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Crônica narrativa

A crônica narrativa é marcada pela brevidade de ações ocorridas em tempo e espaço determinados. Geralmente apresenta diálogo ágil, com possibilidade de se explorar o humor.

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A crônica narrativa é um gênero literário marcado pela brevidade de ações ocorridas em tempo e espaço determinados. As histórias geralmente apresentam diálogos ágeis, marcados pela possibilidade de se explorar o humor, com finais surpreendentes e/ou inusitados.

De maneira bastante usual, personagens e situações colocam-se de maneira ficcional, embora sejam trabalhadas temáticas do cotidiano, em que se realizam reflexões sobre o comportamento humano, a fim de se construir crítica social. Considerando a intencionalidade do gênero, é comum o uso de linguagem coloquial, do dia a dia, refletindo as características das personagens.

É bastante comum que os autores de crônicas narrativas explorem fatos e acontecimentos do tempo presente, e que se construam narradores que olham pelo “buraco da fechadura”, revelando o comportamento das pessoas diante de questões sociais, políticas, artísticas, individuais, coletivas, entre tantas outras, mas que tenha o ser humano como foco.

Leia também: Como tornar um texto coeso?

As redações de jornais são ainda grandes produtoras de crônicas no Brasil.
As redações de jornais são ainda grandes produtoras de crônicas no Brasil.

Tópicos deste artigo

Como fazer uma crônica narrativa

Para se produzir uma crônica narrativa de excelência, é fundamental que se tenha em mente um projeto de texto que contemple:

  • Um assunto interessante, do cotidiano, pelo qual seja possível realizar reflexões, críticas sociais;

  • Identificação do melhor tipo de narrador, se observador ou personagem, para contar a história;

  • Determinação do cenário e do tempo da narrativa, ou seja, quando e onde as ações serão vividas e desencadeadas;

  • Um final surpreendente, além de escolher se a abordagem permitirá o uso do discurso humorístico para prender a atenção do leitor e tornar a leitura fluente e prazerosa.

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Por fim, vejamos o que diz Artur da Távola sobre como se escrever uma crônica:

A crônica é (e será) a leitura do futuro: compacta, rápida, direta, aguda, penetrante, instantânea (dissolve-se com o uso diário). [...] A crônica é um hiato, uma interrupção da notícia, um suspiro da frase, um desabafo do parágrafo, um relax do estilo direto e seco da escrita do jornal, do qual se arroga ser o hiato literário, a literatura do jornal. O jornalismo da literatura. Literatura jornalística. Uma pausa de subjetividade, ao lado da objetividade da informação. Um instante de reflexão, diante da opinião peremptória da editoria. [1]

Saiba também: Crônica argumentativa: veja suas características

Principais características da crônica narrativa

  • Trata-se de um texto curto, produzido usualmente para ser publicado em jornais, revistas ou mesmo em livros.

  • Tempo e espaço bem definidos. Muitas vezes, as ações desenrolam-se em uma única cena, em um único instante.

  • Por seu caráter de narrativa rápida, ágil, o texto apresenta poucas personagens, podendo ser narrado com foco em primeira ou terceira pessoa do discurso.

As crônicas, em geral, podem ser encontradas em jornais, revistas e livros.
As crônicas, em geral, podem ser encontradas em jornais, revistas e livros.
  • A linguagem da crônica narrativa é simples, podendo ser coloquial, representativa das personagens e do próprio olhar do narrador para os fatos.

  • É um texto em prosa, podendo, inclusive, ser escrito apenas com o uso de diálogos, sem a interferência do narrador. O título geralmente é criativo, e o final, surpreendente.

  • Trabalha assuntos do cotidiano, temas próximos das experiências dos leitores, com o objetivo de se colocar o ser humano no foco da observação, construindo crítica social.

Videoaula sobre crônica narrativa

 

Exemplo de crônica narrativa

No restaurante

Carlos Drummond de Andrade

– Quero lasanha.

Aquele anteprojeto de mulher - quatro anos, no máximo, desabrochando na ultraminissaia – entrou decidido no restaurante. Não precisava de menu, não precisava de mesa, não precisava de nada. Sabia perfeitamente o que queria. Queria lasanha. O pai, que mal acabara de estacionar o carro em uma vaga de milagre, apareceu para dirigir a operação-jantar, que é, ou era, da competência dos senhores pais.

