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Crise Política na Ucrânia

A Crise Política na Ucrânia está relacionada com a disputa de influência no país entre União Europeia e Rússia.

Protesto antigoverno na cidade de Kiev, em 23 de Janeiro de 2014.¹
Protesto antigoverno na cidade de Kiev, em 23 de Janeiro de 2014.¹
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Em novembro de 2013 iniciou-se, na Ucrânia, uma onda de protestos em torno do parlamento do país, cuja motivação principal era a não assinatura de um tratado de livre-comércio comércio com a União Europeia. Esse episódio acirrou ainda mais as diferenças entre os dois principais grupos políticos ucranianos: os “pró-ocidente” e os mais próximos à Rússia.

A decisão de “adiar” o acordo, tomada pelo governo ucraniano, foi em grande parte motivada pela influência russa no país, que não vê com bons olhos a sua aproximação com o bloco europeu. Uma significativa parcela da população e grupos políticos opositores ficaram bastante descontentes com a postura submissa do governo e iniciaram as manifestações que, apesar da renúncia do primeiro-ministro Mykola Azarov em janeiro de 2014, parecem ainda estar longe de acabar.

A Ucrânia é um país de regime semipresidencialista, ou seja, o gabinete e as funções executivas nacionais são divididos entre o presidente (com mandato de cinco anos) e o primeiro-ministro, além de uma influência mais destacada do parlamento. O presidente ucraniano é Viktor Yanukovich, uma personalidade polêmica no país em virtude dos eventos eleitorais relacionados com a Revolução Laranja de 2004, o que o torna inimigo de uma poderosa e influente oposição “pró-ocidente”, a mesma que atualmente lidera boa parte das manifestações no país.

Quem são os manifestantes?

Os opositores ao governo de Yanukovich e da administração de Azarov são formados por várias frentes políticas, a maior parte constituída pela parcela da população mais “ocidental”, ou seja, mais próxima culturalmente da Europa, diferentemente dos 30% dos habitantes que falam russo e possuem uma cultura mais próxima ao país vizinho.

O principal líder e organizador dos protestos é Vitali Klitschko, uma personalidade esportiva do país (ex-campeão de boxe) e que se tornou também uma figura política, com intenções de, inclusive, concorrer à presidência em 2015. Ele atualmente lidera o movimento denominado Udar (“soco”, em tradução livre), que vem mostrando uma ampla frente de mobilização.

Outra força que está atualmente compondo as manifestações é o partido político Svoboda (que significa “liberdade”), liderado por Oleh Tyahnybok e que possui caráter nacionalista, sendo frequentemente acusado de possuir um caráter puramente fascista. Esse partido traz consigo outras frentes de extrema direita, como o Bratstvo e o Setor Direito.

Além dessas frentes, ainda existem grupos de esquerda e até anarquistas que buscam ganhar espaço com as manifestações. Esse grupo, minoritário, não objetiva defender o tratado com a União Europeia – causa maior das manifestações –, mas lutar por melhores condições sociais e atenuação dos índices de pobreza e desigualdade na Ucrânia.

Mas, sem dúvidas, a frente de oposição mais influente sob o ponto de vista internacional é o Pátria, segundo maior partido do país (atrás somente da frente governista), liderado por Arseniy Yatsenyuk, um militante extremamente próximo a Yulia Tymoshenko, ex-primeira-ministra do país presa por abuso de poder em 2009, uma das principais personalidades da Revolução Laranja de 2004.

Yulia Tysmoshenko, ex-primeira-ministra da Ucrânia
Yulia Tysmoshenko, ex-primeira-ministra da Ucrânia ²

Yulia Tymoshenko e a Revolução Laranja de 2004

A Revolução Laranja foi uma série de protestos que tomou as ruas – de forma semelhante a que se iniciou no final de 2013 – durante as eleições presidenciais de 2004 e que se encerrou apenas no ano seguinte. A disputa eleitoral envolveu o atual presidente Viktor Yanukovich (mais próximo à Rússia) e Viktor Yushchenko (mais favorável à União Europeia), resultando na vitória do primeiro.

A oposição, no entanto, não acatou o resultado oficial, sobretudo, em virtude das inúmeras fraudes, imposições e ameaças ocorridas durante a realização do pleito, o que culminou em uma série de manifestações, a maioria delas liderada por Yulia Tymoshenko e o seu grupo, que ficou conhecido como “Bloco Yulia Tymoshenko”.

