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Darcy Ribeiro

Darcy Ribeiro – antropólogo, escritor, político e sociólogo brasileiro – é um dos principais intelectuais de nosso país.

Imagem de Darcy Ribeiro ao lado de outros homens
Um dos principais intelectuais do Brasil, Darcy Ribeiro, enquanto político, defendeu a educação.[1]
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Darcy Ribeiro – antropólogo, sociólogo, professor, escritor, indigenista e político – foi uma das mentes mais brilhantes de nosso país. No início de sua carreira, enquanto antropólogo, Darcy Ribeiro dedicou-se a estudar a cultura indígena, tendo prestado serviços como indigenista ao Serviço de Proteção ao Índio.

Na década de 1960, Ribeiro participou do governo de João Goulart, ficando à frente de dois ministérios (Casa Civil e Educação). Na década de 1980, com a anistia e o fim da ditadura civil-militar brasileira, o sociólogo ingressou na carreira política, tendo atuado em defesa da educação pública e de qualidade, sendo considerado hoje uma referência em políticas públicas educacionais no Brasil.

Leia também: Paulo Freire – educador brasileiro de renome internacional

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Biografia de Darcy Ribeiro

O mineiro Darcy Ribeiro nasceu na cidade de Montes Claros, no dia 26 de outubro de 1922. Ele estudou na primeira (e ainda única de sua época) faculdade de Ciências Sociais no Brasil, a Escola de Sociologia e Política de São Paulo, vinculada à Universidade de São Paulo (USP). Darcy Ribeiro formou-se antropólogo em 1946 e, entre 1947 e 1956, trabalhou para o Serviço de Proteção ao Índio, que atualmente corresponde à Fundação Nacional de Apoio ao Índio (Funai).

No ano de 1948, Ribeiro casou-se com Berta Gleizer Ribeiro, antropóloga e etnóloga de grande importância na construção da antropologia brasileira. Berta Gleizer foi figura importante para a constituição da obra antropológica de Darcy Ribeiro (e vice-versa), pois ambos partiram para estudos etnológicos de campo até 1956, estudando a cultura indígena e oferecendo apoio às aldeias no Brasil. Em 1974, os dois separaram-se durante o exílio imposto pela ditadura, quando se encontravam no Chile.

  • Início da carreira política de Darcy Ribeiro

A carreira política de Darcy Ribeiro iniciou-se na década de 1960, quando ele participou do curto governo do presidente João Goulart, estando à frente dos ministérios da Casa Civil e, posteriormente, da Educação. Como ministro da Educação, o sociólogo brasileiro participou da fundação da Universidade de Brasília (UnB).

Um dos principais intelectuais do Brasil, Darcy Ribeiro, enquanto político, defendeu a educação.[1]
Um dos principais intelectuais do Brasil, Darcy Ribeiro, enquanto político, defendeu a educação.[1]

Em 1964, um golpe impôs uma ditadura civil-militar no Brasil. A nova organização política imposta pelo golpe militar resultou na prisão e exílio de muitos intelectuais, artistas e políticos, como o casal Darcy Ribeiro e Berta Gleizer, que foram presos e exilados, indo viver, primeiramente, no Uruguai.

Entre 1964 e 1968, Darcy escreveu e Berta editou Antropologia da Civilização, obra em cinco volumes (O processo Civilizatório, As Américas e a Civilização, O Dilema da América Latina e Os Brasileiros, dividido em Teoria do Brasil e Os Índios e a Civilização), uma obra antropológica e crítica que narra o nascimento do que se chama “civilização” no Brasil e no continente americano a partir da chegada dos colonizadores.

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A situação no Brasil começou a piorar no fim do ano de 1968, meses depois de Darcy Ribeiro voltar para cá. Nesse ano foi promulgado o Ato Institucional número 5, uma medida ditatorial que suspendeu de vez os direitos constitucionais dos brasileiros. Darcy Ribeiro participou, na ocasião, de um grande movimento contra a ditadura e o AI-5, a Passeata dos Cem Mil. O sociólogo foi preso, passou nove meses no cárcere, quando Berta e outros intelectuais iniciaram um movimento de soltura de Darcy.

