terras que possuíam muitos escravos, capangas armados e eram na maioria membros do Partido Liberal, exigiam que os impostos sobre o charque gaúcho fossem reduzidos e que o governo aumentasse os impostos do charque argentino e uruguaio, na época menores que os impostos pagos pelos estancieiros brasileiros. Os gaúchos ainda exigiam que o imposto cobrado sobre o gado importado das regiões platinas fosse reduzido.

Objetivos da Guerra dos Farrapos

A maioria dos pesquisadores defende que o objetivo inicial dos farroupilhas era apenas depor o governador do partido adversário e atingir os objetivos fiscais, a redução dos impostos pagos pelos estancieiros e o aumento dos impostos sob os concorrentes vizinhos, sem a pretensão de separar São Pedro do Rio Grande do Sul do Brasil.

Contudo, com a forte repressão sofrida pelas forças regenciais, o processo revolucionário se radicalizou e o separatismo e a proclamação de uma república se tornaram os principais objetivos, o que de fato aconteceu em 11 de setembro de 1836, quando a República Rio-Grandense, também chamada de República Piratini, foi proclamada.

Como foi a Guerra dos Farrapos

A Guerra de Farrapos durou quase uma década e nela a principal tática utilizada pelos farrapos foi uma guerrilha de cavalaria, mantendo sobre o seu controle boa parte da área rural, onde os estancieiros tinham grande influência, poder político e militar.

Durante todo o conflito, os farrapos não conseguiram manter cidades em suas mãos por muito tempo. Nos anos de guerra, os farrapos tiveram cinco capitais diferentes, sendo uma espécie de capital móvel. Piratini, Alegrete, Caçapa do Sul, São Borja e São Gabriel foram as capitais farrapas.

Porto Alegre foi tomada pelos farrapos em 20 de setembro, depois de vencerem o Combate da Ponte do Azenha, contra pouco mais de 200 soldados leais ao governador caramuru, mas perderam a cidade poucos mais de nove meses depois, quando as primeiras tropas do Império chegaram ao Rio Grande.

Após a derrota, os farrapos cercaram por terra Porto Alegre, mas a cidade conseguiu se manter recebendo recursos e reforços por meio do Guaíba. Durante o conflito, a cidade foi cercada por terra por mais de três anos, sem nunca mais ser conquistada pelos farrapos.

Em julho de 1839, os farrapos conquistaram Laguna e, no dia 24 de julho daquele ano, proclamaram a República Catarinense Livre e Independente, que também é conhecida como República Juliana, por ter sido fundada em julho.

Em 15 de novembro, quatro meses após a sua fundação, a República Juliana foi extinta após as tropas imperiais retomarem Laguna. A conquista de Laguna e a proclamação da república catarinense marcaram o auge das vitórias farrapas.

Leia também: Revolta dos Malês — a maior revolta de escravos da história brasileira

Líderes da Guerra dos Farrapos

Bento Gonçalves, um dos principais líderes da Guerra dos Farrapos ou Revolução Farroupilha.
Bento Gonçalves, um dos principais líderes da Guerra dos Farrapos ou Revolução Farroupilha.
Davi Canabarro, um dos principais líderes da Guerra dos Farrapos ou Revolução Farroupilha.
Davi Canabarro, um dos principais líderes da Guerra dos Farrapos ou Revolução Farroupilha.
 Antônio de Sousa Netto, um dos principais líderes da Guerra dos Farrapos ou Revolução Farroupilha.
Antônio de Sousa Netto, um dos principais líderes da Guerra dos Farrapos ou Revolução Farroupilha.
Giuseppe Garibaldi, um dos líderes da Guerra dos Farrapos ou Revolução Farroupilha.
Giuseppe Garibaldi, um dos líderes da Guerra dos Farrapos ou Revolução Farroupilha.

Fim da Guerra dos Farrapos

A Guerra dos Farrapos se encerrou em 1º de março de 1845, quando foi assinado o Tratado de Poncho Verde, também chamado de Paz de Poncho Verde ou Convenção de Poncho Verde, fruto de negociações entre lideranças farroupilhas e Dom Pedro II, na época um jovem de cerca de 20 anos.

Consequências da Guerra dos Farrapos

A Guerra dos Farrapos teve como consequência imediata o Tratado de Poncho Verde, assinado por Davi Canabarro, representante farrapo, e pelo Barão de Caxias, futuro Duque de Caxias, representante de Dom Pedro II.

O Tratado de Poncho Verde estabeleceu no seu primeiro artigo que o presidente da província de São Pedro do Rio-Grande do Sul seria escolhido pelos líderes farrapos. Seu segundo artigo garantia “pleno e inteiro esquecimento de todos os atos [...]”, ou seja, a anistia para todos os farrapos. Outros artigos excluíam os soldados rio-grandenses da obrigatoriedade de alistamento militar; garantiram que todos os presos seriam libertados e que seu retorno para o lar seria financiado pelo Império; garantiram o direito à propriedade, entre outros.

