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Atos extremos: os atentados na Noruega e a violência provocada pelo vídeo que critica Maomé

O mundo globalizado enfrenta uma série de atos extremos que atesta as diversidades culturais e a intolerância diante dessas diferenças.

Ataques motivados por ideais nacionalistas e fanatismo religioso estão entre as ocorrências de terrorismo no século XXI
Ataques motivados por ideais nacionalistas e fanatismo religioso estão entre as ocorrências de terrorismo no século XXI
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No dia 22 de julho de 2011, ocorreram na Noruega dois ataques terroristas simultâneos, idealizados pelo empresário norueguês Anders Behring Breivik, de 32 anos, que ocasionaram a morte de 92 pessoas. O primeiro foi a explosão de um carro bomba em um prédio do ministério norueguês localizado na capital Oslo. O segundo e mais brutal ocorreu cerca de duas horas depois, na ilha de Utoya, 40 km a oeste da capital, onde Anders disparou contra um grupo de jovens do Partido Trabalhista que estava reunido em um acampamento. Tal incidente corresponde aos maiores atentados ocorridos na história recente da Europa Ocidental, o maior da Noruega desde o final da 2a Guerra Mundial.

No início de setembro de 2012, foi lançado na internet um trailer de 14 minutos de um longa-metragem intitulado Innocence of Muslins (“Inocência dos Muçulmanos”) que satirizou Maomé, profeta e criador do islamismo, apresentando duras críticas à religião islâmica, desde a insinuação de homossexualismo do profetaaté a vinculaçãodo Islã com conquistas e violência.Primeiramente atribuído a um judeu, o filme produzido na Califórnia em agosto de 2011 aparentemente foi dirigido por um cristão copta egípcio.Os atores e demais produtores envolvidos alegaram que não sabiam desse conteúdo e que as dublagens ofensivas foram realizadas em uma pós-produção na qual eles não tiveram participação.Em resposta, começaram a ocorrer diversos atentados e hostilizações contra o Ocidente em países islâmicos como Líbia, Egito, Iêmen e Afeganistão. Sobre todos esses fatos, algumas considerações podem ser realizadas.

A Noruega é uma nação exemplar se considerarmos a sua forma de governo e a distribuição das riquezas. O Partido Trabalhista governa o país há mais de 60 anos, com algumas pequenas interrupções. Ele foi fundado no ano de 1887 vinculado aos princípios marxistas, inclusive participando da criação da Internacional Comunista em 1919. Pouco depois, converteu-se em uma social-democracia. Atualmente, os conservadores, também conhecidos como progressistas, buscam uma alternativa de governo pautada na liberalização econômica e eliminação gradual do bem-estar social típico dos países escandinavos. A população do país decidiu em um referendo realizado no ano de 1994 não aderir à União Europeia pelo receio de perder a soberania nacional e as conquistas sociais. A maioria absoluta dos noruegueses expressou perplexidade diante dos atentados, principalmente pelos alvos escolhidos: jovens brancos e noruegueses. Supor que a expressão do ódio pela islamização da Europa (de acordo com o atirador) seria mais aceita se o atentado fosse contra “aqueles diferentes” soa pretensioso, uma tentação conceitual.  Mas, a escolha de Anders assemelha-se muito ao assassinato do premiê israelense Yitzhak Rabin em 1995, que foi cometido por um extremista judeu contrário aos acordos contemplados por Rabin, que buscava o entendimento entre judeus e palestinos. Coincidentemente, esses acordos foram assinados exatamente na cidade de Oslo.

O islamismo e a cultura islâmica começaram a se espalhar a partir do século VII, em destaque no Oriente Médio e na região norte da África. A Indonésia, país localizado no Sudeste Asiático e de maioria javanesa é uma exceção, apresentando o maior número de adeptos da religião islâmica em todo o mundo. O Islamismo possui o Alcorão como livro sagrado, que realiza uma interpretação particular para uma série de acontecimentos históricos e míticos que cristãos e judeus consolidaram em suas crenças e acrescenta os ensinamentos de Maomé, mentor e maior profeta do Islã. Fundamentalmente, o Islamismo possui duas divisões: os sunitas, que representam 90% dos islâmicos do mundo, e os xiitas, maioria em países como Irã, Iraque e Barein. Os pilares da fé islâmica residem no Alcorão e na figura do profeta Maomé, principal alvo das provocações do filme. Longe de motivar a intolerância, o Islamismo acaba sofrendo a interpretação de lideranças fundamentalistas e regionais, que fomentam a violência, principalmente em localidades onde ocorrem desigualdades sociais e disputas territoriais.

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As possíveis relações entre os atos extremos

Podemos organizar os atentados terroristas realizados no século XXI em três grupos: o terrorismo de Estado, realizado por um Estado de fato contra minorias ou contra outras nações; os ataques relacionados a separatismos e delimitação de fronteiras; e os ataques realizados em torno de ideais nacionalistas, fanatismo religioso e demais motivações simbólicas. Neste último grupo, podemos identificar os ataques organizados por grupos terroristas altamente organizados e o extremismo realizado por indivíduos que compartilham algum tipo de ideologia. É aí que o ataque na Noruega está inserido e, até o presente momento, apenas uma pessoa está relacionada com o seu planejamento e ação. Assim como a reação de revolta de muitos adeptos do islamismo ao redor do mundo com relação ao vídeo sobre o profeta Maomé, cuja violência tem sido estimulada por direções radicais islâmicas e por organizações como Al Qaeda, Hezbolah e Hamas. 

Uma das explicações para esse tipo de terrorismo é a necessidade de fortalecimento das tradições e valores simbólicos, o que é muito comum em momentos de crises econômicas e políticas. Essas manifestações se apoiam no princípio básico de sobrevivência, contornado por valores morais, religiosos ou não. Entre a Al Qaeda e o empresário norueguês há um abismo de diferenças étnicas, históricas e geográficas. Mas, em comum, há um sentimento de autoafirmação cultural diante de uma falta de capacidade (ou habilidade) de gerir e de adaptar-se aos fluxos globais de informação que atravessam uma fase espetacular de velocidade e quantidade. Por fim, uma consideração muito simples: em algum momento da história recente da humanidade os europeus aceitaram os islâmicos ou os árabes aceitaram a interferência política ocidental?


Júlio César Lázaro da Silva
Colaborador Brasil Escola
Graduado em Geografia pela Universidade Estadual Paulista - UNESP
Mestre em Geografia Humana pela Universidade Estadual Paulista - UNESP

Escritor do artigo
Escrito por: Júlio César Lázaro da Silva Escritor oficial Brasil Escola

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SILVA, Júlio César Lázaro da. "Atos extremos: os atentados na Noruega e a violência provocada pelo vídeo que critica Maomé"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/geografia/as-relacoes-entre-atos-extremos-os-atentados-terroristas.htm. Acesso em 19 de março de 2024.

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