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O que foi a Unidade 731?

O que foi a Unidade 731? Essa unidade secreta do exército japonês contou com largo investimento para promover pesquisas macabras e desenvolver armas biológicas.

A Unidade 731, criada em 1936, foi largamente utilizada pelos japoneses durante a Segunda Guerra sino-japonesa
A Unidade 731, criada em 1936, foi largamente utilizada pelos japoneses durante a Segunda Guerra sino-japonesa
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Durante a Segunda Guerra sino-japonesa, que acabou fundindo-se aos combates da Segunda Guerra Mundial, o Japão fez uso de armas e testes biológicos, principalmente contra civis e prisioneiros de guerra chineses. O estudo dos efeitos das armas biológicas em seres humanos foi desenvolvido pela Unidade 731, criada por autorização direta do Imperador Hirohito. Essa unidade foi liderada pelo general Shiro Ishii e, nos seus anos de funcionamento, foi responsável pela morte de mais de três mil pessoas.

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O que foi a Unidade 731?

A Unidade 731 foi criada pelo general japonês Shiro Ishii em 1931. Esse general acreditava fortemente no poder dos armamentos químicos e bacteriológicos e, assim, desde 1931, utilizava o laboratório do Colégio de Medicina do Exército em Tóquio para desenvolver suas primeiras pesquisas nessaa área.

Ishii era conhecido do Imperador por seus trabalhos de purificação da água e, até 1936, suas pesquisas foram conduzidas de maneira extraoficial e com poucos recursos. No entanto, o destino de seus estudos foi alterado após um surto epidêmico de cólera ter matado cerca de seis mil soldados japoneses na Manchúria. Supostamente, esse surto teria sido causado por espiões chineses que teriam envenenado a água.

Assim, por ordem do imperador japonês, foi criada a “Unidade de Prevenção de Epidemias e Purificação de Água” em 1936. A oficialização da Unidade 731 aconteceu, portanto, a partir do Selo Imperial dado por Hirohito. Após isso, a Assembleia japonesa aprovou que essa unidade recebesse grandes quantias de dinheiro. O dinheiro do orçamento da Unidade 731 era camuflado dentro dos gastos militares, o que manteve seu caráter estritamente secreto.

A Unidade 731 tinha como fachada, portanto, a função de realizar a purificação da água utilizada pelos soldados japoneses com o objetivo de evitar envenenamentos e surtos de cólera (causada principalmente pela ingestão de água contaminada) e outras doenças, provocados ou não pelo inimigo. No entanto, secretamente, a Unidade 731 promovia estudos para desenvolver armamentos químicos e biológicos.

Além disso, a Unidade 731 realizava testes macabros em seres humanos para registrar os limites do corpo humano quando submetido a situações extremas que poderiam acontecer no front de batalha e contaminava propositalmente seus prisioneiros com diversas doenças.

Qual era o contexto de atuação da Unidade 731?

A Unidade 731 atuou no período em que o Japão esteve lutando contra a China, na Segunda Guerra sino-japonesa, e contra os Estados Unidos e outras nações Aliadas, durante a Segunda Guerra Mundial. É importante lembrar que a entrada do Japão nas duas guerras aconteceu por causa dos interesses imperialistas que o Japão possuía em regiões vizinhas na Ásia.

A tensão entre China e Japão fortaleceu-se a partir da invasão da Manchúria, acontecida em 1931. O estopim para o conflito, porém, ocorreu somente em 1937, quando tropas chinesas e japonesas entraram em confronto em Pequim após um desentendimento. Ao longo da guerra, o Japão promoveu grande destruição em vários locais da China. Estima-se que cerca de 20 milhões de chineses tenham morrido durante esse conflito.

A Guerra sino-japonesa acabou fundindo-se com os combates da Segunda Guerra Mundial a partir de 1941. A entrada do Japão nessa guerra aconteceu após a realização do ataque surpresa à base naval americana de Pearl Harbor, em 7 de dezembro de 1941. No dia seguinte, os Estados Unidos declararam guerra contra os japoneses. Ambos os conflitos só foram encerrados em 1945.

