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O que foi a Guerrilha do Araguaia?

O que foi a Guerrilha do Araguaia? Foi uma organização comunista de orientação maoista que tentou instituir um foco revolucionário no Norte do Brasil.

A Guerrilha do Araguaia possuía um viés revolucionário comunista de orientação maoista
A Guerrilha do Araguaia possuía um viés revolucionário comunista de orientação maoista
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A Guerrilha do Araguaia foi uma tentativa de ação revolucionária comunista no Brasil que transcorreu entre 1967 e 1974, na região conhecida como “Bico do Papagaio”, situada na fronteira entre os estados do Pará, Maranhão e Tocantins (então Goiás). A guerrilha levou esse nome pelo fato de essa região ser entrecortada pelo rio Araguaia. A época do seu desenvolvimento foi a do Regime Militar, instaurado em 1964 com o golpe de 31 de março, embora as raízes ideológicas de seu planejamento remontem ao início dos anos 1960.

Os membros da Guerrilha do Araguaia eram vinculados ao PC do B (Partido Comunista do Brasil), partido revolucionário dissidente do antigo PCB (Partido Comunista Brasileiro), e seguiam a linha estratégica maoista, isto é, a linha adotada por Mao Tsé-Tung na China após a Segunda Guerra Mundial. O objetivo dessa estratégia era instaurar um estado de “guerra popular prolongada” na região Norte do Brasil e, a partir disso, tentar tomar o poder no país.

Para entendermos, portanto, como ocorreu a Guerrilha do Araguaia, precisamos saber um pouco mais sobre a estratégia maoista.

Ao longo da década de 1950, durante os governos Vargas e Juscelino Kubitschek, o Partido Comunista do Brasil, o PCB, que ainda não havia mudado o seu nome para “Partido Comunista Brasileiro”, decidiu mudar seu posicionamento revolucionário marxista-leninista para uma postura mais branda que se adequasse às instituições democráticas e republicanas vigentes à época. Um dos objetivos era conquistar a aceitação no meio político-jurídico e a consequente reabilitação do partido, que estava na ilegalidade desde 1947.

Essa mudança foi anunciada na Declaração de Março de 1958. Dois anos depois, no V Congresso do PCB, os dirigentes do PCB mudaram o nome do partido, dando-lhe um caráter nacionalista: Partido Comunista Brasileiro. Todavia, muitos militantes não concordaram com essas mudanças, sobretudo pelo flagrante abandono da perspectiva revolucionária. Entre os insatisfeitos, estavam nomes como Maurício Grabois e João Amazonas, que, inspirados na teoria do foco revolucionário de Che Guevara e sobretudo na estratégia da “guerra popular prolongada”, de Mao Tsé-Tung, formaram uma dissidência que levou o epíteto de Partido Comunista do Brasil ou, simplesmente, PC do B.

Muitos militantes do PC do B e também de outras organizações, como a Ação Popular, receberam treinamento militar em 1963, na Academia Militar de Pequim, portanto, antes do golpe militar, o que prova que a ação desses grupos não era uma simples reação ao Regime Militar instaurado em março de 1964. O método maoista, absorvido pelos militantes do PC do B em Pequim, previa a instalação de centro guerrilheiro na região Norte do Brasil, entre a floresta amazônica, o Nordeste e o Centro-Oeste. O foco serviria para programar a expansão da revolução do meio rural para as zonas urbanas. A reação do Exército regular do país seria “manobrada” pela guerrilha com vistas ao desgaste extremo, como bem define o militar e historiador Alessandro Visacro:

[…] a guerra de guerrilhas por si só não era suficiente para infligir ao inimigo uma guerra decisiva e assegurar a tomada do poder. Na verdade, não competia à guerrilha vencer, apenas desgastar as forças oponentes, obrigando-as a lutar campanhas longas e inconclusivas – bastava não ser derrotada. Ao mesmo tempo em que desempenhavam um importante papel na conquista do apoio da população, os grupos guerrilheiros, acumulando pequenos sucessos, expandiam continuamente sua estrutura organizacional, até o último estágio, sem perder algumas das qualidades essenciais de manobras, iniciativa, liberdade de ação, apoio da população e conhecimento do terreno, as unidades irregulares transformavam-se em tropas convencionais capazes de lutar e vencer grandes batalhas. [1]

