O patriarcado é uma estrutura social histórica baseada na dominação masculina, moldando normas que perpetuam desigualdades em esferas como família, política e economia. Caracteriza-se pela hierarquização de gênero, divisão sexual do trabalho e normas culturais que reforçam a superioridade masculina, enquanto opera por meio de instituições e práticas que restringem o papel feminino ao ambiente doméstico.
A cultura patriarcal promove estereótipos de gênero, normaliza a violência e desvaloriza as contribuições femininas, distinguindo-se de sistemas matriarcais, historicamente associados à maior igualdade. O machismo é uma manifestação do patriarcado, visível em desigualdades e violências, tanto nas relações privadas quanto nas públicas, que excluem mulheres do poder.
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O patriarcado é uma estrutura social historicamente construída que se baseia na dominação masculina sobre as mulheres em diversas esferas da vida. Originalmente, o conceito referia-se à autoridade do pai no contexto doméstico, mas foi ampliado para designar um sistema que organiza as relações de poder em sociedades de maneira desigual, colocando os homens em posições de privilégio. Esse sistema perpassa as relações interpessoais e institucionais, sendo reproduzido em dinâmicas familiares, econômicas, políticas e culturais. Trata-se, portanto, de um fenômeno estrutural e sistêmico que molda as normas e valores sociais.
Ao longo da história, o patriarcado evoluiu e se adaptou às mudanças sociais, mantendo-se como um mecanismo de controle sobre os corpos, as sexualidades e os papéis sociais das mulheres. Em sociedades contemporâneas, ele se manifesta de formas menos explícitas do que em períodos históricos anteriores, mas suas bases permanecem evidentes, sustentando desigualdades de gênero que continuam a ser enfrentadas por movimentos feministas e de direitos humanos.
Entre as principais características do patriarcado estão a hierarquização das relações de gênero, a subordinação das mulheres e o controle masculino sobre as esferas pública e privada. Essas características se expressam em normas e práticas que atribuem maior valor às atividades masculinas, legitimam a desigualdade no acesso a recursos e oportunidades e naturalizam a violência de gênero.
Historicamente, o patriarcado fundamentou-se na exclusão das mulheres de posições de poder, relegando-as ao papel de cuidadoras e subordinadas em contextos familiares e sociais. Essa hierarquia é sustentada por normas culturais que promovem a masculinidade como sinônimo de força, liderança e racionalidade, enquanto as mulheres são associadas à fragilidade, submissão e emotividade.
Além disso, o patriarcado se organiza em torno da divisão sexual do trabalho, que separa as atividades masculinas e femininas de acordo com estereótipos de gênero. Essa divisão não apenas limita as possibilidades de atuação das mulheres no mercado de trabalho como também desvaloriza economicamente suas contribuições, especialmente nas áreas de cuidado e trabalho doméstico, que muitas vezes permanecem invisibilizadas e não remuneradas.
O patriarcado opera por meio de um conjunto de normas e práticas que são reproduzidas social e institucionalmente. No âmbito familiar, ele se expressa na figura do “chefe de família”, que tradicionalmente é o homem, responsável por prover o sustento econômico e tomar as decisões principais. As mulheres, por outro lado, são associadas às funções de cuidado, sendo frequentemente excluídas de decisões estratégicas tanto na família quanto na sociedade.
Nas instituições, o patriarcado funciona por meio de práticas que reforçam a exclusão das mulheres de posições de poder e liderança. Isso é evidente na política, em que a representação feminina ainda é limitada, e na economia, em que as mulheres enfrentam desigualdades salariais e barreiras para ascender a cargos de chefia. Além disso, a cultura patriarcal sustenta narrativas que justificam essas desigualdades, apresentando-as como naturais ou inevitáveis.
A religião também desempenhou um papel importante na consolidação do patriarcado ao reforçar a ideia de que os papéis de gênero são divinamente ordenados. Textos religiosos frequentemente atribuíram às mulheres papéis secundários, vinculando sua identidade à obediência e ao serviço, enquanto os homens eram vistos como líderes espirituais e sociais.
A cultura patriarcal é o conjunto de valores, normas e práticas que perpetuam a superioridade masculina e a submissão feminina. Ela está presente nas representações midiáticas, nos sistemas educacionais, nas tradições religiosas e nas práticas sociais cotidianas. Por meio dessa cultura, as desigualdades de gênero são naturalizadas e reforçadas como normas sociais, dificultando a percepção crítica de sua existência.
Essa cultura também molda os ideais de masculinidade e feminilidade, promovendo estereótipos de gênero que limitam as possibilidades de expressão e realização de homens e mulheres. Enquanto a masculinidade é associada à força, à racionalidade e ao domínio, a feminilidade é vinculada à fragilidade, à emotividade e à passividade. Essas construções culturais não apenas restringem os papéis sociais de ambos os gêneros como também criam dinâmicas de poder desiguais.
