Notificações
Você não tem notificações no momento.
Whatsapp icon Whatsapp
Copy icon

Dias Gomes

Dias Gomes, membro da Academia Brasileira de Letras, marcou a história da dramaturgia brasileira com obras que ousaram na crítica e na ironia à política e à sociedade vigentes.

Imprimir
Texto:
A+
A-
Ouça o texto abaixo!

PUBLICIDADE

Dias Gomes, membro da Academia Brasileira de Letras, é autor de uma vasta obra, incluindo:

  • textos teatrais
  • contos
  • novelas
  • minisséries para a TV

Extremamente crítica e contestadora, muitas de suas obras foram censuradas pela Ditadura Militar brasileira, pois seu teor confrontava e ridicularizava o autoritarismo, ao passo que também ousava em relação à representação dos costumes sociais da época.

Leia também: Ariano Suassuna – um dos expoentes literários da cultura nordestina

Dias Gomes é um dos mais importantes dramaturgos brasileiros.
Dias Gomes é um dos mais importantes dramaturgos brasileiros.

Tópicos deste artigo

Biografia de Dias Gomes

Alfredo de Freitas Dias Gomes, conhecido como Dias Gomes, foi romancista, contista e teatrólogo. Filho do engenheiro Plínio Alves Dias Gomes e de Alice Ribeiro de Freitas Gomes, nasceu em Salvador, Bahia, em 19 de outubro de 1922. Fez o curso primário no Colégio Nossa Senhora das Vitórias, dos Irmãos Maristas, e iniciou o secundário no Ginásio Ipiranga. Em 1935, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, onde prosseguiu o curso secundário no Ginásio Vera Cruz e posteriormente no Instituto de Ensino Secundário.

Muito precoce, escreveu seu primeiro conto quando tinha 10 anos de idade e sua primeira peça teatral quando tinha 15 anos. Essa peça, intitulada A comédia dos moralistas, foi vencedora do concurso literário promovido pelo Serviço Nacional de Teatro e pela União Nacional dos Estudantes (UNE). Fez o curso preparatório para o curso de Engenharia em 1940 e, no ano seguinte, para o curso de Direito. Em 1943, ingressou na Faculdade de Direito do Estado do Rio, abandonando-a quando estava no terceiro ano de faculdade.

Em 1942 estreou no teatro profissional com a comédia Pé-de-cabra, encenada no Rio de Janeiro e depois em São Paulo por Procópio Ferreira, com que viajou por todo o país. Posteriormente, assinou contrato de exclusividade para a montagem de várias peças com Procópio Ferreira.

Em 1944, trabalhou na Rádio Pan-Americana, em São Paulo, fazendo adaptações de peças, romances e contos para o "Grande Teatro Pan-Americano". Nessa mesma época, além de teatro, passou a escrever romances. Regressou, em 1948, ao Rio de Janeiro, onde passou a trabalhar em importantes rádios, como Rádio Tupi e Rádio Tamoio (1950), Rádio Clube do Brasil (1951) e Rádio Nacional (1956).

Casou-se, em 1950, com Janete Emmer (Janete Clair), autora de telenovelas, com quem teve cinco filhos. Em fins de 1953, viajou à União Soviética com uma delegação de escritores, para as comemorações do 1º de Maio. Ao voltar ao Brasil, como represália, foi demitido da Rádio Clube, além de que seu nome foi incluído em uma espécie de "lista negra".

Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)

Em 1959, escreveu a peça O pagador de promessas, obra que deu a Dias Gomes projeção nacional e internacional. A peça, traduzida para mais de uma dúzia de idiomas, foi encenada em praticamente todo o mundo. Adaptada pelo próprio autor para o cinema, O pagador de promessas, dirigido por Anselmo Duarte, recebeu, em 1962, a Palma de Ouro no Festival de Cannes.

