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Muros da Irlanda do Norte

Os muros da Irlanda do Norte são representativos da disputa entre católicos e protestantes que vai além do plano religioso e atinge a esfera política e territorial.

Imagem de um dos muros da Irlanda, com várias mensagens de protestos
Imagem de um dos muros da Irlanda, com várias mensagens de protestos
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A Irlanda do Norte é um território marcado pela dominação do Reino Unido e, principalmente, pela divisão religiosa entre católicos e protestantes, que é, sobretudo, política. Essa cisão, que vai além de uma mera disputa relacionada com a crença da população, tornou-se tão acirrada a ponto de ter ocorrido uma série de confrontos entre forças organizadas de ambos os lados.

Diante dessa configuração, sob a justificativa de manter uma maior segurança para as diferentes partes, foram construídos os Muros da Irlanda do Norte, que literalmente passaram a dividir a população conforme as suas crenças religiosas, principalmente na cidade de Belfast, capital desse território. Embora não exista um isolamento total, os 48% da população protestante encontram-se separados dos 45% católicos por meio da existência desse muro.

Como já dissemos, a divisão entre católicos e protestantes na Irlanda do Norte não é apenas religiosa, mas sobretudo política. Os católicos prezam por um ideal nacionalista, que visa à união do território local com a Irlanda, em um processo de unificação. Os protestantes objetivam a continuação com a integração frente ao Reino Unido, uma vez que os ingleses são predominantemente protestantes.

O muro da cidade de Belfast não atua, no entanto, como uma barreira responsável por um isolamento total da população, pois há, inclusive, “zonas mistas” nas áreas centrais da cidade. Ao longo do dia, o trânsito de pessoas de um lado para outro é permitido, embora monitorado. Por volta das 19h, os portões do muro fecham-se e só se abrem novamente no dia seguinte pela manhã.

Diante dessa configuração, forma-se um contexto de total separação. Católicos e protestantes não dividem muitos espaços em comum, incluindo escolas, hospitais, espaços de lazer e ambientes públicos e privados em geral. As gerações nascem e crescem imbuídas por esse sentido de aversão de um lado em relação ao outro, em uma separação que vai além das marcas do espaço geográfico, atingindo também o plano simbólico.

A origem da questão da Irlanda é antiga e remonta à histórica dominação inglesa sobre o território irlandês, desde o século XII, que se tornou mais acirrada com a Reforma Anglicana e a tentativa de imposição desta pelo Rei Henrique VIII. Mais tarde, após uma série de acontecimentos de dois anos de confrontos, a Inglaterra reconheceu a independência de ¾ do território da Irlanda no ano de 1921, excluindo, no entanto, a província de Ulster, mais conhecida como Irlanda do Norte.

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No início da década de 1920 também foi fundado o IRA (Exército Republicano Irlandês), cujo objetivo era garantir a unidade territorial total do Eire, o Estado Independente Irlandês. Por essa razão, o IRA cometeu muitos atentados considerados terroristas, que intensificaram uma escala de conflitos que durou por várias décadas na região, que se mantém instável até hoje. Em 2005, esse grupo depôs as suas armas e, atualmente, age apenas no plano político.

O episódio mais marcante foi, sem dúvida, o chamado Domingo Sangrento, em que uma ofensiva inglesa no ano de 1972 matou 13 civis desarmados que faziam uma manifestação pacífica em prol do ideal da unificação irlandesa. O episódio gerou um marco internacional que foi retratado em várias obras de arte, livros e até músicas, como “Sunday Bloody Sunday”, da banda U2. A banda The Cranberries também fez um protesto contra as várias mortes e acontecimentos do conflito na Irlanda com a música “Zombie”.

Portanto, muitos justificam a existência do Muro de Belfast e de outras cidades irlandesas como uma forma de garantir a segurança da população dos dois lados do conflito. O início das construções ocorreu ao final da década de 1960 e sempre foi alvo de muita polêmica dentro e fora do país. Atualmente, algumas pinturas são registradas na construção em forma de murais, muitas delas como forma de protestos à dominação inglesa, ao separatismo irlandês e também a outras causas internacionais, como a questão palestina.

Ao longo da cidade de Belfast, pinturas como essa podem ser vistas na extensão do muro *
Ao longo da cidade de Belfast, pinturas como essa podem ser vistas na extensão do muro *

Apesar de serem vistas até como uma atração turística, as “Linhas de Paz” – como também são chamados os Muros da Irlanda – deverão ser destruídas até o ano de 2023, após um plano do governo da Irlanda do Norte para dar fim à separação entre bairros católitos e protestantes com o intuito de promover uma maior integração sociocultural da população local.

*Créditos da imagem: LunaseeStudios / Shutterstock


Por Me. Rodolfo Alves Pena

Escritor do artigo
Escrito por: Rodolfo F. Alves Pena Escritor oficial Brasil Escola

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

PENA, Rodolfo F. Alves. "Muros da Irlanda do Norte"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/geografia/muros-irlanda-norte.htm. Acesso em 19 de março de 2024.

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