Quando o intelectual finalmente foi liberto, ele e Berta partiram para um segundo exílio, passando pela Venezuela, Chile e Peru. No Chile, Darcy estabeleceu-se durante um tempo como prestador de serviços em assuntos educacionais para o governo do presidente chileno Salvador Allende.

O retorno definitivo de Darcy Ribeiro ao Brasil ocorreu no ano de 1976, quando se iniciou o processo de anistia aos presos políticos no Brasil. Em seu retorno, Ribeiro filiou-se ao Partido Democrata Brasileiro (a partir da década de 1980, os partidos políticos de oposição foram liberados), um tradicional partido de esquerda. Desde antes da ditadura, Darcy Ribeiro considerava-se um comunista convicto, recorrendo ao materialismo histórico dialético de Marx em diversos momentos em sua obra.

  • Aliança com Leonel Brizola

Em 1982, Darcy Ribeiro concorreu – e venceu – ao cargo de vice-governador do Rio de Janeiro na chapa liderada por Leonel Brizola. A participação como vice de Brizola não se limitava à espera de que a chance de governar aparecesse, pois Darcy atuou ativamente na implementação de um programa de educação inédito: os Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs) no Rio de Janeiro, que eram escolas de tempo integral.

Essas escolas, tão evitadas no passado por governantes e tão defendidas hoje, ofereciam educação em tempo integral e gratuita para crianças e adolescentes de baixa renda. Os alunos tinham aulas das disciplinas regulares no período da manhã e, no contraturno, recebiam reforço escolar, formação técnica profissional, educação artística e iniciação esportiva.

O Memorial Darcy Ribeiro está localizado na Universidade de Brasília, instituição da qual o sociólogo participou da fundação. [3]
O Memorial Darcy Ribeiro está localizado na Universidade de Brasília, instituição da qual o sociólogo participou da fundação. [3]

Os CIEPs eram inovadores. Alguns deles atuavam como casas de acolhimento de crianças de rua. A alimentação durante o período em que as crianças estavam na instituição era fornecida pelo governo estadual, e a arquitetura dos prédios foi desenvolvida pelo renomado arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer, que projetou vários prédios tombados como patrimônio arquitetônico da humanidade, como o conjunto de monumentos do eixo central de Brasília.

Na segunda gestão de Leonel Brizola, Darcy Ribeiro atuou como secretário da Cultura do Rio de Janeiro, construindo o Sambódromo do Rio de Janeiro (Marquês de Sapucaí), que servia ao desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro durante o carnaval e era um CIEP durante o restante do ano.

Os governos estaduais sucessores à reeleição de Brizola foram deixando os CIEPs sem investimento e abandonando o projeto de escola de tempo integral. Os CIEPs tornaram-se escolas comuns da rede estadual de ensino, e o projeto de Darcy Ribeiro foi completamente modificado. Vale lembrar uma fala do sociólogo durante a campanha de Brizola de 1982 na qual afirmou: “se os governantes não construírem escolas, em 20 anos faltará dinheiro para construir presídios”. Mais que um alerta, a fala de Darcy Ribeiro era uma previsão que se tornou realidade.

  • Últimos anos de Darcy Ribeiro

Dando continuidade a sua carreira política, Darcy Ribeiro elegeu-se Senador da República, iniciando um histórico de luta pela garantia da educação pública em nosso país. Com a necessidade de se repensar a educação pública brasileira imposta pela Constituição Federal de 1988, vários políticos e intelectuais engajaram-se em um movimento de criar uma nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB). Darcy Ribeiro foi um desses pensadores que participaram da criação da nova LDB, a Lei 9.394, promulgada em 1996.