Em 1964, em razão da vigência do Ato Institucional nº 1, Dias Gomes foi demitido da Rádio Nacional. Após esse fato, participou de diversas manifestações contra a censura e em defesa da liberdade de expressão. Várias de suas peças foram censuradas durante a vigência do regime militar, como as peças:

  • O berço do herói
  • A revolução dos beatos
  • O pagador de promessas
  • A invasão
  • Roque Santeiro
  • Vamos soltar os demônios ou Amor em campo minado

Fez parte do conselho de redação da Revista Civilização Brasileira, em 1965. No ano de 1969, foi contratado, para a produção de telenovelas, minisséries e seriados, pela TV Globo, onde também produziu as chamadas telepeças.

Em 1980, em razão da instituição da Anistia, foi reintegrado aos quadros da Rádio Nacional, e peças de sua autoria, como Roque Santeiro, foram liberadas para apresentação. No dia 16 de novembro, faleceu sua esposa.

Em 1984, Dias Gomes casou-se com Maria Bernardete, com quem teve duas filhas. Em 1985, criou e dirigiu, até 1987, a Casa de Criação Janete Clair, na TV Globo. A novela Roque Santeiro foi levada ao ar pela TV Globo, após 10 anos de censura.

Ao longo de sua carreira, Dias Gomes conquistou numerosos prêmios por sua atuação no rádio e por sua obra para teatro, cinema e televisão. Faleceu no dia 18 de maio de 1999, em São Paulo.

Características literárias de Dias Gomes

  • Tom satírico, cômico, humorístico;
  • Crítica à política populista, demagógica e autoritária;
  • Crítica aos costumes moralistas e hipócritas da sociedade brasileira;
  • Ambientação geralmente interiorana.

Veja também: João Cabral de Melo Neto – conhecido como poeta-engenheiro 

Obras de Dias Gomes

  • Romances

  • Duas sombras apenas (1945)
  • Um amor e sete pecados (1946)
  • A dama da noite (1947)
  • Quando é amanhã (1948)
  • Sucupira, ame-a ou deixe-a (1982)
  • Odorico na cabeça (1983)
  • Derrocada (1994)
  • Decadência (1995)
  • Contos

  • “A tarefa ou Onde estás, Castro Alves?” In: Livro de cabeceira do homem, ano I, v. III (Civilização Brasileira, 1967)
  • A tortuosa e longa noite de Emiliano Posada (inédito)
  • Teatro 

  • A comédia dos moralistas (1939)
  • Esperidião (1938)
  • Ludovico (1940)
  • Amanhã será outro dia (1941)
  • Pé-de-cabra (1942)
  • João Cambão (1942)
  • O homem que não era seu (1942)
  • Sinhazinha (1943)
  • Zeca Diabo (1943)
  • Eu acuso o céu (1943)
  • Um pobre gênio (1943)
  • Toque de recolher (revista), em parceria com José Wanderlei (1943)
  • Doutor Ninguém (1943)
  • Beco sem saída (1944)
  • O existencialismo (1944)
  • A dança das horas (inédita), adaptação do romance Quando é amanhã (1949)
  • O bom ladrão (1951)
  • Os cinco fugitivos do Juízo Final (1954)
  • O pagador de promessas (1959)
  • A invasão (1960)
  • A revolução dos beatos (1961)
  • O bem-amado (1962)
  • O berço do herói (1963)
  • O santo inquérito (1966)
  • O túnel (1968)
  • Vargas (Dr. Getúlio, sua vida e sua glória), em parceria com Ferreira Gullar (1968)
  • Amor em campo minado (Vamos soltar os demônios) (1969)
  • As primícias (1977)
  • Phallus (inédita) (1978)
  • O rei de Ramos (1978)
  • Campeões do mundo (1979)
  • Olho no olho (inédita) (1986)
  • Meu reino por um cavalo (1988).
  • Televisão

Telenovelas na TV Globo:

