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Estória de Narciso e Eco

O mito de Narciso e Eco pode ajudar a compreender a nossa forma de ser nas sociedades contemporâneas.

Narciso foi citado como uma das criaturas mais lindas que já existiram.
Narciso foi citado como uma das criaturas mais lindas que já existiram.
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Existem duas versões mais debatidas sobre o mito de Narciso. Uma, menos tradicional, oriunda do Poeta grego Pausânias, diz que Narciso teria uma irmã gêmea e que ela era o seu reflexo. Outra, considerada a versão original do mito, compreende que Narciso era uma das criaturas mais lindas já existentes. Por causa de sua beleza, as mulheres ficavam encantadas pelo jovem mancebo, filho de Cefiso e Liríope.

O nome Narciso (tema narkhé = torpor, como em narcótico para nós) já parece indicar o que sua existência significaria: sua beleza entorpece, atordoa, embaraça a todos aqueles por quem ela é vista. Mas também, por sua ascendência, Narciso tem estreita relação com a ideia de água, escoamento e fertilidade, por parte de pai, bem como mansidão, voz macia e leveza (por parte de mãe). Tudo isso influenciaria sua vida. Vejamos por quê.

Conta-se que, certa vez, Narciso passeava nos bosques. Perto dali, a ninfa ECO, que era uma tagarela incorrigível, acompanhava-o, admirando sua beleza, mas sem deixar que a notasse. Eco, em virtude de sua tagarelice, foi punida por Hera, esposa de Zeus, para que sempre repetisse os últimos sons que ouvisse (por isso, na física, chamamos de eco a reverberação do som). Por sua vez, Narciso, suspeitando de que estava sendo seguido, perguntou: “quem está aí?”. E ouviu: “Alguém aí?” Então, ele gritou novamente: “Por que foges de mim?”. E ouviu “foges de mim”. Até dizer “Juntemo-nos aqui” e ter como resposta “juntemo-nos aqui”. Toda essa repetição acabou deixando Narciso angustiado por desejar amar algo que não poderia ver.

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Dessa forma, Narciso entristeceu-se e foi à beira de um lago, onde, de modo surpreendente, deparou-se com sua imagem nos reflexos da água. Como nunca antes havia se olhado (pois sua mãe foi recomendada a não permitir que isso ocorresse), enamorou-se perdidamente, acreditando ser a pessoa com quem estava “dialogando”. Por isso, tentou buscar incessantemente o seu reflexo, imergindo nas águas nesse intento, mas acabou morrendo afogado. A ninfa Eco sentiu-se culpada e transformou-se em um rochedo, vivendo a emitir os últimos sons que ouve. Do fundo da lagoa, surgiu a flor que recebeu o nome de Narciso e tem as suas características.

O mito de Narciso e Eco é, até hoje, estudado pelos psicólogos. Alguns explicam que o alter ego, isto é, o outro que nos completa, é buscado fora de si, mas sempre como um retorno a si mesmo.  Essa compreensão mostra o quanto somos egoístas em relação às nossas necessidades, a ponto de ser possível uma relação entre um mito da Antiguidade e as sociedades de consumo do sistema capitalista de produção. Isso porque nesse sistema vivemos em busca de preencher o vazio libidinal que nos atormenta, redirecionando nossas pulsões sexuais para a satisfação na aquisição de bens. Ora, é essa tentativa de satisfação que promove um individualismo exarcebado no mundo contemporâneo, sendo, por isso, apelidado de sociedade narcisista.

Por João Francisco P. Cabral
Colaborador Brasil Escola
Graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Uberlândia - UFU
Mestre em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP

Escritor do artigo
Escrito por: João Francisco Pereira Cabral Escritor oficial Brasil Escola

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

CABRAL, João Francisco Pereira. "Estória de Narciso e Eco"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/mitologia/estoria-narciso-eco.htm. Acesso em 29 de março de 2024.

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