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O eu poético e o autor: diferenças que os demarcam

Precisamos estabelecer as diferenças que demarcam o eu poético e o autor, haja vista que o primeiro foi criado para expressar as ideias do segundo.

Diferenças demarcam o eu poético e o autor
Diferenças demarcam o eu poético e o autor
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O texto poético deve apresentar características indispensáveis, tais como: subjetividade, emoção, lirismo, entre outras. Partindo desse princípio, levantamos um questionamento que se mostra relevante: haveria um ponto de contato, uma semelhança, enfim, uma afinidade, entre quem escreve (no caso, o autor) e o enunciador de um poema, ou seja, a voz que fala, que se expressa dentre desse?

Assim, analisemos as palavras de um renomado crítico, Yves Stalloni, fazendo referência à concepção do eu lírico:

[...] O lirismo é a emanação de um eu – que o romantismo gostava de confundir com a pessoa do poeta, mas que pode se apagar por detrás de uma de suas personagens. 

STALLONI, Yves. Os gêneros literários. Rio de Janeiro: Difel, 2001, p. 151.

Por meio delas, dá-se a entender que não podemos confundir tais elementos, haja vista que autor é quem cria, notadamente, e o eu poético representa um ser criado para expressar as emoções intuídas pela autoria do poema.
Vejamos agora uma das criações de Carlos Drummond de Andrade, na qual se evidenciam traços de afinidade entre autor e eu poético, embora distintos pelas suas características:

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Confidência do itabirano

Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.

A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.

De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...

Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!

Como é sabido por todos nós, o autor nasceu realmente em Itabira, no entanto, a voz que expressa dentro do poema necessariamente assume outro perfil, outra identidade – eis o fato de estabelecermos tal distinção.

Vânia Duarte
Graduada em Letras

Escritor do artigo
Escrito por: Vânia Maria do Nascimento Duarte Escritor oficial Brasil Escola

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

DUARTE, Vânia Maria do Nascimento. "O eu poético e o autor: diferenças que os demarcam "; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/o-eu-poetico-autor-diferencas-que-os-demarcam.htm. Acesso em 19 de abril de 2024.

De estudante para estudante


Videoaulas


Lista de exercícios


Exercício 1

(FUVEST – 2001) 

Teu romantismo bebo, ó minha lua,

A teus raios divinos me abandono,

Torno-me vaporoso... e só de ver-te

Eu sinto os lábios meus se abrir de sono.

(Lira dos vinte anos – Álvares de Azevedo)

Nesse excerto, o eu-lírico parece aderir com intensidade aos temas de que fala, mas revela, de imediato, desinteresse e tédio. Essa atitude do eu-lírico manifesta a:

a) ironia romântica

b) tendência romântica

c) melancolia romântica

d) aversão dos românticos à natureza

e) fuga romântica para o sonho

Exercício 2

Confidência do itabirano

Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.

A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.

De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...

Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!

(Carlos Drummond de Andrade)

Sobre o poema de Drummond, é correto afirmar que:

I. O poeta emprega o recurso do eu-lírico para distanciar-se do tema desenvolvido nos versos.

II. A palavra “confidência” afasta o poeta do tema proposto.

III. Há vários indícios que corroboram com a afirmativa de que existem contrapontos importantes entre o eu-lírico e o autor do poema.

IV. A palavra “confidência” aproxima o autor do tema proposto.

Estão corretas as proposições:

a) I e II.

b) II e III.

c) III e IV.

d) I, III e IV.