  • A ponte dos suspiros, sob o pseudônimo de Stela Calderón (1969)
  • Verão vermelho (1969/1970)
  • Assim na terra como no céu (1970/1971)
  • Bandeira 2 (1971/1972)
  • O bem-amado (1973)
  • O espigão (1974)
  • Saramandaia (1976)
  • Sinal de alerta (1978/1979)
  • Roque Santeiro (1985/1986)
  • Mandala (1987/1988)
  • Araponga, com Ferreira Gullar e Lauro César Muniz (1990/1991)
  • Minisséries

  • Um tiro no coração, em coautoria com Ferreira Gullar (inédita) (1982)
  • O pagador de promessas (1988)
  • Noivas de Copacabana (1993)
  • Decadência (1994)
  • O fim do mundo (1996)
  • Seriados

  • O bem-amado (1979/1984)
  • Expresso Brasil (1987)
  • Especiais (telepeças) 

  • O bem-amado, em adaptação de Benjamin Cattan, TV Tupi, TV de Vanguarda (1964)
  • Um grito no escuro (O crime do silêncio), TV Globo, Caso Especial (1971)
  • O santo inquérito, em adaptação de Antonio Mercado, TV Globo, Aplauso (1979)
  • O boi santo, TV Globo (1988)
  • A longa noite de Emiliano (inédita), TV Globo.
  • Cinema

  • O pagador de promessas, direção de Anselmo Duarte, Leonardo Vilar, Glória Menezes, Dionísio Azevedo, Geraldo Del Rey, Norma Benguell, Othon Bastos e Antonio Pitanga (1962)
  • O marginal (roteiro), direção de Carlos Manga, com Tarcísio Meira e Darlene Glória (1974)
  • O rei do Rio (adaptação de O rei de Ramos), direção de Bruno Barreto, com Nuno Leal Maia, Milton Gonçalves e Nelson Xavier (1985)
  • Amor em campo minado, direção de Pastor Vera, Cuba (1988)

Acesse também: Lima Barreto – autor pré-modernista que também fazia denúncia social

O bem-amado

Publicada em 1962, a peça O bem-amado é uma sátira à política e aos costumes brasileiros. Ambientada no interior da Bahia, seu enredo gira em torno de Odorico Paraguaçu, ambicioso prefeito de Sucupira, cujo maior feito administrativo foi a construção de um cemitério.

Entrentanto, essa obra torna-se inócua, já que não ocorre nenhuma morte no local há um certo tempo, o que passa a angustiar o populista agente público, já que precisa inaugurar o cemitério por meio do enterro de alguém. Decide, então, encomendar um morto de outra localidade.

A partir daí, a trama sucede-se com tons de humor, ironia, crítica social e política à demagogia político-eleitoreira, característica muito comum nos regimes autoritários, como o implantado pela Ditadura Militar brasileira. Veja um trecho dessa obra em que o prefeito dialoga com sua secretária sobre a frustração por não ocorrer mortes em Sucupira.

DOROTÉA – Não há ninguém doente na cidade?

ODORICO – Em estado de dar esperança, parece que ninguém. Em todo caso, mandei o coveiro fazer uma verificação.

DOROTÉA – Quase todo ano há sempre um veranista que morre afogado.

ODORICO – Este ano o mar está que é uma lagoa. Nunca vi tanto azar.

Academia Brasileira de Letras

Dias Gomes foi eleito imortal da Academia Brasileira de Letras em 11 de abril de 1991. Foi o sexto ocupante da Cadeira 21, vindo a suceder o escritor Adonias Filho. Foi recebido, em sua posse, pelo ilustre acadêmico Jorge Amado, em 16 de julho de 1991.

 

Por Leandro Guimarães
Professor de Literatura

Escritor do artigo
Escrito por: Leandro Guimarães Escritor oficial Brasil Escola

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

GUIMARãES, Leandro. "Dias Gomes"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/biografia/alfredo-freitas-dias.htm. Acesso em 28 de março de 2024.

De estudante para estudante