Josef Mengele foi um médico nazista responsável por realizar cruéis experimentos em prisioneiros durante o Holocausto. Nascido em 1911 na Baviera, teve uma educação marcada por suas influências em teorias raciais e eugênicas, que moldaram sua atuação como médico nazista em Auschwitz, onde se destacou pela crueldade de seus experimentos com gêmeos e pela realização das seleções que enviavam prisioneiros para as câmaras de gás, ganhando o temido apelido de "Anjo da Morte".
Após a guerra, Mengele fugiu para a América do Sul, vivendo no Brasil sob pseudônimos até sua morte por afogamento em 1979, escapando da justiça por seus crimes. Seu legado é um dos mais sombrios da história, com sua figura sendo frequentemente retratada na cultura popular em filmes, séries e livros como um símbolo do mal absoluto e da ciência corrompida pela ideologia nazista.
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Josef Mengele nasceu em 16 de março de 1911, em Günzburg, uma pequena cidade na Baviera, Alemanha. Filho mais velho de Karl Mengele e Walburga Mengele, Josef cresceu em uma família de classe média-alta, proprietária de uma fábrica de implementos agrícolas, a Karl Mengele & Söhne. A fábrica, que prosperou ao longo dos anos, proporcionou uma infância confortável e privilegiada para Josef e seus dois irmãos, Karl Jr. e Alois.
A família Mengele era tradicional e católica, o que moldou parte da educação de Josef. Ele era conhecido por sua inteligência e diligência nos estudos, mas também por sua personalidade ambiciosa e, em alguns momentos, arrogante. Esse perfil o acompanhou ao longo de sua vida, refletindo-se em suas escolhas e no caminho sombrio que trilharia durante o regime nazista.
Josef Mengele se casou em 1939 com Irene Schönbein, com quem teve um filho, Rolf Mengele, em 1944. Irene permaneceu com Mengele até 1954, quando o casal se divorciou. Durante seus anos de fuga na América do Sul, Mengele manteve um perfil discreto, mas continuou a se envolver em atividades que refletiam seus interesses em eugenia e genética, mesmo que de forma privada e sem o apoio institucional que possuía na Alemanha nazista.
A educação de Josef Mengele foi marcada por sua busca incessante por conhecimento, principalmente nas áreas de Medicina e Antropologia. Ele iniciou seus estudos em Medicina na Universidade de Munique, onde foi profundamente influenciado pelas teorias raciais e eugênicas que circulavam na academia alemã da época. Essas ideias, que pregavam a superioridade racial ariana e a necessidade de "purificação" da raça, foram abraçadas por Mengele e serviram de base para suas futuras atrocidades.
Mengele obteve seu doutorado em Antropologia pela Universidade de Munique em 1935, com uma tese que explorava a relação entre a estrutura do maxilar e a raça. Posteriormente, ele também obteve um segundo doutorado em Medicina pela Universidade de Frankfurt, onde trabalhou com Otmar von Verschuer, um renomado geneticista e defensor das teorias eugênicas. A associação com Verschuer foi crucial para Mengele, pois o introduziu no mundo da pesquisa genética e nos círculos científicos que apoiavam as políticas raciais nazistas.
Josef Mengele morreu em 7 de fevereiro de 1979, afogado após sofrer um derrame enquanto nadava em Bertioga, no litoral de São Paulo, Brasil. Na época, vivia sob o pseudônimo de Wolfgang Gerhard, um dos muitos nomes falsos que usou durante seu tempo como fugitivo. Sua morte passou despercebida pelas autoridades internacionais, que continuavam a procurá-lo por seus crimes de guerra. Mengele foi enterrado em Embu das Artes, uma pequena cidade próxima a São Paulo, sob o nome falso que utilizava. Somente em 1985, após a exumação de seu corpo, testes de DNA confirmaram sua identidade.
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Josef Mengele ingressou no serviço militar alemão em 1938, quando se alistou na Wehrmacht, o exército regular da Alemanha. Em 1940, ele se juntou à Waffen-SS, a divisão militar da SS (Schutzstaffel), uma organização paramilitar ligada ao Partido Nazista. Seu recrutamento para a SS marcou o início de seu envolvimento direto com as políticas raciais e genocidas do regime nazista.
Inicialmente, Mengele serviu na 5ª Divisão Panzergrenadier SS Wiking, uma unidade de elite que lutou na Frente Oriental durante a invasão da União Soviética. Em combate, Mengele demonstrou coragem e foi condecorado com a Cruz de Ferro de Primeira Classe por salvar soldados de um tanque em chamas. No entanto, devido a ferimentos em combate, ele foi considerado inapto para continuar na linha de frente e foi transferido para outras funções dentro da SS.
Após sua recuperação, Mengele foi designado para trabalhar no campo de concentração de Auschwitz, onde suas qualificações médicas e seu interesse em genética lhe permitiram desempenhar um papel central nos experimentos humanos realizados no campo. Essa transferência representou uma mudança significativa na carreira de Mengele, pois o colocou em uma posição de poder onde ele poderia implementar suas visões eugênicas de maneira brutal e desumana.
Josef Mengele chegou ao campo de concentração de Auschwitz-Birkenau em maio de 1943, onde atuou como médico-chefe do setor cigano (Zigeunerfamilienlager) e posteriormente como médico do campo em várias outras seções de Auschwitz. Sua presença em Auschwitz marcou o início de uma das fases mais aterrorizantes do Holocausto, especialmente devido à sua participação direta no processo de seleção dos prisioneiros.
