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Questão da Crimeia

A questão atual da Crimeia decorre das consequências do aprofundamento da crise na Ucrânia, que levou à anexação deste território pela Rússia em 2014.

A importância estratégica do território da Crimeia está no cerne das disputas geopolíticas entre Rússia e Ucrânia.
A importância estratégica do território da Crimeia está no cerne das disputas geopolíticas entre Rússia e Ucrânia.
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Questão da Crimeia é uma forma de se referir ao conflito geopolítico travado entre a Ucrânia e a Rússia por meio do qual se disputa a soberania do território da península da Crimeia. Trata-se de uma república autônoma da Ucrânia que foi anexada pela Rússia em 2014, fato que gerou o conflito na região e que perdura até hoje.

A crise na Crimeia foi motivada pela deposição do presidente ucraniano alinhado às políticas russas, seguida de um referendo na península que aprovou a sua união com a Rússia. A anexação segue não sendo reconhecida por Kiev e nem pela comunidade internacional.

Leia também: Quais as causas dos conflitos de Danfur, no Sudão?

Tópicos deste artigo

Resumo sobre a questão da Crimeia

  • A questão da Crimeia é geopolítica e se refere ao conflito entre a Ucrânia e a Rússia pelo domínio sobre a península situada no mar Negro.

  • A posição geográfica da Crimeia lhe confere grande importância estratégica.

  • A crise na Crimeia teve início com a crise política na Ucrânia em 2013, incluindo um referendo realizado na península a respeito da sua anexação ao território russo.

  • Após a aprovação do referendo, a Rússia ocupou a Crimeia em março de 2014.

  • A Ucrânia e a comunidade internacional, através da ONU, não reconhecem a agregação do território à Rússia.

  • Esse conflito é um dos motivos pelos quais houve uma escalada de tensão entre Rússia e Ucrânia em 2021 e 2022.

O que é a questão da Crimeia?

A questão da Crimeia é a disputa geopolítica travada entre Ucrânia e Rússia pelo domínio da Crimeia, península localizada na região do mar Negro, no Leste Europeu. O conflito entre os países advém de um passado não muito distante e abrange aspectos étnico-culturais da população que vive na Crimeia e, sobretudo, a importância estratégica que a península apresenta para ambas as nações e para a região como um todo.

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Contexto histórico da questão da Crimeia

A Crimeia é uma república semiautônoma localizada no mar Negro, banhada a nordeste pelo mar de Azov. Logo, a Crimeia é uma península situada ao sul da Ucrânia e a sudoeste da Rússia.

O território já integrou domínios como o Império Otomano e a Horda Dourada, além de ter se tornado um dos principais entrepostos comerciais europeus no século XIII. Os tártaros estabeleceram o Canato da Crimeia no oeste da península durante o século XV, embora os períodos subsequentes tenham sido marcados pelo domínio do Império Otomano.

No século XVIII, a expansão do território da Rússia fez surgir uma série de conflitos entre turcos e russos que se davam pelo controle do mar Negro e, por conseguinte, da península da Crimeia. As disputas perduraram até meados do século XIX, na batalha que ficou conhecida como Guerra da Crimeia (1853–1856), envolvendo outros territórios e Estados, como:

  • França;

  • Grã-Bretanha;

  • Reino da Sardenha, que corresponde hoje à Itália.

Nesse ínterim, em 1783, a imperatriz Catarina II anexou a Crimeia ao Império Russo e estabeleceu a sua base naval na cidade de Sevastopol, situada no sul da península. Atualmente, a Frota do Mar Negro, como é denominada essa unidade estratégica de defesa da marinha russa, pode ser apontada como um dos motivos que fez escalar a tensão entre Ucrânia e Rússia pelo domínio da região.

A Crimeia foi declarada uma nação independente por um breve período, algo que decorreu do fim do Império Russo em 1917. Entretanto, ela foi incorporada novamente à Rússia e, mais tarde, à União Soviética como uma república autônoma, adotando, em 1921, a denominação de República Autônoma Socialista Soviética da Crimeia.

