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Leste Europeu: Países que formaram a URSS – Parte V

Os fatos que marcaram a Rússia depois da fragmentação da URSS até a configuração política atual.

Vladmir Putin é o maior representante da Rússia capitalista, mas fortemente ligada ao centralismo político.*
Vladmir Putin é o maior representante da Rússia capitalista, mas fortemente ligada ao centralismo político.*
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Com a renúncia de Boris Yeltsin em dezembro de 1999, em razão de seus problemas de saúde, seu vice-presidente, Vladmir Putin, assumiu o governo. Efetivamente, o ano de 2000 foi o primeiro ano de presidência de Putin, que precisou assumir uma postura agressiva frente à crise econômica da Rússia. Sua estratégia foi, basicamente, uma mistura de aprofundamento das políticas neoliberais no plano econômico, mas com uma forte centralização política nos campos interno e externo. Logo em 2000, foram realizadas eleições presidenciais, com a vitória da situação e a confirmação de Vladimir Putin no poder.  

No que tange às repúblicas separatistas do Cáucaso, no sul da Rússia, Putin atuou de maneira ostensiva, provocando a 2ª Guerra Tchetchena (2000-2004). Em 2002, rebeldes tchetchenos invadiram o Teatro de Dubrovka, em Moscou, mantendo mais de 800 pessoas como reféns.  Em uma ação desastrosa da Spetsnaz, uma espécie de grupo de elite para ocorrências especiais, o teatro foi ocupado com o uso de gases tóxicos, o que provocou a morte 42 terroristas e 129 civis. Pouco depois, em 2004, terroristas islâmicos da Inguchétia invadiram uma escola em Beslan, na Ossétia do Norte, mantendo mais de 1000 ossetianos, cristãos ortodoxos, como reféns. Os rebeldes exigiam a saída das tropas russas da Tchetchênia e a libertação de alguns prisioneiros em troca dos reféns. Mesmo com a libertação de alguns dos presos, mais uma vez as tropas russas não conseguiram uma resolução pacífica, o que resultou na morte de 331 pessoas, em sua maioria crianças e adolescentes.

Para o mundo, a Rússia sempre mereceu respeito, seja pelas suas conquistas territoriais do passado, posição estratégica em relação à Europa e Ásia ou pelo seu arsenal bélico e nuclear. Desde 1997, o país é convidado a participar das reuniões do G7, grupo formado pelos países mais industrializados e desenvolvidos, o que levou o grupo a ser denominado G7 + Rússia ou simplesmente G8. O crescimento do bloco militar ocidental OTAN em direção ao Leste Europeu foi visto pelo governo russo com bastante ceticismo, e ficou claro o quanto o país ainda exerce a função de império militar no episódio que levou à invasão da Geórgia, em 2008, quando os georgianos estavam muito próximos de se aliar à OTAN, ainda que esse não tenha sido o argumento oficial para a invasão russa.

O crescimento da União Europeia durante a década de 2000 atraiu muitos ex-aliados para o bloco europeu, até mesmo os países bálticos que fizeram parte da URSS, mas que também sempre procuraram se distanciar da Rússia, antes mesmo do fim do império soviético. Vladimir Putin nunca se colocou favorável a uma nova corrida armamentista, mas sempre que observou alguma movimentação geopolítica perto do território russo ou em áreas de interesse internacional como o Oriente Médio, imediatamente expressou argumentos belicistas e de defesa dos interesses soberanos da Rússia.

Reeleito em 2004, Putin não pôde se candidatar novamente nas eleições de 2007, apontando como seu sucessor Dmitri Medvedev, advogado e executivo da Gazprom, empresa estatal russa que é considerada a maior empresa de gás natural do mundo. Medvedev deu continuidade ao projeto de Putin, que exerceu o cargo de 1° ministro na gestão de Medvedev, o que na prática significou a manutenção de Vladimir Putin na esfera de tomada de decisões do país. Foi muito comum em diversas ocasiões, como nas reuniões do G8, declarações sobre intervenções militares e acordos econômicos, a presença de Putin e não de Medvedev.

Se considerarmos o período formado pelo segundo mandato de Vladmir Putin juntamente ao governo de Dmitri Medvedev, o país conquistou o status de nação emergente, acumulando um grande crescimento econômico. O setor energético, em destaque o gás natural e o petróleo, teve uma função essencial nesse processo. Ao contrário do que ocorre em muitos países que exportam minerais fósseis, a Rússia conseguiu canalizar as divisas obtidas pela exportação de gás e petróleo para outros segmentos da economia, o que levou a Rússia à condição de país integrante do grupo dos BRICS, formado pelos principais países emergentes. Nas últimas reuniões dos BRICS, a Rússia tem procurado estabelecer novas relações comerciais dentro de um eixo que apresenta maior potencial de crescimento, e até porque há uma enorme dificuldade para a Rússia em competir economicamente com o mercado europeu. Junto ao Brasil, por exemplo, existem muitas possibilidades de parcerias no setor mineral e energético.

