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Almeida Garrett

Almeida Garrett foi um famoso escritor português cujas obras fazem parte da primeira fase romântica. Seu poema Camões é a obra que inaugurou o romantismo em Portugal.

Almeida Garrett foi um escritor português. Ele nasceu na cidade do Porto, em 4 de fevereiro de 1799. Mais tarde, estudou Direito na Universidade de Coimbra, quando começou a escrever seus textos literários. Esteve diretamente envolvido na política do seu país exercendo os cargos de deputado e ministro.

O poeta, que faleceu em 9 de dezembro de 1854, em Lisboa, foi o introdutor do romantismo em Portugal ao publicar o poema Camões. Suas obras são marcadas pelo nacionalismo, descritivismo, sentimentalismo, além de apresentarem ironia e questões sociopolíticas.

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Resumo sobre Almeida Garret

Biografia de Almeida Garrett

Um dos escritores mais importantes da literatura portuguesa, João Batista Leitão de Almeida Garrett nasceu em 4 de fevereiro de 1799, na cidade do Porto, em Portugal. Membro de uma família burguesa, em 1811, ele e seus pais, fugindo da invasão napoleônica, foram viver na Ilha Terceira, na região dos Açores. Nesse lugar, o tio do autor, o frei Alexandre da Sagrada Família (1737-1818), incutiu-lhe o amor pela literatura.

Almeida Garrett ingressou na Faculdade Direito da Universidade de Coimbra em 1816; porém, era desejo da família que ele se tornasse padre. Na universidade, começou a escrever suas primeiras obras literárias. Durante esse período, o jovem universitário contribuiu para a eclosão da Revolução Liberal de 1820.

Formado, o escritor decidiu morar em Lisboa. No entanto, em 1822, foi perseguido pela censura ao publicar o poema O retrato de Vênus. No ano seguinte, por questões políticas, mudou-se para a Inglaterra. Depois, viveu na França. Voltou ao país natal no ano de 1826 e, por volta de 1829, novamente partiu para Inglaterra e França.

Em 1832, Almeida Garrett decidiu fazer parte do exército liberal, que levou a um novo regime político em Portugal. Em seguida, passou a atuar como diplomata. Anos depois, participou na escrita da Constituição de 1838. Sempre envolvido com questões políticas, cumpriu mandato como deputado.

Sua vida amorosa também merece destaque. Almeida Garrett se casou, ainda na juventude, com uma moça chamada Luísa Midosi. O casamento não deu certo, e Garrett teve uma filha ilegítima com a amante, Adelaide Pastor (1819-1841). O escritor também teve um caso com uma mulher casada, a Viscondessa da Luz.

No ano de 1851, o poeta e dramaturgo recebeu o título de visconde; no ano seguinte, o título de par do reino. Também foi ministro dos Negócios Estrangeiros. Almeida Garret faleceu em 9 de dezembro de 1854, em Lisboa.

Características da obra de Almeida Garrett

Os primeiros textos de Almeida Garrett, ainda como estudante universitário, apresentam características árcades. No entanto, ele foi o introdutor do romantismo em Portugal, de forma que suas principais obras apresentam descritivismo, nacionalismo, exagero sentimental, ceticismo e aspecto irônico.

Como reflexo da vivência política do autor, suas obras têm caráter sociopolítico. Garrett produziu tanto poemas líricos quanto narrativos. Suas peças teatrais têm cunho nacionalista e histórico. O autor também produziu irônicas comédias. Já sua poesia é individualista e marcada pela idealização.

Almeida Garrett e o romantismo português

Com a publicação do poema Camões, em 1825, Garrett inaugurou o romantismo em Portugal. Seu projeto estético romântico visava à valorização da cultura portuguesa e da identidade lusitana. Seu primeiro contato com o romantismo ocorreu em seu exílio na Inglaterra, em 1823.

Ali, conheceu as obras de Lord Byron (1788-1824) e de Walter Scott (1771-1832). Além disso, a saudade da terra natal fez o poeta despertar para o sentimento nacionalista. Garrett defendia que o autor romântico deveria divulgar a verdade e atingir o grande público leitor. Concebia o romantismo, portanto, como arte popular.