A seleção ocorria quando os trens chegavam ao campo, transportando judeus, ciganos, prisioneiros de guerra soviéticos e outros grupos indesejados pelo regime nazista. Mengele, com um simples gesto de mão, decidia o destino de milhares de pessoas: aqueles considerados aptos para o trabalho eram enviados para o campo, enquanto os outros, principalmente crianças, idosos e mulheres grávidas, eram enviados diretamente para as câmaras de gás. Esse papel fez de Mengele uma figura temida entre os prisioneiros, que o apelidaram de "Anjo da Morte".
Além das seleções, Mengele estava envolvido em uma série de experimentos médicos brutais, particularmente aqueles que envolviam gêmeos, anões e pessoas com deformidades físicas. Seus experimentos, que careciam de qualquer base científica ética, eram conduzidos com crueldade extrema, resultando em morte, mutilação e sofrimento indescritível para suas vítimas.
Os experimentos de Josef Mengele em Auschwitz foram alguns dos mais cruéis e desumanos conduzidos durante o Holocausto. Seu principal interesse era a pesquisa em genética, e ele viu em Auschwitz uma oportunidade para realizar experimentos em uma grande população de prisioneiros, particularmente em gêmeos.
Mengele realizava uma série de procedimentos invasivos e dolorosos em gêmeos, incluindo a injeção de substâncias químicas nos olhos para tentar mudar sua cor, a amputação de membros e experimentos de fusão, onde tentava costurar gêmeos para criar artificialmente gêmeos siameses. Esses experimentos raramente tinham qualquer base científica válida e eram realizados com o único objetivo de satisfazer a curiosidade mórbida de Mengele e avançar as ideias racistas do regime nazista.
Além dos experimentos com gêmeos, Mengele também realizou estudos sobre o nanismo e outras deformidades físicas. Ele acreditava que esses indivíduos poderiam fornecer insights valiosos sobre a "degeneração racial" e, portanto, submetia-os a exames minuciosos e dolorosos. Em muitos casos, essas "pesquisas" resultavam na morte das vítimas, seja diretamente pelos procedimentos, seja pelas condições insalubres e pelas torturas a que eram submetidas.
Os experimentos de Mengele não apenas violavam todos os princípios éticos da medicina, mas também foram um exemplo de como a ciência pode ser corrompida e usada como uma ferramenta de opressão e genocídio. Sua atuação em Auschwitz permanece como um dos capítulos mais sombrios da história da Medicina.
Após o fim da Segunda Guerra Mundial, Josef Mengele conseguiu fugir da Europa e se esconder na América do Sul. Ele chegou ao Brasil na década de 1960, depois de passar um tempo na Argentina e no Paraguai. Mengele viveu em várias cidades brasileiras sob diferentes pseudônimos, como Pedro Gerhard e Wolfgang Gerhard, sempre evitando a captura pelas autoridades internacionais que o procuravam por seus crimes de guerra.
No Brasil, Mengele manteve um perfil discreto, vivendo em localidades rurais e, por vezes, recebendo a ajuda de simpatizantes nazistas e outros indivíduos que desconheciam sua verdadeira identidade. Ele passou por várias cidades, incluindo Serra Negra, Atibaia e finalmente São Paulo, onde viveu até sua morte.
Apesar de sua tentativa de passar despercebido, houve momentos em que Mengele quase foi descoberto. Em 1960, após a captura de Adolf Eichmann na Argentina, Mengele entrou em pânico e mudou-se para o interior do Brasil. No entanto, ele continuou a se corresponder com sua família na Alemanha e com outros contatos, expressando suas opiniões e crenças, que continuavam alinhadas com a ideologia nazista.
A morte de Mengele em 1979 foi um evento relativamente tranquilo, e ele foi enterrado sob um nome falso. Somente anos depois, seu verdadeiro nome e identidade foram confirmados, encerrando a caçada a um dos criminosos de guerra mais procurados do mundo.
O legado de Josef Mengele é marcado pelo horror e pela brutalidade de seus atos durante o Holocausto. Ele é lembrado como um dos principais perpetradores das atrocidades cometidas nos campos de concentração nazistas, especialmente em Auschwitz. Suas ações, que resultaram na morte e no sofrimento de milhares de pessoas, continuam a ser um lembrete das consequências devastadoras da ideologia nazista e do abuso de poder.
Mengele nunca foi levado à justiça por seus crimes, o que gerou um sentimento de injustiça e frustração entre os sobreviventes do Holocausto.
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Josef Mengele, devido à sua infâmia como o "Anjo da Morte" de Auschwitz, tornou-se uma figura frequentemente referenciada na cultura popular. Sua presença em filmes, séries e livros reflete tanto o horror de seus atos quanto a fascinação macabra que sua história provoca. A seguir, alguns exemplos de como Mengele foi retratado ou inspirado obras da cultura popular:
Fontes
JEFFREYS, Alec J.; ALLEN, Maxine J.; HAGELBERG, Erika; SONNBERG, Andreas. Identification of the skeletal remains of josef mengele by DNA analysis, Forensic Science International. Disponível em: https://doi.org/10.1016/0379-0738(92)90148-P.
GALLE, Helmut. Os escritos autobiográficos de Josef Mengele. Estudos Avançados, São Paulo, v. 25, n. 71, p. 313-328, abr. 2011. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ea/a/4hyC8bKjGDzcHtTYjY3gpSz/.
Fonte: Brasil Escola - https://brasilescola.uol.com.br/biografia/josef-mengele.htm