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A montagem do foco guerrilheiro do PC do B na região do Bico do Papagaio começou em 1967. Outros focos, como o da VAR-Palmares, de Carlos Lamarca, também foram montados na mesma região, mas rapidamente identificados e debelados pelo Exército. Os militantes do PC do B foram os últimos a serem descobertos, o que ocorreu apenas em 1972.

  • Descoberta e desmantelamento da guerrilha

Os militares brasileiros conseguiram identificar a Guerrilha do Araguaia a partir de investigações feitas com a população de camponeses que habitava as cercanias do Bico do Papagaio. Cabe ressaltar que alguns desses camponeses colaboravam e integravam o grupo de guerrilheiros. As principais operações levadas a cabo contra a Guerrilha do Araguaia foram: Operação Papagaio, Operação Sucuri e Operação Marajoara. Entre os principais comandantes, estavam os coronéis Curió e Nilton Cerqueira.

Como narra o jornalista Elio Gaspari, em sua obra “A Ditadura Escancarada”, no início da campanha do Exército contra a guerrilha, isto é, nos primeiro 45 dias:

[….] as operações militares foram conduzidas de forma a empurrar os guerrilheiros para as terras mais altas e secas, para emboscá-los quando descessem em busca de água. Essa tática resultara em três choques bem-sucedidos, com a captura e morte de seis guerrilheiros. Restavam em torno de 50 quadros (militantes treinados) do PC do B, e a Operação Marajoara corria o risco de repetir o fracasso dos ataques anteriores. Em dezembro, assumiu o comando das operações o coronel Nilton Cerqueira, que dois anos antes emboscara Carlos Lamarca no sertão baiano. Instalou seu posto de comando num curral de fazenda e mudou a tática. Jovens tenentes e capitães que entravam no mato insistiam há tempo que se deveria trocar a linha da cautela pela da agressividade. Duas bases de operações perdidas na selva ganharam autonomia em relação à sala refrigerada da casa de telhado azul. Era a aplicação de um ensinamento das forças contrainsurrecionais: “Guerrilha se combate com guerrilha”. [2]

A resistência oferecida pelos guerrilheiros, que não esperavam ser descobertos em 1972, privados de bom armamento e sem estratégia de fuga, foi quase inócua. Os militares, superiores em número e em qualidade de armamento, “caçaram” os guerrilheiros um a um durante três anos, prendendo, torturando, fuzilando e ocultando os cadáveres.

Entre os principais nomes do PC do B atuantes na Guerrilha do Araguaia, podemos citar: Micheas Gomes de Almeida (o “Zezinho do Araguaia”), João Amazonas, Ângelo Arroyo, Maurício Grabois (líder da guerrilha), Elza Monerat, Osvaldo Orlando da Costa (vulgo “Osvaldão”), Nélson Piauhy Dourado, os irmãos Petit (Maria Lúcia, Jaime e Lúcio), Regilena da Silva Carvalho (Lena), José Genoíno (codinome Geraldo), entre outros, que, ao todo, chegaram a 71.

NOTAS

[1] VISACRO, Alessandro. Guerra Irregular: terrorismo, guerrilha e movimentos de resistência ao longo da história. São Paulo: Contexto, 2009. p. 85.

[2] GASPARI, Elio. “A Ditadura Escancarada”. In: As Ilusões Armadas (vol. 2). Rio de Janeiro: Intrínseca, 2014. p. 453.


Por Me. Cláudio Fernandes

Escritor do artigo
Escrito por: Cláudio Fernandes Escritor oficial Brasil Escola

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FERNANDES, Cláudio. "O que foi a Guerrilha do Araguaia?"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/historia/o-que-foi-guerrilha-araguaia.htm. Acesso em 20 de abril de 2024.

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