Aproveitando o atual momento de crescimento econômico russo, Putin tem estimulado a criação de uma zona de integração econômica entre as ex-repúblicas, que a princípio está sendo constituída por Belarus (Bielorrússia), país que está cada vez mais isolado da União Europeia, e o Cazaquistão. Este último possui um grande atrativo para a Europa: petróleo e gás natural em quantidades que poderiam diminuir a dependência europeia em relação aos combustíveis fósseis russos. A assinatura do compromisso para a criação do Espaço Econômico Único e da União Econômica foi realizada em 2011 pelos presidentes dos três países, que já possuem um acordo de União Aduaneira. O novo tratado é mais audacioso, estudando a fundação de um Comitê Executivo para deliberar políticas econômicas em comum.

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Também em 2011, a Rússia conseguiu finalmente a aceitação junto à OMC (Organização Mundial do Comércio), ratificado pelo Parlamento russo em 2012, após 18 anos de tentativas e negociações. Teoricamente, esta era a última barreira para o ingresso da Rússia no processo de globalização econômica. Por ficar por tanto tempo fora da organização, o país sempre precisou a um sistema complexo de cotas comerciais, firmando muitos acordos bilaterais, ou seja, diretamente com os outros países e blocos econômicos. Alguns deputados comunistas e parte do empresariado local não concordaram com a decisão, por acreditarem que essa mudança vai desproteger as empresas de capital russo, que irão competir com produtos estrangeiros que terão menores taxas alfandegárias.

Para o Brasil, o setor pecuarista, com destaque para frangos e suínos, juntamente ao setor aeronáutico, é o que mais sofre impacto com as tarifas impostas pelo governo russo. Mesmo com o aceite na OMC e a possível redução das taxas de importação da Rússia, esses setores devem permanecer protegidos. Os russos planejam uma autossuficiência no segmento da pecuária, que representa o maior canal de comércio entre os dois países.

As eleições de 2012 colocaram Putin na presidência do país pela terceira vez - com Medvedev como 1° ministro -, agora com o mandato presidencial estendido para seis anos, aprovado pelo parlamento russo de maioria pró-Putin. Como há um grande controle em relação à imprensa, com diversos órgãos estatais presentes nesse segmento, a população russa não consegue ter certeza daquilo que está ocorrendo em seu território. Jornalistas e políticos contrários à Putin acabaram presos, como o ex-campeão mundial de xadrez Garry Kasparov, figura pública que procura apontar os problemas das últimas gestões presidenciais. Em 2012, uma banda de punk rock chamada Pussy Riot, cujas letras têm um conteúdo crítico contra o governo de Putin, realizou um concerto dentro de uma igreja ortodoxa em Moscou, e as três integrantes da banda acabaram presas a partir das alegações de vandalismo e ódio religioso, isso porque em meio às músicas, foi feita uma “oração contra Putin”, onde a expressão “Virgem Maria expulse Putin” foi encarada como uma ofensa aos católicos ortodoxos do país.

Durante as votações, foi comum pessoas votarem mais de uma vez, levando a comunidade internacional a acreditar na hipótese de fraude. Milhares de pessoas foram às ruas para protestar contra o resultado das eleições, exigindo a organização de uma nova votação. Alguns meses antes, nas eleições parlamentares que levaram o partido de Putin, ‘Rússia Unida’, à maioria das cadeiras no Parlamento, várias ondas de protestos foram enfrentadas violentamente pelo governo. Todos esses acontecimentos demonstraram a precariedade do processo democrático no país, que ainda não conseguiu completar a transição política para uma democracia de fato. Putin chegou a afirmar até mesmo que o fim da URSS foi um enorme equívoco, sendo um grande defensor da centralidade estatal e dos maiores poderes do executivo.

Em outra direção, o país já está preparando a sua infraestrutura para a organização da Copa do Mundo de Futebol de 2018 e irá realizar as Olimpíadas de Inverno em 2014, mesmo ano em que vai receber pela primeira vez em sua história um Grande Prêmio de Fórmula 1. A realização de todos esses eventos reflete a pujança econômica e a modernização técnica do país. Tais iniciativas representam a exposição para o mundo de seus potenciais econômicos e de atração de investimentos. É vislumbrar o futuro, mas mantendo os pés no passado político dos czares, ditadores e burocratas.

Créditos da imagem: Shutterstock e Alexey Kryuchkov


Júlio César Lázaro da Silva
Colaborador Brasil Escola
Graduado em Geografia pela Universidade Estadual Paulista - UNESP
Mestre em Geografia Humana pela Universidade Estadual Paulista - UNESP

Escritor do artigo
Escrito por: Júlio César Lázaro da Silva Escritor oficial Brasil Escola

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SILVA, Júlio César Lázaro da. "Leste Europeu: Países que formaram a URSS – Parte V"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/geografia/leste-europeu-paises-que-formaram-urss-parte-v.htm. Acesso em 18 de abril de 2024.

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