Além do Tratado de Poncho Verde, o governo imperial reduziu o imposto sobre o charque rio-grandense, sobre o gado importado pelos gaúchos da Argentina e do Uruguai, e aumentou o imposto sobre o charque importado desses dois países.

Os historiadores tradicionalmente afirmam que os farrapos perderam militarmente o conflito, mas que obtiveram uma enorme vitória política, uma vez que todas as suas reivindicações anteriores à guerra foram atendidas.

Outra consequência, perpetrada próximo do fim do conflito, foi o Massacre de Porongos, também chamado de Traição de Porongos, em que mais de uma centena de lanceiros negros foram assassinados, para muitos pesquisadores, com a colaboração de David Canabarro e outros líderes farroupilhas. Durante o conflito, cerca de um terço das tropas dos farrapos foi formado por negros. No final da guerra, eram cerca de 10 mil, metade das tropas imperiais no Rio Grande.

Em 14 de novembro de 1844, momento no qual a paz era negociada entre farrapos e Império, um grupo de lanceiros negros que estavam no alto do Cerro Porongos, hoje no território do município de Pinheiro Machado, foi cercado, e mais de cem deles foram assassinados no local. Os sobreviventes foram levados para o Rio de Janeiro como escravos.

Alguns historiadores afirmam que os lanceiros negros de Porongos foram traídos pelos líderes farroupilhas, que tinham medo de negros armados após o fim do conflito.

Quanto tempo durou a Guerra dos Farrapos?

A Guerra dos Farrapos durou nove anos e meio, iniciando-se em 20 de setembro de 1835, quando Porto Alegre foi tomada pelos farrapos, e se encerrou em 1º de março de 1845, com a assinatura do Tratado de Poncho Verde. Essa foi a mais longa guerra civil do Brasil e o mais longo conflito do qual o Exército Brasileiro participou em sua história.

Leia também: Guerra do Paraguai — um dos mais importantes conflitos da história brasileira

Exercícios sobre Guerra dos Farrapos

Questão 1

(UFRN) A Guerra dos Farrapos ou Revolução Farroupilha (1835-1845) eclodiu como uma reação ao(s):

a) pesados impostos cobrados pela Coroa, que diminuíam a capacidade de concorrência dos produtos gaúchos, especialmente do charque.

b) regime de propriedade das terras gaúchas, que favorecia a concentração da posse de latifúndios nas mãos dos nobres ligados à Corte.

c) intensos movimentos do exército imperial no Rio Grande do Sul, que limitavam a atuação política dos estancieiros gaúchos.

d) sistema de representação eleitoral, que excluía a possibilidade de participação política das camadas populares da sociedade gaúcha.

Resposta: Alternativa A.

Um dos principais motivos da Guerra dos Farrapos foi a questão fiscal relacionada ao charque. O charque rio-grandense pagava impostos mais altos para ser comercializado no Brasil do que o charque importado do Uruguai e da Argentina. Reverter essa situação era um dos objetivos dos farrapos.

Questão 2

(UPF) Após a abdicação de D. Pedro I, em 1831, teve início o chamado Período Regencial, que ficou marcado por rebeliões em várias províncias do Império. Uma das rebeliões mais importantes aconteceu no Rio Grande do Sul (1835-1845), chamada de Revolução Farroupilha ou Guerra dos Farrapos, em que uma parte dos rio-grandenses se opôs ao governo central do Rio de Janeiro.

Sobre esta revolta podemos afirmar:

a) A revolta alastrou-se para outras províncias, atingindo Santa Catarina, Paraná e São Paulo. Nesta última província foi proclamada a República Paulista, numa demonstração clara de que São Paulo não pretendia mais ficar subordinado ao Rio de Janeiro, então capital do Império.

b) Liderado pelos estancieiros, o movimento reivindicava maior autonomia para a província e a diminuição dos altos impostos sobre o preço do charque gaúcho, que assim não tinha como concorrer com o charque platino.

c) Além da vantagem tributária, o charque platino era produzido com mão de obra escrava, enquanto o charque gaúcho era produzido com mão de obra assalariada, queresultava num produto com preço superior.

d) A partir de 1842, já durante o Segundo Reinado, com a presença do Duque de Caxias, a rebelião no Rio Grande do Sul enfraqueceu, pois os escravos aproveitaram para se rebelar contra os fazendeiros que os exploravam.

e) A paz só foi possível quando o governo imperial, temendo uma aliança dos gaúchos com o Paraguai de Solano Lopez, aceitou as imposições dos rebeldes.

Resposta: Alternativa B

Os líderes farrapos eram grandes estancieiros produtores de charque, e a redução dos impostos relacionados a esse produto foi uma das reivindicações farrapas que levaram à guerra. A outra foi a maior autonomia da província em relação ao governo regencial e depois imperial.

Fontes

CAMPOS, Ademar da Silva. As revoltas internas no Período Regencial brasileiro. Editora, Joinville, 2020.

CRUZ, Fábio Santiago Santa. Conciliação política no Império (1831-1855). Editora Paco, Jundiaí, 2019.


Fonte: Brasil Escola - https://brasilescola.uol.com.br/historiab/revolucao-farroupilha.htm