O metanol foi responsável por casos de intoxicação registrados em São Paulo a partir da ingestão de bebida alcoólica adulterada, segundo a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos (Senad/MJSP).
Também chamado de álcool metílico, o metanol é um tipo de biocombustível altamente inflamável e é utilizado no processo de fabricação de solvente industrial, plástico e biodiesel.
Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) publicou nota com orientações ao setor privado sobre a compra segura, conferência dos produtos e fortalecimento da rastreabilidade dos produtos. Preços anormalmente baixos, lacres tortos, erros grosseiros de impressão, odor semelhante a solventes e relatos de consumidores com sintomas como visão turva, dor de cabeça intensa e náusea devem ser tratados como suspeita de alteração, afirma o MJSP.
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O metanol (CH₃OH), também conhecido como álcool metílico ou álcool de madeira, é uma substância química utilizada na indústria e ciência que consiste em um líquido incolor, volátil, inflamável e com odor característica, explica o professor de Química Wellington Campos, do Sistema de Ensino pH.
Anteriormente era mais obtido na destilação destrutiva da madeira, mas hoje em dia, sua produção é mais comum a partir do gás natural, por meio da reação de monóxido de carbono com hidrogênio sob alta pressão e temperatura, afirma Wellington.
Entre as principais aplicações do metanol, listadas pelo educador, estão:
Combustível: é utilizado como combustível em corridas automobilísticas, especialmente na Fórmula Indy, devido à sua alta octanagem e combustão limpa. Também pode ser usado como aditivo em combustíveis convencionais.
Matéria-prima química: serve como base para a produção de formaldeído, ácido acético, dimetil, éter e outros compostos químicos importantes na indústria.
Solvente industrial: é amplamente utilizado como solvente em tintas, vernizes, resinas e produtos de limpeza industrial, graças à sua capacidade de dissolver uma ampla gama de substâncias.
Anticongelante: empregado em sistemas de refrigeração e como aditivo anticongelante em fluidos industriais.
Produção de biodiesel: utilizado no processo de transesterificação para produção de biodiesel a partir de óleos vegetais e gorduras.
Indústria farmacêutica: serve como solvente e reagente na síntese de diversos medicamentos.
Vetor energético em células a combustível, por sua alta densidade energética e facilidade de transporte.
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Apesar de serem álcoois, o metanol e etanol possuem diferenças fundamentais, destaca o professor de Química. Quanto à estrutura, enquanto o metanol (CH₃OH) possui um átomo de carbono, o etanol (C₂H₅OH) conta com dois átomos de carbono.
A principal diferença entre os dois compostos está no nível de toxidade. Enquanto o metanol, pequenas quantidades causam danos maiores à saúde como a cegueira, o etanol apesar de também ser tóxico, possui outro processo de metabolização e consegue ser processado de forma mais fácil pelo corpo, completa Wellington.
O metanol, assim como acontece com o álcool, é rapidamente absorvido pela via oral e sua dose letal varia entorno de 30 a 240 mL, afirma o médico emergencista Felipe Liger, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Atualmente é uma das principais causas de intoxicação por bebidas alcoólicas no mundo, enfatiza Liger.
"O nosso corpo transforma o metanol em substâncias muito agressivas que causam uma acidose metabólica bem séria. Essas substâncias acabam atacando principalmente o sistema nervoso central e o nervo óptico. O risco mais temido, sem dúvida, é a perda permanente da visão, a cegueira. Além disso, a intoxicação pode levar a uma insuficiência respiratória e, nos casos mais graves, é fatal"
Guilherme Zaqueo - Médico intensivista e coordenador da UTI do Hospital Santa Marcelina
Os sintomas da ingestão de metanol acontecem após 12 a 24 horas após a ingestão, segundo Felipe Liger. Entre as manifestações clínicas apresentadas, estão:
Enjoo
Vômito
Dor abdominal
Alterações no nível de consciência
Alterações visuais, tais como visão dupla, borrada e redução da acuidade visual. Em casos mais graves, cegueira.
Segundo Guilherme Zaqueo, em casos mais avançados, a pessoa pode apresentar dificuldade em respirar, ter convulsões e pode até entrar em coma.
O tratamento utilizado depende das manifestações clínicas e estado do paciente, mas de forma geral a intenção é neutralizar a metabolização tóxica do metanol, explica Felipe Liger.
Uma das alternativas para tratar a intoxicação é o uso do etanol que age na saturação da enzima álcool desidrogenase, reduzindo a formação dos metabólicos tóxicos.
Outra forma é por meio do antídoto específico de fomepizol, mas que não é encontrado com facilidade no país. Felipe destaca que esses antídotos são utilizados em casos de pacientes muito sintomáticos que possuem alterações bioquímicas e com concentração sérica do metanol maior que o limite aceito no organismo.
Entenda o que são os biocombustíveis na videoaula a seguir:
Por Lucas Afonso
Jornalista
Fonte: Brasil Escola - https://brasilescola.uol.com.br/noticias/metanol-o-que-e-para-que-serve-riscos-saude-substancia-intoxicacao-sp/3132675.html