Em 1992, o antropólogo brasileiro foi nomeado como imortal da Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira de número 11. Reconhecido por sua obra e sua atuação política em defesa da educação e contra a desigualdade social, Darcy Ribeiro foi agraciado com doutorados honoríficos chancelados por universidades como Sorbonne, Universidade de Copenhague, Universidade do Uruguai e a Universidade de Brasília, instituição em que teve especial atuação na sua fundação.

Darcy Ribeiro faleceu no dia 17 de fevereiro de 1997 devido a complicações causadas por um câncer contra o qual ele lutava desde 1995.

Veja também: Florestan Fernandes – importante cientista social brasileiro

O Povo Brasileiro

O Povo Brasileiro é o título do último e mais completo livro de Darcy Ribeiro sobre a sociedade brasileira. De maneira visionária, Ribeiro conseguiu traduzir a cultura brasileira, que, ao mesmo tempo em que é diversificada, possui uma unidade, que é justamente a diversidade. Descendentes de indígenas nativos, colonizadores europeus e africanos escravizados, carregamos em nossa formação cultural a origem desses três povos, ao mesmo tempo em que sintetizamos, em nossa cultura, os elementos deixados por esses povos.

A maioria dos estudos antropológicos tendia a separar os elementos culturais de nossa formação, mas Darcy Ribeiro foi além ao conciliar todas as nossas raízes culturais, que começam desde os primeiros habitantes das terras brasileiras, há mais de dez mil anos, e finda nos dias atuais, com a presença de outras matrizes culturais diversas.

A unidade cultural do Brasil existe e está, paradoxalmente, assentada na multiplicidade. É isso que nos torna um país de cultura miscigenada, variada e bela. Do norte ao sul, do acarajé ao pequi, do samba ao xaxado, o nosso país possui uma vasta gama de diferentes manifestações culturais, que incluem a culinária, a música, a literatura, a religião, as vestimentas, os sotaques e outras mais variações que nos tornam um povo único (com uma unidade cultural) e singular (por sermos tão diversificados, diferentemente da maioria dos outros países ao redor do mundo).

Acesse também: Sérgio Buarque de Holanda – outro grande teórico das origens culturais brasileiras

Leonel Brizola e Darcy Ribeiro

Leonel Brizola foi um dos mais destacados políticos do espectro da esquerda brasileira. [3]
Leonel Brizola foi um dos mais destacados políticos do espectro da esquerda brasileira. [3]

O único político brasileiro a governar dois estados distintos por meio de eleições democráticas, Brizola era um comunista democrata convicto. O político gaúcho foi uma das lideranças mais importantes da esquerda brasileira na luta contra a ditadura militar, participando incisivamente do movimento pela redemocratização do Brasil enquanto era governador do Rio de Janeiro, na década de 1980.

Brizola foi um dos fundadores do PDT (Partido Democrata Brasileiro), no qual Ribeiro se filiou na década de 1980. Candidatou-se à presidência do Brasil em 1989, na histórica primeira eleição democrática direta após a ditadura e após a promulgação da atual Constituição.

Darcy Ribeiro e Leonel Brizola conheceram-se ainda na década de 1960, foram juntos para o exílio no Uruguai em 1964, mas firmaram amizade apenas a partir da década de 1980, quando começaram a trabalhar juntos no ambiente político. Darcy Ribeiro foi vice-governador da chapa para o governo do Rio de Janeiro liderada por Brizola e foi secretário de Cultura do segundo governo do político pedetista.

Créditos das imagens

[1] Arquivo Central da Universidade de Brasília / Commons

[2] Ebm.9 / Commons

[3] Ana Nascimento/ABr / Commons

 

Por Francisco Porfírio
Professor de Filosofia

Escritor do artigo
Escrito por: Francisco Porfírio Escritor oficial Brasil Escola

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

PORFíRIO, Francisco. "Darcy Ribeiro"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/biografia/darci-ribeiro.htm. Acesso em 28 de março de 2024.

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