Entre 1944 e o fim da Segunda Guerra Mundial, milhares de tártaros foram deportados da península sob a alegação de terem colaborado com os nazistas durante o conflito. Hoje, esse grupo constitui uma das minorias étnicas que vivem na Crimeia. Outra medida implantada ainda após o final da Segunda Guerra foi a conversão da península em uma província, ou oblast, da então Federação Russa. Com isso, a Crimeia perdeu temporariamente a sua autonomia.

Nikita Kruschev, líder da União Soviética, realizou a transferência da Crimeia para o território da Ucrânia no ano de 1954 em uma medida de caráter simbólico e estratégico simultaneamente, firmando os laços de amizade com a nação vizinha. É importante lembrar, entretanto, que a base naval russa permanecia instalada no sul da península.

O fim da União Soviética e a independência da Ucrânia em 1991 reacenderam as tensões na região e, em 1994, a assinatura do Memorando de Budapeste pela Ucrânia, Reino Unido, Estados Unidos e Rússia assegurou os limites territoriais da Ucrânia e, por conseguinte, a segurança daquele país. Além disso, o memorando garantiu a permanência da Crimeia no território ucraniano. Em contrapartida, a Ucrânia aderiu ao Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP).

Saiba mais: Guerra Fria — a disputa entre EUA e URSS pela hegemonia mundial

Quais as causas da crise na Crimeia?

O desencadeamento da crise na Crimeia se deu por uma série de motivos, muitos dos quais estão baseados na conjuntura política ucraniana na primeira metade da década de 2010. À época, estavam em andamento negociações para que a Ucrânia formalizasse um acordo de livre-comércio com a União Europeia, estreitando assim os laços do país com o bloco econômico. Ocupava o cargo de presidente Viktor Yanukovich, político ucraniano conhecido pelo seu posicionamento favorável à Rússia e às políticas de Moscou.

No ano de 2013, Yanukovich suspendeu os diálogos com a União Europeia e promoveu maior aproximação com a Rússia, suscitando assim a reação imediata da população, que tomou as ruas da Ucrânia em forma de protesto. As demandas populares foram negadas por Yanukovich, mas o presidente ucraniano que apoiava a Rússia foi deposto do cargo em 2014, no dia 22 de fevereiro, pelo parlamento ucraniano, um mês após uma reação violenta do governo aos manifestantes.

Poucos dias após a deposição de Yanukovich, um comando pró-Rússia assumiu o parlamento da Crimeia, medida que não foi formalmente reconhecida pela Ucrânia. A maioria da bancada do parlamento votou de forma favorável à desvinculação do território da Crimeia em relação à Ucrânia e também a uma nova anexação à Rússia.

Em março de 2014, um referendo aprovou a anexação da Crimeia ao território russo por uma maioria de 96,7%, entre 1,2 milhão de eleitores|1|. Cabe destacar que a população da Crimeia é majoritariamente russa (cerca de 60% do total de habitantes), além de haver uma estreita relação histórica e étnico-cultural entre esses territórios.

Bandeira da Crimeia formada por mosaico de mãos levantadas em alusão à votação do referendo de anexação à Rússia.
Referendo na Crimeia decidiu pela anexação à Rússia. O resultado, entretanto, foi alvo de contestações.

Destaca-se que alguns anos antes, Viktor Yanukovich e Vladimir Putin, presidente russo, assinaram um acordo pela permanência da base naval de Sevastopol sob o domínio da Rússia. O documento prevê o controle da unidade até 2042. Em troca, a Ucrânia receberia o equivalente a 40 bilhões de dólares pela redução do preço do gás proveniente da Rússia|2|.

Crise na Crimeia

A crise da Crimeia se concretizou com a anexação da península ao território da Rússia, em março de 2014, logo após o referendo realizado na região e mediante a formalização do pedido pelo parlamento da Crimeia. Antes da oficialização, a Rússia já havia enviado tropas para a península alegando proteção aos cidadãos russos no caso de uma escalada interna de conflitos.

