Eugenia

A eugenia é uma teoria e prática que propõe a melhoria das características genéticas da população humana por meio de atos seletivos de reprodução.

A eugenia é uma teoria e prática surgida no final do século XIX que propõe a melhoria genética da população humana por meio de atos seletivos de reprodução, dividindo-se em eugenia positiva, que incentiva a reprodução de indivíduos considerados superiores, e negativa, que busca impedir a reprodução dos considerados inferiores. Defendida por pensadores como Francis Galton e Herbert Spencer, a eugenia teve aplicações extremas no regime nazista, que promoveu genocídio em nome da pureza racial, e no Brasil, onde ganhou força nas primeiras décadas do século XX, com ideias de higienização racial. Em nível global, a eugenia influenciou políticas de esterilização forçada, principalmente nos Estados Unidos, Suécia e Japão.

Leia também: Genocídio — uma das principais práticas ligadas à eugenia

Resumo sobre eugenia

O que é eugenia?

Fotografia de Francis Galton, quem cunhou o termo “eugenia”.
Francis Galton foi quem cunhou o termo "eugenia".

A eugenia é uma teoria e prática que surgiu no final do século XIX, centrada na ideia de melhorar as características genéticas de uma população humana por meio de atos seletivos de reprodução. O termo "eugenia" foi cunhado em 1883 por Francis Galton, primo de Charles Darwin, que acreditava que os princípios da seleção natural poderiam ser aplicados à sociedade humana para produzir uma "raça" mais saudável, inteligente e forte. A eugenia, portanto, envolve a tentativa de influenciar as características hereditárias de futuras gerações humanas, promovendo a reprodução de indivíduos considerados superiores e desencorajando ou impedindo a reprodução daqueles considerados inferiores.

Tipos de eugenia

A eugenia pode ser dividida em dois tipos principais: eugenia positiva e eugenia negativa.

O que a eugenia defende?

Cartaz de um congresso sobre eugenia.
Cartaz de um congresso sobre eugenia.

O eugenia defende a ideia de que a sociedade pode e deve intervir na reprodução humana para criar uma população mais "apta". Baseia-se na crença de que certos traços genéticos são superiores a outros e que, ao controlar a reprodução, é possível erradicar ou reduzir a incidência de características indesejáveis, como doenças hereditárias, deficiências mentais e físicas, ou até mesmo traços considerados socialmente indesejáveis, como pobreza ou comportamento criminal.

Os eugenistas acreditavam que, ao melhorar a base genética da população, seria possível criar uma sociedade mais saudável, inteligente e moralmente superior. Em sua forma extrema, o eugenismo defende a segregação racial e a pureza genética, conceitos que foram levados ao extremo em regimes totalitários.

Estudos sobre a eugenia

A eugenia foi influenciada por várias correntes filosóficas e científicas. Francis Galton, seu principal fundador, era fortemente influenciado pelas teorias de evolução de Charles Darwin. Galton aplicou a teoria da seleção natural ao conceito de herança genética humana, argumentando que, assim como na natureza, os humanos poderiam selecionar características desejáveis para a reprodução.

Outro pensador relevante foi Herbert Spencer, que cunhou o termo "sobrevivência do mais apto" e influenciou o pensamento eugenista ao aplicar conceitos darwinianos à sociedade humana. Ele acreditava que ajudar os "fracos" e "menos aptos" contradizia as leis naturais da evolução.

Durante o início do século XX, a eugenia ganhou adeptos entre cientistas, políticos e intelectuais. Em 1912, ocorreu o Primeiro Congresso Internacional de Eugenia em Londres, que reuniu pesquisadores e defensores da eugenia de várias partes do mundo, consolidando a eugenia como um movimento global.

Eugenia nazista

A eugenia nazista é talvez a aplicação mais extrema e infame dessa teoria. Sob o regime de Adolf Hitler, a Alemanha nazista adotou políticas de eugenia como parte central de sua ideologia racial. O regime nazista implementou programas de esterilização forçada de pessoas consideradas "biologicamente inferiores", incluindo pessoas com deficiências físicas e mentais, homossexuais, ciganos e judeus.

O conceito de "pureza racial" levou ao Holocausto, em que milhões de judeus, ciganos, eslavos e outros grupos foram assassinados em campos de concentração e extermínio. A eugenia nazista não se limitou à esterilização, mas incluiu o genocídio como uma forma extrema de "melhoria racial".

Eugenia no Brasil

No Brasil, a eugenia teve impacto significativo, especialmente durante as primeiras décadas do século XX. O movimento eugenista no país estava alinhado com as preocupações globais sobre saúde pública e a "melhoria" da população. Figuras como Renato Kehl e Monteiro Lobato foram defensores da eugenia, promovendo a ideia de que o Brasil deveria "melhorar" sua população por meio de políticas de miscigenação controlada e esterilização.