Além disso, a cultura patriarcal legitima a violência de gênero ao normalizar comportamentos abusivos como parte de relações de poder entre homens e mulheres. Essa violência pode assumir diversas formas, incluindo violência doméstica, assédio sexual, controle financeiro e psicológico, entre outras. Apesar de avanços na conscientização e na criação de leis para combater essas práticas, elas continuam profundamente enraizadas em muitas sociedades.
O matriarcado é frequentemente apresentado como o oposto do patriarcado, mas sua existência histórica é amplamente debatida. Enquanto o patriarcado é uma estrutura de dominação masculina, o matriarcado não necessariamente implica dominação feminina, mas pode ser caracterizado por uma organização social centrada na figura feminina.
Sociedades matrilineares e matrifocais existiram em diferentes momentos da história e são exemplos de sistemas em que as mulheres desempenhavam papéis centrais na organização social e na tomada de decisões. No entanto, com o advento da propriedade privada e das instituições patriarcais, essas estruturas foram gradualmente substituídas por sistemas de dominação masculina.
O machismo é uma manifestação prática do patriarcado, expressando-se em comportamentos, atitudes e discursos que reforçam a superioridade masculina e a subordinação feminina. Ele se manifesta em situações cotidianas, como a divisão desigual de tarefas domésticas, o assédio sexual e a objetificação das mulheres, bem como em formas mais extremas de violência, como o feminicídio.
Embora o machismo esteja diretamente relacionado ao patriarcado, ele também se alimenta de outras formas de opressão, como o racismo e a homofobia. Essa interseccionalidade torna o combate ao machismo e ao patriarcado um desafio complexo, que exige uma abordagem ampla e inclusiva.
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A distinção entre patriarcado público e privado remonta à divisão das esferas de atuação social:
Essa dualidade foi amplamente explorada por teóricas feministas, que destacam como o controle masculino em ambas as esferas está interligado. A separação entre público e privado é uma construção social que serve para perpetuar o patriarcado ao naturalizar a exclusão das mulheres do espaço público e reduzir suas contribuições ao âmbito doméstico.
A relação entre patriarcado e capitalismo é marcada por uma interdependência histórica. O capitalismo utiliza as estruturas patriarcais para explorar o trabalho feminino, especialmente no âmbito doméstico e nos setores mal remunerados da economia. Ao mesmo tempo, o patriarcado se adapta às demandas do capitalismo, perpetuando desigualdades que favorecem a acumulação de capital.
Autoras feministas como Christine Delphy argumentam que o trabalho doméstico não remunerado desempenha um papel central na manutenção do capitalismo ao fornecer uma base de apoio para o trabalho produtivo realizado pelos homens. Essa análise destaca a necessidade de compreender o patriarcado e o capitalismo como sistemas interconectados, que operam de forma conjunta para perpetuar desigualdades de gênero e classe.
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O movimento feminista tem desempenhado um papel crucial na crítica e no enfrentamento do patriarcado. Desde a segunda onda feminista, questões como a violência de gênero, os direitos reprodutivos e a igualdade salarial têm sido levantadas como prioridades para desconstruir as bases do patriarcado. O feminismo interseccional ampliou essa luta ao incorporar as experiências de mulheres racializadas, indígenas e LGBTQIA+.
Apesar dos avanços alcançados, o movimento feminista enfrenta desafios significativos na atualidade, incluindo a resistência cultural e política às mudanças propostas. No entanto, ele continua sendo uma força essencial para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
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O patriarcado gera uma série de consequências, embora seus impactos sejam mais severos para as mulheres.
No caso das mulheres, ele limita as possibilidades de autonomia e realização, perpetua desigualdades econômicas e sociais e legitima a violência de gênero. No caso dos homens, o patriarcado impõe normas rígidas de masculinidade, que podem ser emocionalmente repressivas e prejudiciais.
Além disso, o patriarcado contribui para a manutenção de sistemas econômicos e políticos que beneficiam uma minoria às custas da maioria.
Na contemporaneidade, o patriarcado continua a se manifestar de formas sutis e explícitas. Embora muitos avanços tenham sido alcançados na luta pela igualdade de gênero, as bases patriarcais permanecem presentes nas estruturas sociais, econômicas e culturais. Combater o patriarcado exige uma transformação profunda das normas e valores sociais, bem como o fortalecimento de políticas públicas que promovam a igualdade e a justiça de gênero.
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Fonte: Brasil Escola - https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/patriarcado.htm