A Economia Política foi uma ciência que se constituiu entre os séculos XVIII e XIX e que teve por objeto de estudo todo o processo econômico ou, em outros termos, o processo de geração de riqueza. Esse processo implica a produção, a distribuição e o consumo de bens materiais que atendem às diversas demandas do ser humano. Esse estudo, para a Economia Política, não se dissociava do estudo das formas de organização social e política, de modo que essa ciência interessava diretamente os estadistas e governantes.
Origem do termo “Economia Política”
O primeiro a utilizar o termo “Economia Política” foi o francês Antoine Montchrétien, em sua obra Traité de l'Economie Politique (Tratado de Economia Política), publicada em 1615. Montchrétien estava intelectualmente associado aos teóricos do Absolutismo, como o também francês Jean Bodin, e caracterizou-se por destacar a importância da inter-relação entre política e economia. Desde então, as reflexões sobre Economia Política passaram a ser desenvolvidas por pensadores de várias nações europeias, mas foram os franceses e, principalmente, os britânicos que se destacaram nesse campo.
Definições de Economia Política
Entre os franceses que contribuíram para os fundamentos da Economia Política, estão François Quesnay, autor das obras Tableau Économique e Maximes géneráles du gouvernement économique, e Anne Robert Jacques Turgot, autor de Réflexions sur la formation et la distribuion des richesses. Entre os britânicos, destacam-se: Thomas Malthus, Adam Smith, David Ricardo e, mais tardiamente, John Stuart Mill, nomes que compõem também o chamado liberalismo clássico.
Adam Smith é considerado o grande sistematizador dos problemas de Economia Política, tanto que suas reflexões foram e ainda são retomadas por economistas e sociólogos que pretendem entender as inter-relações entre organização social e atividade econômica. A definição que Smith dá à Economia Política consta no Livro IV de sua principal obra, A Riqueza das Nações, de 1776. Vejamos:
A Economia Política, considerada como um setor da ciência própria de um estadista ou de um legislador, propõe-se a dois objetivos distintos: primeiro, prover uma renda ou manutenção farta para a população ou, mais adequadamente, dar-lhe a possibilidade de conseguir ela mesma tal renda ou manutenção; segundo, prover o Estado ou a comunidade de uma renda suficiente para os serviços públicos. Portanto, a Economia Política visa a enriquecer tanto o povo quando o soberano. [1]
Percebemos que Smith destaca o caráter pragmático da Economia Política, uma ciência que oferece tanto à sociedade quanto aos chefes políticos as diretrizes para a produção de riqueza, isto é, para o alcance da prosperidade a partir de princípios como o livre-comércio, a propriedade privada e a divisão do trabalho. Esse tema da riqueza é o ponto central da Economia Política, pois está no cerne da chamada Economia de Mercado, a base do sistema capitalista. Se lermos a definição de John Stuart Mill, em sua obra Princípios de Economia Política, de 1848, perceberemos que ele reitera essa questão da preocupação com a riqueza:
[…] Os autores de Economia Política professam ensinar ou investigar a natureza da riqueza, bem como as leis de sua produção e distribuição, incluindo, diretamente ou de maneira remota, a operação de todas as causas que fazem com que prospere ou decline a condição da humanidade, ou de qualquer sociedade de seres humanos, com respeito a esse objeto universal do desejo humano. Não que algum tratado de Economia Política possa discutir ou mesmo enumerar todas as essas causas; todavia, empreende segundo quais elas operam. [2]
Esse universalismo característico da Economia Política destacado por Mill foi, com o tempo, desmanchado por conta do nascimento de disciplinas especializadas, como a Sociologia e a moderna Ciência Econômica.
Cabe ressaltar que foi a Economia Política que começou a construir os fundamentos para se equacionar problemas como a questão do preço de mercadorias (desde uma joia ou um alimento até um navio ou um avião) e o tipo de trabalho nela empregado. Foi também essa ciência que deu os instrumentos iniciais para o cálculo político e o cálculo econômico, o que hoje é chamado de política econômica: taxa de juros, equilíbrio entre importação e exportação, inflação, política monetária etc.
NOTAS
[1] SMITH, Adam. A Riqueza das Nações: investigações sobre sua natureza e suas causas. Trad. Luiz João Baraúna. Editora Nova Cultural: São Paulo, 1996. p. 413.
[2] MILL, John Stuart. Princípios de Economia Política (vol I). Trad. Luiz João Baraúna. Editora Abril Cultural: São Paulo, 1996. p. 57.
Por Me. Cláudio Fernandes
Fonte: Brasil Escola - https://brasilescola.uol.com.br/historiag/economia-politica.htm