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Testes realizados pela Unidade 731

Ao longo dos anos de guerra, a Unidade 731 manteve suas pesquisas secretas em pleno funcionamento. O historiador Antony Beevor afirma que essa unidade chegou a mobilizar cerca de três mil cientistas e doutores das universidades de medicina do Japão e, além disso, contava com mais 20 mil funcionários que realizavam outras tarefas diversas|1|.

Além da grande quantidade de pessoal, o jornalista Edward Behr afirma que, em 1941, o orçamento inicial da Unidade 731 havia aumentado dez vezes, o que totalizava um gasto de 30 milhões de ienes|2|. O conjunto dessas informações permite entender, portanto, como foi extensa a atuação dessa unidade secreta no esforço de guerra japonês.

A Unidade 731 mantinha sob seu controle tonéis que continham bactérias causadoras de inúmeras doenças, como tifo e varíola, e armazenavam compostos como antraz. Os prisioneiros utilizados como cobaias eram chamados pelos japoneses de marutas (“troncos de madeira”, traduzido do japonês). Edward Behr trouxe em seu livro Hiroíto – por trás da lenda relatos de pessoas que trabalharam na Unidade 731:

Ozono [trabalhou na Unidade 731 na emissão de documentos secretos] descreve como os marutas, […], eram vítimas de diversas formas de pesquisas: alguns eram infectados com disenteria ou injetados com tétano; outros (alguns usando máscaras, outros não) eram levados a um lugar aberto e “bombardeados” com cianureto; outros ainda eram encerrados em “câmaras frias” a 50 graus negativos e congelados até a morte. […] Outros experimentos eram ainda mais aterradores: para controlar os limites da duração humana, prisioneiros eram obrigados a carregar pesadas mochilas do Exército e marchar em círculo no clima frio da Manchúria, com quantidades mínimas de alimento e água, até morrerem de exaustão|3|.

E o historiador Antony Beevor traz informações a respeito das tentativas de guerra química e bacteriológica que foram realizadas e planejadas pelo Japão ao longo da guerra:

Em 1939, durante a batalha Nomonhan contra as forças do marechal Jukov, a unidade espalhou patógenos de tifo nos rios, mas o efeito não foi registrado. Em 1940 e 1941, cascas de algodão e arroz contaminadas com peste negra foram despejadas de avião no centro da China. Em março de 1942, o Exército Imperial japonês planejou usar moscas da praga contra americanos e filipinos na península Baatan […]. Mais tarde, naquele ano, patógenos de tifo, peste e cólera foram borrifados na província de Chekiang em retaliação pelo primeiro ataque americano com bomba no Japão|4|.

Apesar de todos os horrores causados pela Unidade 731, o seu grande mentor e líder, Shiro Ishii, não foi condenado por nenhum dos crimes cometidos a seu mando durante a guerra. O general Douglas MacArthur, que chefiou a ocupação do Japão após a guerra, retirou qualquer acusação contra Shiro Ishii e, em troca, os Estados Unidos tiveram acesso a todas as informações secretas da Unidade 731. A imunidade fornecida a Ishii foi estendida a todos os seus subordinados.

Os soviéticos solicitaram que ao menos Shiro Ishii fosse condenado pelos horrores da Unidade 731, no entanto, os pedidos soviéticos foram rejeitados pelos Estados Unidos. Ishii viveu até 1959 e sua morte foi em decorrência de um câncer de garganta.

|1| BEEVOR, Antony. A Segunda Guerra Mundial. Rio de Janeiro: Record, 2012, p. 853.
|2| BEHR, Edward. Hiroíto – por trás da lenda. São Paulo: Globo, 1991, p. 214.
|3| Idem, p. 213.
|4| BEEVOR, Antony. A Segunda Guerra Mundial. Rio de Janeiro: Record, 2012, p. 854.


Por Daniel Neves
Graduado em História

Escritor do artigo
Escrito por: Daniel Neves Silva Formado em História pela Universidade Estadual de Goiás (UEG) e especialista em História e Narrativas Audiovisuais pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Atua como professor de História desde 2010.

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SILVA, Daniel Neves. "O que foi a Unidade 731?"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/historia/o-que-foi-unidade-731.htm. Acesso em 24 de abril de 2024.

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