O presidente da Rússia fez um pronunciamento a respeito da incorporação da Crimeia, alegando que a península sempre pertenceu ao território russo, se referindo ainda a uma ideia de pertencimento da população ao mencionar que “a Crimeia sempre foi parte da Rússia nos corações e mentes das pessoas”.|3|

A anexação não foi reconhecida pela Organização das Nações Unidas (ONU), que considera a Crimeia um território ucraniano e aponta ainda para a não validade do referendo de março de 2014.

Qual a importância estratégica da Crimeia?

A importância estratégica da Crimeia se deve principalmente à sua posição geográfica. A península representa uma via de acesso ao mar Negro a partir do mar de Azov, que banha o sudoeste do território russo e parte da Ucrânia. Trata-se de uma área de águas quentes que favorece o transporte marítimo tanto para fins comerciais quanto de defesa territorial por parte da Rússia, que já controla uma unidade militar na cidade de Sevastopol.

A Crimeia apresenta também importância econômica e cultural para a Rússia e Ucrânia. A região é uma grande produtora de grãos, alimentos e bebidas como o vinho. Os portos marítimos localizados na península são ainda responsáveis pelo escoamento e distribuição de parte da produção agropecuária dos países vizinhos para outras nações europeias, além de serem utilizados para a importação de mercadorias e matérias-primas, em especial pela Ucrânia.

Quais as consequências da questão da Crimeia?

A questão da Crimeia gerou uma crise diplomática entre a Rússia e países do Ocidente, alguns dos quais impuseram sanções aos russos, como é o caso dos Estados Unidos e do bloco econômico da União Europeia.

A Comissão Europeia e os Estados Unidos destinaram verbas à Ucrânia como forma de auxílio, reforçando sua posição contrária à anexação da Crimeia pela Rússia. A questão gerou ainda uma tensão permanente entre a Rússia e a Ucrânia que já se estende por oito anos e, mais recentemente, desentendimento entre russos e a Otan.

Internamente, a legislação russa passou a vigorar na Crimeia em detrimento das leis da Ucrânia, embora, de acordo com o direito internacional, a península seja parte do território ucraniano, cujas leis deveriam ser válidas na Crimeia.

Muitos ucranianos, tártaros e pessoas de outras etnias deixaram o território da Crimeia, provocando um intenso fluxo emigratório. No sentido inverso, cidadãos russos migraram para a península e hoje representam 67% da população local.

Outras mudanças também aconteceram:

  • A moeda ucraniana, grivnia, foi gradualmente substituída pelo rublo.

  • O fuso horário oficial foi alterado, passando para o de Moscou.

→ Crise na Ucrânia gerada pela questão da Crimeia

Uma das consequências da questão da Crimeia é a crise na Ucrânia. Essa crise começou ainda em 2013, com a suspensão das negociações com a União Europeia, e foi aprofundada com a anexação da Crimeia pela Rússia e pelo apoio russo aos grupos separatistas no leste do território ucraniano, local onde ocorreu a Guerra de Donbass.

Manifestantes em Nova York pedindo que os Estados Unidos prestem apoio à Ucrânia devido à possível invasão russa.
Nos Estados Unidos, pessoas contrárias ao governo de Putin demonstraram suporte à Ucrânia no contexto do conflito entre Rússia e Ucrânia. [1]

Em 2021, a Rússia posicionou suas tropas próximo à fronteira com a Ucrânia, e fala-se em uma potencial invasão russa e até mesmo em uma guerra entre as duas nações, que colocaria em risco a segurança de toda a Europa e traria consequências para todo o mundo, sobretudo na esfera econômica. Houve uma intensa reação da comunidade internacional, em especial da Otan, com os Estados Unidos à frente, e da União Europeia, e há grande pressão para a resolução do conflito por vias diplomáticas.

Saiba também: Conflitos entre Israel e Palestina — embates que tiveram início no século XIX

Crimeia na atualidade

Atualmente, a Crimeia continua sendo um foco de disputas territoriais entre a Rússia e a Ucrânia, sendo ainda considerada uma república autônoma da Rússia. A Ucrânia, entretanto, reforça o pertencimento da península ao seu território e luta pela sua retomada.

Sobre a vida na península, os relatos são bastante divergentes entre aqueles que descrevem uma melhoria significativa na qualidade de vida e nos salários e outros que veem a sua piora.