A criação da Sociedade Eugênica de São Paulo em 1918 é um exemplo de como essas ideias foram institucionalizadas. Os eugenistas brasileiros defendiam a higienização racial e acreditavam que o "branqueamento" da população, por meio da imigração europeia e do incentivo ao casamento entre brancos e mestiços, era a melhor maneira de alcançar o progresso nacional.

Eugenia no mundo

Capa do livro azul britânico (1918), cujo tema é o genocídio dos nativos do Sudoeste Africano Alemão, uma prática de eugenia.
Capa do livro azul britânico (1918), cujo tema é o genocídio dos nativos do Sudoeste Africano Alemão, uma prática de eugenia.[1]

A eugenia não se limitou à Europa e ao Brasil; foi um movimento global. Nos Estados Unidos, por exemplo, o movimento eugenista ganhou força no início do século XX, levando à implementação de programas de esterilização forçada em vários estados. A Suprema Corte dos EUA, no caso Buck v. Bell (1927), legalizou a esterilização forçada, resultando em milhares de procedimentos realizados em todo o país.

Na Suécia, o governo implementou programas de esterilização forçada entre 1934 e 1976, com o objetivo de prevenir a reprodução de pessoas consideradas "inaptas". No Japão, leis eugenistas permitiram a esterilização de pessoas com doenças hereditárias e deficiências mentais até 1996.

Leis de eugenia

As leis de eugenia variaram amplamente em sua aplicação, mas geralmente incluíam medidas como esterilização forçada, segregação de indivíduos considerados "inaptos" e restrições ao casamento. Nos Estados Unidos, essas leis foram particularmente prevalentes na primeira metade do século XX, com mais de 30 estados adotando legislação eugenista.

Na Alemanha nazista, as leis de Nuremberg, promulgadas em 1935, foram um exemplo extremo de legislação eugenista, proibindo casamentos e relações sexuais entre judeus e não judeus, além de promover políticas de esterilização forçada.

Veja também: Leis de Nuremberg — detalhes sobre um dos principais exemplos de legislação baseada na eugenia

Eugenia na atualidade

Embora as práticas de eugenia coercitiva tenham sido amplamente condenadas após a Segunda Guerra Mundial, debates sobre a eugenia continuam na atualidade, principalmente no contexto da engenharia genética e da biotecnologia. Tecnologias como CRISPR e diagnóstico genético pré-implantacional levantam questões sobre a possibilidade de "selecionar" embriões com características desejáveis, reavivando antigas preocupações eugenistas. A bioética moderna busca equilibrar os potenciais benefícios dessas tecnologias com os riscos de ressurgimento de práticas discriminatórias ou coercitivas.

Críticas à eugenia

As críticas à eugenia são amplas e variadas, abordando desde questões morais até científicas. Um dos principais argumentos contra a eugenia é que ela viola os direitos humanos fundamentais, especialmente o direito à reprodução e à igualdade. A história da eugenia está repleta de abusos, como esterilização forçada e genocídio, o que torna sua aplicação eticamente inaceitável.

Além disso, do ponto de vista científico, a eugenia é baseada em uma compreensão simplista da genética. As características humanas são frequentemente o resultado de interações complexas entre múltiplos genes e o ambiente, o que torna impossível prever ou controlar com precisão os resultados da reprodução.

História da eugenia

A história da eugenia começa no século XIX com Francis Galton, mas suas raízes estão ligadas às teorias evolucionistas de Charles Darwin. Galton acreditava que a humanidade poderia ser aprimorada pela seleção artificial, da mesma forma que os criadores de animais selecionavam características desejáveis.

No início do século XX, a eugenia se tornou uma ciência estabelecida, com apoio de governos e instituições acadêmicas. A Primeira Guerra Mundial e o período entre guerras viram a eugenia ganhar força, especialmente nos Estados Unidos e na Europa.

No entanto, a eugenia atingiu seu ápice de infâmia durante o regime nazista, cujas atrocidades associadas ao eugenismo levaram à sua condenação global. Após a Segunda Guerra Mundial, a eugenia foi desacreditada e abandonada pela maioria dos países, mas o debate sobre seus princípios continua na era da biotecnologia.

Crédito de imagem

[1] Virago250 / Wikimedia Commons (reprodução)

Fontes

CHESTERTON, G. K. Eugenia e outros males. Tradução de Felipe Moura Brasil. 2. ed. São Paulo: Ecclesiae, 2016.

SCHWARCZ, Lilia Moritz. Eugenia no Brasil: O Discurso Científico Racista e o Projeto de Nação (1870-1930). São Paulo: Editora Perspectiva, 2019.


Fonte: Brasil Escola - https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/eugenia.htm