Notificações
Você não tem notificações no momento.
Whatsapp icon Whatsapp
Copy icon

O que foram as heresias medievais?

O que foram as heresias medievais? Com grande crescimento a partir da Baixa Idade Média e pelo seu caráter popular, levaram a Igreja a combatê-las a partir do uso da violência.

Retrato das torturas realizadas durante o interrogatório inquisitorial
Retrato das torturas realizadas durante o interrogatório inquisitorial
Imprimir
Texto:
A+
A-

PUBLICIDADE

Foram considerados heresias todos os movimentos religiosos dentro do Cristianismo que foram condenados pela Igreja Católica por não concordarem com a ortodoxia estabelecida no catolicismo. Os movimentos heréticos existiram desde o estabelecimento do Cristianismo nos primeiros séculos depois de Cristo, entretanto, a partir da Baixa Idade Média, esses movimentos popularizaram-se e vários surgiram por várias partes da Europa, tais como os cátaros, valdenses, beguinos etc.

O crescimento das heresias, principalmente a partir do século XII, foi uma demonstração da insatisfação popular com o acúmulo de poder da Igreja e, além disso, antecipou os movimentos da Reforma Protestante.

Nos primeiros séculos da Igreja, a contestação e a defesa da fé católica ficaram a cargo de alguns nomes da época, como Agostinho de Hipona e Irineu de Lião, que, por meio da pregação e de seus escritos, procuraram combater os movimentos heréticos. A partir dessas primeiras heresias, a Igreja reuniu-se em concílios e determinou a doutrina eclesiástica do catolicismo.

As heresias medievais sofreram forte perseguição da Igreja, principalmente por meio da violência, quando os meios pacíficos falhavam. A Igreja Católica, segundo o Manual dos Inquisidores, escrito por um teólogo catalão do século XIV, definiu heresia como:

Herética é toda proposição que se oponha:

a) a tudo o que esteja expressamente contido nas Escrituras;

b) a tudo o que decorra necessariamente do sentido das Escrituras;

c) ao conteúdo das palavras de Cristo, transmitidas aos apóstolos, que, por sua vez, transmitiram-nas à Igreja;

d) a tudo o que tenha sido objeto de uma definição em algum dos Concílios ecumênicos;

e) a tudo o que a Igreja tenha proposto à fé dos fiéis;

f) a tudo o que tenha sido proclamado, por unanimidade, pelos Padres da Igreja, no que diz respeito à reputação da heresia|1|.

Assim, fica evidente que qualquer doutrina que questionava o poder da Igreja sediada em Roma ou que não estava de acordo com a doutrina estabelecida era condenada como heresia e passava a sofrer perseguições.

Tópicos deste artigo

Século herético e Tribunal da Inquisição

Por causa da grande quantidade de movimentos heréticos que surgiram na Europa durante os séculos XII e XIII, os historiadores passaram a chamá-los de séculos heréticos. Os movimentos heréticos, em geral, utilizavam-se da riqueza e do grande poder que a Igreja possuía como argumento para criticá-la e obter seguidores para si. O historiador Nachman Falbel também pontua que:

Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)

Na verdade, podemos ver na crítica herética, ou melhor dito, em parte desta crítica, uma tentativa de apontar os erros e os desvios da instituição eclesiástica, da sua intervenção no poder secular à custa de sua missão espiritual; enfim, uma tentativa de alertar a sociedade cristã de que os seus representantes desvirtuaram a verdadeira imagem da religião fundada por Cristo|2|.

Apesar disso, a Igreja via nos movimentos heréticos grande ameaça, pois parte deles possuía potencial de causar a desobediência civil contra a hierarquia da época. Assim, a Igreja optou por instituir, a partir do papa Gregório IX, o Tribunal da Santa Inquisição, em 1229. A Igreja estendeu essa tarefa de combate às heresias ao braço secular (que não está sujeito a uma ordem religiosa), permitindo e justificando o uso da violência contra os hereges. Apesar disso, o primeiro relato de herege morto a mando da Igreja remonta ao século IV, quando Prisciliano foi decapitado em 385.

O Tribunal da Santa Inquisição atuou no sentido de investigar, julgar e condenar as pessoas acusadas de heresia. Caso houvesse condenação, o acusado era entregue para as autoridades seculares, que aplicavam a punição estabelecida aos culpados: morte na fogueira. Durante o processo, permitia-se o uso das torturas como forma de obter uma confissão. Sabe-se que as heresias condenaram milhares de pessoas, porém, os historiadores não sabem ao certo quanto foram mortos.

Entre as várias heresias que se desenvolveram a partir do século XII, duas das mais importantes foram:

  • Os cátaros ou albigenses: surgiram na França e possuíam uma visão dualista do mundo, ou seja, o mundo material era mau e o mundo espiritual era bom. Afirmavam que o mundo havia sido criado por Satã, contestavam a Trindade e condenavam o casamento e a procriação. Foram perseguidos durante a Cruzada Albigense (1209-1229), e a heresia desapareceu a partir do século XIV;

  • Valdenses: também surgiram na França a partir das pregações de Pedro Valdo, rico comerciante de Lyon que abandonou seu ofício em 1176 para seguir a vida como pregador. Faziam voto de pobreza, contestavam a autoridade da Igreja Católica e afirmavam obedecer somente a Deus. Foram perseguidos pela Inquisição, mas sobreviveram e fundaram igrejas que hoje atuam em vários países.

|1| EYMERICH, Nicolau. Manual dos Inquisidores. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos; Brasília: Fundação Universidade de Brasília, 1993, p.33-34.
|2| FALBEL, Nachman. Heresias medievais. São Paulo: Perspectiva, 1977, p.14.


Por Daniel Neves
Graduado em História

Escritor do artigo
Escrito por: Daniel Neves Silva Formado em História pela Universidade Estadual de Goiás (UEG) e especialista em História e Narrativas Audiovisuais pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Atua como professor de História desde 2010.

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SILVA, Daniel Neves. "O que foram as heresias medievais?"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/historia/o-que-foram-as-heresias-medievais.htm. Acesso em 23 de abril de 2024.

De estudante para estudante


PUBLICIDADE