O evento resultou no cancelamento das eleições e em um novo segundo turno em 2005, com vitória para Victor Tymoshenko, que se aliou à Yulia, nomeando-a primeira-ministra de seu governo. Yanukovich, derrotado, conseguiu se eleger apenas nas eleições posteriores, em 2010.

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No ano de 2009, Yulia Tymoshenko foi acusada de abuso de poder durante um acordo sobre a comercialização de gás natural com a Rússia, episódio que resultou em sua rápida condenação. A Europa aceitou a versão da ex-premiê de que a sua prisão teria sido de caráter puramente político, tornando a sua causa famosa internacionalmente.

As sanções contra os protestos

Com a resistência do governo ucraniano em não aderir à causa das manifestações de assinar o acordo de livre-comércio com a União Europeia, os militantes passaram a exigir a renúncia do presidente e do primeiro-ministro do país, apontados como os principais responsáveis pela influência russa nas decisões nacionais.

Sob a alegação de que os manifestantes utilizavam formas ilegais e violência exagerada durantes os protestos, o parlamento aprovou uma série de leis para reprimi-los duramente, principalmente através do uso da força policial. Essas medidas foram seriamente criticadas pela comunidade internacional, sobretudo após a morte de manifestantes em janeiro de 2014. Os Estados Unidos chegaram a ameaçar a imposição de sanções contra a Ucrânia caso as violações aos direitos humanos prosseguissem. No dia 28 de janeiro, após uma série de negociações entre governo e oposição, o presidente decidiu revogar as leis de repressão aos protestos.

A Renúncia de Mykola Azarov

O auge da tensão do país iniciou-se no dia 23 de Janeiro de 2014, quando cinco manifestantes morreram em confronto com a polícia, além dos inúmeros feridos. No mesmo dia, negociações foram realizadas sem sucesso, o que proporcionou a invasão de várias sedes do governo em diversas regiões do país. Além disso, os opositores também conseguiram invadir a Casa Ucraniana, na cidade de Kiev, e o Ministério da Justiça, que ficou sob o seu controle.

Dois dias depois, o governo ucraniano, mediante a elevação da tensão, ofereceu os cargos de primeiro-ministro ao líder Arseniy Yatsenyuk e o de vice-primeiro-ministro ao boxeador Vitali Klitschko, oferta prontamente recusada pela oposição. No entanto, as negociações continuam.

Em 28 de Janeiro, com o objetivo de diminuir o ímpeto das manifestações, o primeiro-ministro Mykola Arazov pediu a sua demissão. No entanto, a estratégia, ao menos até o momento, não surtiu efeito e os opositores continuam em protestos em exigência à renúncia também do presidente Yanukovich.

A influência russa e europeia sobre a Ucrânia

A ocorrência da crise política na Ucrânia, com a intensificação dos protestos, é o estopim de uma instabilidade política que marca a região há vários anos. A extinta União Soviética – da qual o território ucraniano era integrado – industrializou-se por meio de uma integração estrutural envolvendo todas as suas repúblicas, com o objetivo de garantir uma maior estabilidade territorial. Após a queda do Muro de Berlim, os países ex-soviéticos encontravam-se muito interdependentes, fato que se mantém ainda hoje em muitos aspectos.

Atualmente, a Ucrânia depende comercial e economicamente da Rússia, sobretudo por esta lhe fornecer gás natural, fonte de energia primordial ao país, e por ser o principal comprador de inúmeras matérias-primas produzidas pela economia ucraniana. Quando a Ucrânia se aproximou da União Europeia, a Rússia ofereceu melhores acordos econômicos e, segundo algumas versões não confirmadas oficialmente, ameaçou cortar o fornecimento de gás e a compra dos produtos ucranianos, além de impor restrições alfandegárias.

Por outro lado, a União Europeia, sobretudo a Alemanha, busca ampliar a sua influência sobre as nações asiáticas mais próximas ao ocidente, como é o caso da Ucrânia. Com isso, o bloco europeu conseguiria enfraquecer o domínio russo na região e também diminuir o poder da CEI (Comunidade dos Estados Independentes), bloco econômico formado pelas antigas repúblicas soviéticas.

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¹ Photobank gallery e Shutterstock
² Mark III Photonics e Shutterstock


Por Rodolfo Alves Pena
Graduado em Geografia

Escritor do artigo
Escrito por: Rodolfo F. Alves Pena Escritor oficial Brasil Escola

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

PENA, Rodolfo F. Alves. "Crise Política na Ucrânia"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/geografia/crise-politica-na-ucrania.htm. Acesso em 19 de março de 2024.

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