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Obras de Almeida Garrett

Capa do livro “Viagens na minha terra”, de almeida Garrett, publicado pela Ateliê Editorial.
Capa do livro Viagens na minha terra, de almeida Garrett, publicado pela Ateliê Editorial.[1]

Poemas de Almeida Garrett

É do livro Folhas caídas o famoso poema “Não te amo”. Nesse poema, o eu lírico diferencia “amar” de “querer”. Mostra que o amor é algo que “vem d’alma”, “é vida”. Já o querer está associado à paixão, é algo “bruto”. Assim, ele conclui que apenas quer a sua interlocutora, mas que não a ama:

Não te amo, quero-te: o amar vem d’alma.
E eu n’alma — tenho a calma,
A calma — do jazigo.
Ai!, não te amo, não.

 

Não te amo, quero-te: o amor é vida.
E a vida — nem sentida
A trago eu já comigo.
Ai!, não te amo, não.

 

Ai!, não te amo, não; e só te quero
De um querer bruto e fero
Que o sangue me devora,
Não chega ao coração.

 

Não te amo. És bela, e eu não te amo, ó bela.
Quem ama a aziaga estrela
Que lhe luz na má hora
Da sua perdição?

 

E quero-te, e não te amo, que é forçado,
De mau feitiço azado
Este indigno furor.
Mas oh!, não te amo, não.

 

E infame sou, porque te quero; e tanto
Que de mim tenho espanto,
De ti medo e terror...
Mas amar... não te amo, não.|1|

Do mesmo livro é o poema “Os exilados”. Nele, o eu lírico mostra que a distância da pátria provoca saudade, mas também ressentimento em relação à terra natal, vista como “ingrata”. Assim, ele homenageia a cantora lírica, de origem espanhola, Giovanna Rossi-Caccia (1818-1892), que dirigiu o teatro São Carlos, em Lisboa:

Eles tristes, das praias do desterro,
Os olhos longos e arrasados de água
Estendem para aqui... Cravado o ferro
Da saudade têm n’alma; e é negra mágoa
A que lhes rala os corações aflitos,
É a maior da vida — são proscritos,
Dor como outra não há, é a dor que os mata!
Dizer eu: “Essa terra é minha... minha,
Que nasci nela, que a servi, a ingrata!
Que lhe dei... dei por ela quanto tinha,
Sangue, vida, saúde, os bens da sorte...
E ela, por galardão, me entrega à morte!”
[...]

 

Tu, gênio da Harmonia,
Tu solta a voz em que triunfa a glória,
Com que suspira amor!
Bela de entusiasmo e de fervor,
Ergue-te, ó Rossi, tua voz nos guia:
A tua voz divina
Hoje um eco imortal deixa na história.

 

Inda no mar de Egina
Soa o hino de Alceu;
E atravessaram séculos
Os cantos de Tirteu.
Mais poderosa e válida
A tua voz será;
A tua voz etérea,
Tua voz não morrerá.

 

Nós no templo da pátria penduramos
Esta c’roa singela
Que de mirto e de rosas entrançamos
Para essa fronte bela:
Aqui, de voto, ficará pendente,
E um culto de saudade
Aqui, perenemente,
Lhe daremos no altar da Liberdade.|2|

Notas

|1| e |2|ALMEIDA GARRETT. Folhas caídas. Disponível em: https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=123272.

Crédito de imagem

[1]Ateliê Editorial (reprodução)

Fontes

ALMEIDA GARRETT. Folhas caídas. Disponível em: https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=123272.

CATARIN, Benedito Eduardo Soares de Souza. Análise estilística do romance Viagens na minha terra. 2009. Dissertação (Mestrado em Letras) – Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2009.

SANTANA, Maria Helena. Almeida Garrett. Disponível em: https://www.instituto-camoes.pt/activity/centro-virtual/bases-tematicas/figuras-da-cultura-portuguesa/almeida-garrett.


Fonte: Brasil Escola - https://brasilescola.uol.com.br/literatura/almeida-garrett.htm