Em 2019, uma ponte ferroviária foi inaugurada entre a península e o território russo na região do Estreito de Kerch, situado a leste da Crimeia e que separa fisicamente as duas áreas. A União Europeia interpretou a medida como uma violação à soberania ucraniana, visto que a anexação não foi reconhecida pela Ucrânia e nem pela comunidade internacional|4|.

Exercícios resolvidos sobre a questão da Crimeia

Questão 1

(Uerj)

Rússia formaliza anexação da Crimeia

A Rússia anexou formalmente a península da Crimeia a seu território, depois de um duro discurso do presidente Vladimir Putin em meio a pesadas críticas aos EUA, à União Europeia e ao governo interino da Ucrânia. Nesse discurso que antecedeu a assinatura da anexação da Crimeia, Putin destacou a questão como vital para os interesses russos. Segundo ele, o Ocidente “cruzou uma linha vermelha” ao interferir na Ucrânia. “A Crimeia sempre foi e é parte inseparável da Rússia”, declarou o presidente.

(Adaptado de estadao.com.br, 18/03/2014)

O evento abordado na reportagem está simultaneamente associado ao presente e ao passado dos povos envolvidos. Para explicar essa ação russa em relação à Crimeia, são fundamentais os seguintes interesses do atual governo Putin:

A) superar o pan-eslavismo – reduzir a diversidade étnica.

B) estimular a economia – ampliar a produção energética.

C) combater a corrupção – reconstruir a geopolítica global.

D) reforçar o nacionalismo – consolidar a geoestratégia militar.

Resolução:

Alternativa D

A Crimeia representa um território estratégico do ponto de vista militar russo, considerando a sua posição geográfica. Além disso, no passado, a península fez parte do território da Rússia, e uma parte da população que lá vive é de origem russa e falante do idioma, o que amplia o interesse nacionalista da Rússia sobre a Crimeia.

Questão 2

(Enem 2020 digital)

Entenda a crise na Ucrânia

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, e dois líderes da Crimeia assinaram, em março de 2014, um acordo para tornar a República Autônoma parte da Rússia. O tratado foi assinado dois dias após o povo da Crimeia aprovar em um referendo a separação da Ucrânia e a reunificação com a Rússia. A votação foi condenada por Kiev e pela comunidade internacional, que a considera ilegítima.

Disponível em: http://g1.globo.com. Acesso em: 28 out. 2014 (adaptado).

A justificativa para o acordo descrito fundamentava-se na ideia de

A) espaço vital.

B) limite fronteiriço.

C) estrutura bipolar.

D) identificação cultural.

E) autonomia econômica.

Resolução:

Alternativa D

A identificação cultural é uma das justificativas do acordo assinado para a anexação da Crimeia, tendo em vista que grande parte da população da península é de origem russa.

Crédito de imagem

[1] Ben Von Klemperer / Shutterstock

Notas

|1| Redação. Resultado final aponta 96,8% dos crimeios a favor da união à Rússia. G1, 17 mar. 2014. Disponível aqui. Acesso em 07 fev. 2022.

|2| TREVIÑO, José Maria. A Crimeia e a frota russa no Mar Negro. El País Brasil, 02 mar. 2014. Disponível aqui. Acesso em 07 fev. 2022.

|3| Redação. Putin: ‘Crimeia sempre foi parte da Rússia’. Veja, 18 mar. 2014. Disponível aqui. Acesso em 07 fev. 2022.

|4| Redação. Putin abre ponte ferroviária para a Crimeia. DW, 23 dez. 2019. Disponível aqui. Acesso em 07 fev. 2022.

 

Por Paloma Guitarrara
Professora de Geografia

Escritor do artigo
Escrito por: Paloma Guitarrara Licenciada e bacharel em Geografia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e mestre em Geografia na área de Análise Ambiental e Dinâmica Territorial também pela UNICAMP. Atuo como professora de Geografia e Atualidades e redatora de textos didáticos.

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

GUITARRARA, Paloma. "Questão da Crimeia"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/geografia/a-importancia-estrategica-crimeia.htm. Acesso em 19 de março de 2024.

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