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Água de lastro e suas ameaças em potencial

O Brasil movimenta aproximadamente 80 milhões de toneladas de água de lastro, anualmente
O Brasil movimenta aproximadamente 80 milhões de toneladas de água de lastro, anualmente
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Para que os navios cargueiros naveguem em segurança quando estão sem ou com pouca carga, e para que mantenham suas hélices propulsoras submersas, é utilizado um peso líquido em tanques localizados nos porões destes – a água de lastro. Ela garante a estabilidade do veículo, evitando danos, inclusive impedindo que o navio parta ao meio ou mesmo naufrague em casos de tempestades.

A água de lastro é coletada em portos e estuários de forma inversamente proporcional à quantidade de carga, ou seja: quanto menos carga, mais água de lastro! Assim, ao ser descarregado, o navio enche seus porões com a água do litoral onde se encontra e, ao serem estocadas novas mercadorias, esta água é despejada.

Assim, a água de lastro pode causar problemas ambientais e de saúde pública, uma vez que pode conter esgoto e materiais tóxicos, além de espécies animais e vegetais endêmicas. Essas últimas, como não têm predadores naturais, podem se reproduzir rapidamente e competir com espécies nativas. Bacilos ou outras formas de organismos patogênicos também podem ser carregados de uma região para outra junto com a água de lastro despejada no mar.

Como o tráfego marinho de navios cargueiros é significante, inclusive em rotas internacionais, essa água pode espalhar contaminantes para o mundo inteiro, já que são movimentadas, por ano, aproximadamente 10 bilhões de toneladas de água de lastro no mundo e, no Brasil, aproximadamente 80 milhões anuais (sendo que, em nosso país, cerca de 95% do comércio exterior acontece por via marítima).

Em 2001, a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) iniciou um estudo que detectou que em 71% das amostras de água de lastro de navios de cinco portos do país havia bactérias marinhas, inclusive a presença de bacilos do Vibrio cholerae O1 – causador da cólera humana, o qual sobrevive até 26 dias na água do mar, até 19 na água doce e até 12 no esgoto.

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A presença desses organismos pode comprometer ecossistemas e a vida humana, caso cheguem até as praias ou caso os moluscos e frutos do mar capturados nas regiões de despejo da água de lastro sejam consumidos. Acredita-se que a cólera tenha sido introduzida no Brasil, em 1991, via água de lastro proveniente do Peru.

Além destes vibriões, já foram encontrados em amostras de água de lastro: enterococos intestinais e Escherichia coli.

Órgãos como o Ministério da Saúde, Ministério do Meio Ambiente, Fundação Nacional de Saúde, Organização Marítima Internacional, Organização Mundial da Saúde e ANVISA estão realizando estudos sobre o tema, inclusive em âmbito mundial. O Globallast (sigla em inglês do Programa de Gerenciamento Global de Água de Lastro) busca estratégias e formas de assistir este problema, principalmente nos países emergentes.

A Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável aprovou, em 2008, uma proposta que obriga os navios a inspecionarem a água de lastro. O plano de gerenciamento inclui processos para remover, tornar inofensiva ou evitar a captação ou a descarga de organismos aquáticos nocivos e agentes causadores de doença encontrados na água ou nos sedimentos e, ainda, exige que as autoridades marítimas especifiquem e proíbam o despejo de água de lastro em locais próximos à descarga de esgotos, lugares em que a maré turbilhona sedimentos e sistemas ecologicamente sensíveis.

Por Mariana Araguaia
Graduada em Biologia

Escritor do artigo
Escrito por: Mariana Araguaia Escritor oficial Brasil Escola

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

ARAGUAIA, Mariana. "Água de lastro e suas ameaças em potencial"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/biologia/sgua-lastro-suas-ameacas-potencial.htm. Acesso em 29 de março de 2024.

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