– Meu bem, venha cá.

– Quero lasanha.

– Escute aqui, querida. Primeiro, escolhe-se a mesa.

– Não, já escolhi. Lasanha.

Que parada – lia-se na cara do pai. Relutante a garotinha condescendeu em sentar-se primeiro, e depois encomendar o prato:

– Vou querer lasanha.

– Filhinha, por que não pedimos camarão? Você gosta tanto de camarão.

– Gosto, mas quero lasanha.

– Eu sei, eu sei que você adora camarão. A gente pede uma fritada bem bacana de camarão. Tá?

– Quero lasanha, papai. Não quero camarão.

– Vamos fazer uma coisa. Depois do camarão a gente traça uma lasanha. Que tal?

– Você come o camarão e eu como lasanha.

O garçom aproximou-se, e ela foi logo instruindo:

– Quero lasanha.

O pai corrigiu:

– Traga uma fritada de camarão pra dois. Caprichada.

A coisinha amuou. Então não podia querer? Queriam querer em nome dela? Por que é proibido comer lasanha? Essas interrogações apenas se liam no seu rosto, pois os lábios mantinham reserva. Quando o garçom voltou com os pratos e o serviço, ela atacou:

– Moço, tem lasanha?

– Perfeitamente, senhorita.

O pai, no contra-ataque:

– O senhor providenciou a fritada?

– Já sim, doutor.

– De camarões bem grandes?

– Daqueles legais, doutor.

– Bem, então me vê um chinite, e para ela... O que é que você quer, meu anjo?

– Uma lasanha.

– Traz um suco de laranja para ela.

Com o chopinho e o suco de laranja, veio a famosa fritada de camarão, que, para a surpresa do restaurante inteiro, interessado no desenrolar dos acontecimentos, não foi recusada pela senhorita. Ao contrário, papou-a, e bem. A silenciosa manducação atestava, ainda uma vez, no mundo, a vitória do mais forte.

– Estava uma coisa, hem? - comentou o pai, com um sorriso bem alimentado - Sábado que vem, a gente repete... Combinado?

– Agora a lasanha, não é, papai?

– Eu estou satisfeito. Uns camarões tão geniais! Mas você vai comer, mesmo?

– Eu e você, tá?

– Meu amor, eu...

– Tem de me acompanhar, ouviu? Pede a lasanha.

O pai baixou a cabeça, chamou o garçom, pediu. Aí, um casal, na mesa vizinha, bateu palmas. O resto da sala acompanhou. O pai não sabia onde se meter. A garotinha, impassível. Se, na conjuntura, o poder jovem cambaleia, vem aí, com força total, o poder ultrajovem.

Fonte: O Poder Ultrajovem e mais 79 textos em prosa e verso, 1972.

Leia também: Ciao: a última crônica de Carlos Drummond de Andrade

Representantes da crônica narrativa na literatura brasileira

Clarice Lispector é uma grande representante da crônica narrativa brasileira. [1]
Clarice Lispector é uma grande representante da crônica narrativa brasileira. [1]

Segundo alguns historiadores e críticos literários, a partir da década de 30 do século XX, a crônica consolidou-se como um gênero textual brasileiro, quando autores de renome passaram a publicar, sobretudo em jornais, textos dessa natureza. São exemplos de grandes autores que escreveram crônicas:

Assim, tanto a dedicação desses escritores como o crescimento dos jornais no Brasil contribuíram, sobremaneira, para que a crônica fosse disseminada e tomada como um gênero literário, caindo no gosto dos brasileiros e firmando-se como um texto próximo dos seus leitores.

Mais recentemente em nossa história, podemos citar Rubem Braga e Luis Fernando Veríssimo como grandes representantes do gênero. Vale ressaltar ainda que, com o advento das mídias digitais, é possível encontrar esse texto circulando não apenas em livros e jornais, mas também em outros veículos, o que contribui para a popularização da crônica e para o seu acesso mais facilitado.

Crédito de imagem:

[1] Arquivo Nacional

Notas:

[1] TÁVOLA, Artur da. Ser jovem. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985, página 54.


Por Sara de Castro
Professora de Castro

Escritor do artigo
Escrito por: Sara de Castro Escritor oficial Brasil Escola

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

CASTRO, Sara de. "Crônica narrativa"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/redacao/cronica-narrativa.htm. Acesso em 28 de março de 2024.

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